Verbete G Godó de Banana
É um ensopado feito com carne de sol e banana verde, que fica muito bem acompanhado com arroz, feijão, farofa e salada.
Séculos antes da chegada do turismo, a mineração foi o grande motor econômico da Chapada Diamantina. Primeiro o ouro, encontrado no século 18 em Rio de Contas e Jacobina, em seguida o diamante, cujas primeiras jazidas foram descobertas no começo do século 19 em Mucugê.
Quando os portugueses começaram a adentrar na região da Chapada Diamantina, se depararam, dentre outras etnias indígenas, com a Nação Tapuia; muito numerosa na região. Também chamados por Aimorés ou Botocudos, ficaram muito conhecidos pela utilização de botoques nos lábios e orelhas. A partir dos sete anos de idade as crianças já tinham seus lábios e orelhas perfurados e inseridos botoques que iam aumentando de tamanho conforme a idade, seriam como os piercing atuais, mas tido pelos Tapuias como um elemento de identidade da nação, de força e de beleza. Essa nação indígena cultuava os espíritos encantados das matas, hoje absorvido pelo candomblé congo-angola como os caboclos.
Provavelmente foi por volta da primeira metade do século XVII que os portugueses através das Entradas (ou Bandeiras) “desbravaram” a região da Chapada. A principal motivação deste “desbravamento” era localizar ouro, metais ou pedras preciosas, para serem saqueados e levados para a Coroa Portuguesa. Os rios foram as principais “estradas” para aquela aventura portuguesa, dentre eles, os mais importantes para a chegada na chapada foram o Paraguaçu e o São Francisco.
Em história nem sempre é possível afirmar com absoluta certeza datas e acontecimentos, mas é possível que os primeiros Arraiais e Vilas naquela região datem do final do século XVII e início do XVIII. Naquele período ficaram emblemáticas as figuras do Bandeirante, dos Garimpeiros, dos Jesuítas, dos Colonos e dos Sertanistas.
Os Bandeirantes “desbravavam”, os garimpeiros procuravam as riquezas nos leitos dos rios, os jesuítas catequizavam os índios, os colonos plantavam e comercializavam e os sertanistas criavam animais para alimento e transporte.
Na região da chapada entre 1817 e 1818 foram encontradas as primeiras pedras de diamante nas Lavras Diamantina, onde se encontram os atuais municípios de Mucugê, Andaraí, Lençóis e Palmeiras. Essas quatro cidades foram criadas em virtude do ciclo do diamante, graças às bateias dos garimpeiros e posteriormente dos demais personagens que foram sendo agregados.
Os produtos agrícolas, como o café, passaram a ter importância maior quando o ciclo do diamante começou a entrar em crise.
(índios Botocudos – Tapuias – Aimorés)
Vadinho não sabe quem preparou pela primeira vez o godó,
receita típica da Chapada Diamantina. Caboclo calejado por 81 anos de vida dura, a maior parte dos quais "buleando" bateias e peneiras nos riachos encascalhados da Serra do Sincorá, ele também não sabe porque o prato tem esse nome. Vadinho é apelido de Euvaldo Ribeiro, um dos mais respeitados garimpeiros da região. "Com muito orgulho", declara. Ele ignora a origem do godó mas, com base no que já viu e comeu em mais de meio século de vivência em curriolos, emburradas e engrunadas (garimpos em leito de rio, áreas com rochas e subterrâneos, respectivamente), acha que, no fundo, o prato não passa de uma versão modernizada do antigo cortado de banana.
"Garimpo não é lugar para luxo. É preciso ser prático, inclusive na alimentação, de modo que se misturava tudo que se tinha à mão em panela de ferro sobre trempe, pedra ou chão." Os garimpeiros picavam bananