Feijão Fradinho Vigna unguiculata
Os feijões estão entre os alimentos mais antigos, remontando aos primeiros registros da história da humanidade.
O feijão, aqueles grãozinhos mágicos que tanto adoramos, é a semente de planta de alguns gêneros da família Fabaceae, biologicamente falando. Esta família tem como uma de suas principais características a produção de frutos em forma de vagens. Essas vagens, quando secas, se abrem e permitem que as sementes guardadas caiam no solo dando origem a uma nova planta. O feijão, portanto, é a semente da planta.
Mas, existem inúmeras variedades dessas plantas. Nem todas são comestíveis mas, as que são, oferecem diversidades de sementes e, consequentemente, de uso na gastronomia.
Os cronistas dos primeiros anos de colonização já mencionam a iguaria na dieta indígena, chamado por grupos guaranis ora comanda, ora comaná, ora cumaná, já identificando algumas variações e subespécies. O viajante francês Jean de Léry e o cronista português Pero de Magalhães Gândavo, ainda no século XVI, descreveram o feijão, assim como o seu uso pelos nativos do Brasil.
A segunda edição da famosa Historia Naturalis Brasiliae, do holandês Willen Piso, revista e aumentada em 1658, tem um capítulo inteiro dedicado à nobre semente do feijoeiro.
O nome pelo qual o chamamos, porém, é português. Na época da chegada dos europeus à América, no início da Idade Moderna, outras variedades desse vegetal já eram conhecidas no Velho Mundo, aparecendo à palavra feijão escrita pela primeira vez, em Portugal, no século XIII (ou seja, cerca de trezentos anos antes do Descobrimento do Brasil).
Apenas a partir de meados do século XVI, começou-se a introduzir outras variedades de feijão na colônia, algumas africanas, mas também o feijão consumido em Portugal, conhecido como feijão-fradinho (de cor creme, ainda hoje muito popular no Brasil, utilizado em saladas e como massa para outros pratos, a exemplo do também famoso acarajé).
Os cronistas do período compararam as variedades nativas com as trazidas da Europa e África, e foram categóricos, acompanhando a opinião do português Gabriel Soares de Souza, expressa em 1587: o feijão do Brasil, o preto, era o mais saboroso. Caiu no gosto dos portugueses.
Feijão Fradinho
A sua origem é obscura, ainda que se acredite que seja originária da África Tropical, de onde teria se dispersado para outras regiões com clima semelhante, como a Índia. Possui várias subespécies, como o feijão-chicote, que têm, por sua vez, inúmeras variedades, cultivadas pelas sementes comestíveis, de formas e cores diversas, utilizadas também como forragem especialmente nutritiva e como adubo verde.
Este tipo de feijão constitui a base alimentar de muitas populações rurais devido ao seu elevado valor nutritivo a nível proteico e energético e à sua fácil adaptação a solos de baixa fertilidade e com períodos de seca prolongada. Na Região nordeste do Brasil, a colheita de suas vagens e o consumo de seus feijões ocorrem tanto na fase de plena maturação quanto antes, caso este em que o produto é denominado "feijão-verde", sendo largamente usado na culinária regional. O feijão maduro é ingrediente básico do acarajé, bolinho frito típico da culinária baiana.Importância Nutritiva
A importância do feijão no nosso dia a dia está em sua variedade de elementos nutricionais que nos oferece. E sua combinação com o arroz é uma combinação elogiadíssima pois se completam, segundo os nutricionistas.
Dentre os componentes do feijão, destacam-se principalmente os compostos fenólicos, substâncias antioxidantes vinculadas a um menor risco no desenvolvimento de alguns tipos de câncer e a uma menor incidência de doenças degenerativas (Machado, Ferruzzi & Nielsen, 2008); a isoforma 1 do inibidor da alfa-amilase, que apresenta potencial efeito no combate à obesidade e no tratamento adjuvante do diabetes (Obiro, Zhang & Jiang, 2008); e as fibras solúveis que, depois de ingeridas, se transformam em gel, permanecendo mais tempo no estômago, o que acarreta uma maior sensação de saciedade. Tal “gel” atrai as moléculas de gordura e de açúcar, que são eliminados pelas fezes, ajudando assim, a reduzir os níveis de colesterol e glicemia do sangue.
Importância do Feijão Fradinho para as comidas sacrificiais e votivas do Candomblé
Na Bahia, no fim do século XVIII esse processo de organização das comunidades
religiosas se inicia para além das devoções individuais e domésticas dos escravos e libertos.
foram recriadas muitas das comidas cotidianas dos homens e dos santos. Pois que os santos comem o que os homens comem.
A cozinha negra, pequena mas forte, fez valer os seus temperos a sua maneira de cozinhar. Modificou os pratos portugueses, substituindo ingredientes; fez a
mesma coisa com os pratos da terra; e finalmente criou a cozinha brasileira,
ensinando a fazer pratos com camarão seco e a usar as panelas de barro
e a colher de pau essa cozinha tão marcadamente africana que a ideologia de um sistema religioso ajudou a criar e de certa maneira ajuda a preservar se encontra atualmente espalhada por todo o país.
”Certo que os Orixás comem o que os homens comem, porém, recebem a seus pés, nos terreiros, comidas onde os modos de preparar, ao lado dos saberes: palavras de encantamentos (fó), rezas (àdúrà), evocações (oriki) e cantigas (orin) ligadas a estórias sagradas (itan), são elementos essenciais e vitais para a transmissão do axé ”
Vilson Caetano de Souza Junior
O feijão fradinho e um elemento fundamental na religião do Candomblé e na cultura culinária da Bahia.
Na Bahia, no fim do século XVIII esse processo de organização das comunidades
religiosas se inicia para além das devoções individuais e domésticas dos escravos e libertos.
foram recriadas muitas das comidas cotidianas dos homens e dos santos. Pois que os santos comem o que os homens comem.
Manuel Querino, em "A arte culinária na Bahia", de 1916, e responsável pelo primeiro mapeamento com descrição etnográfica do acarajé e da comida baiana de azeite, deve-se a ele as primeiros pesquisas sobre a cultura afro-brasileira e o primeiro afro-brasileiro a dedicar-se à História do Brasil com o objetivo de detalhar, analisar e fazer justiça às contribuições africanas em nosso país.
A cozinha negra, pequena mas forte, fez valer os seus temperos a sua maneira de cozinhar. Modificou os pratos portugueses, substituindo ingredientes; fez a
mesma coisa com os pratos da terra; e finalmente criou a cozinha brasileira,
ensinando a fazer pratos com camarão seco e a usar as panelas de barro
e a colher de pau essa cozinha tão marcadamente africana que a ideologia de um sistema religioso ajudou a criar e de certa maneira ajuda a preservar se encontra atualmente espalhada por todo o país.
Lançado em 1928, 'A Arte Culinária na Bahia' o livro traz receitas como vatapá, moqueca, frigideira e caruru, está, mais do que um estudo consagrado à alimentação, o combate à idéia, dominante em sua época, da inferioridade do africano.
Gilberto Freyre nos descreve com requintes de detalhes a preparação do Acarajé:
Bem africano é também o acarajé, prato que é um dos regalos da cozinha baiana. Faz-se com feijão fradinho ralado na pedra. Como tempero, leva cebola e sal.
A massa é aquecida em frigideira de barro onde se derrama um bocado de azeite de cheiro. Com alguns quitutes baianos de origem africana, se come um molho
preparado com pimenta malagueta seca, cebola e camarão, tudo moído na pedra e frigido em azeite de dendê (2006, p. 545)
Na África, na língua iorubá, é chamado de àkàrà, que significa "bola de fogo", enquanto je possui o significado de "comer". No Brasil, foram reunidas as duas palavras numa só, acara-je, ou seja, "comer bola de fogo". "Acará" também é o nome de um pedaço de algodão embebido em azeite que era colocado em chamas e engolido pelos filhos de santo para estes provarem que estavam em transe, nos rituais de candomblé (daí, a expressão "bola de fogo")
Muitos outros pratos no Candomblé, sao preparados com o Feijao Fradinho, como o Abara (feijão-fradinho temperada com pimenta, sal, cebola e azeite-de-dendê, algumas vezes com camarão seco, inteiro ou moído e misturado à massa, que é embrulhada em folha de bananeira e cozida em água é comida-de-santo, oferecida a Iansã, Obá e Ibeji), o Omolucum (feijão fradinho cozido com cebola, camarões e azeite de oliva e decorado com ovos cozidos e descascados, nas oferendas a Oxum). O Fradinho e tambem usado em todo o ritual (feitura) de Orixas.
No Sotoko Cozinha Contemporânea Afro-Baiana, comecei a desenvolver uma serie de criações com produtos típicos da Bahia, alguns pratos como a Chatasca e o Quitande, o Acaçá de Mariscos, levam o Feijão Fradinho como ingrediente principal, fazem parte de uma serie de criações do Chef Alicio Charoth.
https://www.facebook.com/C.Sotoko?ref=ts&fref=tsO Feijão-Fradinho também é camado no Brasil popularmente de :
boca-preta
ervilha-de-vaca
favalinha
feijão-alfanje
feijão-besugo
feijão-careta
feijão-carita
feijão-carito
feijão-caupi (oriundo do tupi)
feijão-chicote
feijão-chícharo
feijão-chinês
feijão-congo
feijão-corda
feijão-da-china
feijão-de-boi
feijão-de-corda
feijão-de-frade
feijão-de-macáçar
feijão-de-olho-preto
feijão-de-vaca
feijão-de-vara
feijão-frade
feijão-frade-comprido
feijão-galego
feijão-gurutuba
feijão-lagartixa
feijão-macáçar
feijão-mancanha
feijão-mineiro
feijão-miúdo
feijão-miúdo-da-china
feijão-vinha
feijãozinho-da-índia
mebauene
mucunha
mulato-gelato
Fontes
http://estudosdoconsumo.com.br/artigosdoenec/ENEC2012-GT05-Souza-Tabuleiro_da_baiana_de_acaraje.pdf
http://www.brasa.org/Documents/BRASA_IX/Sabrina-Gledhill.pdf
CUNHA, A. G. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. p. 8.
http://www2.uefs.br:8081/cer/wp-content/uploads/SANTOS_Vagner.pdf
http://www.ileaxeifaorixa.com.br/index.php/magias-diversas/259-culinaria-afro-brasileira
http://celsomasotti.aldente.com.br/?tag=feijao-fradinho#sthash.Jko8cX5R.dpuf
http://www.rgnutri.com.br/sqv/saude/fab.php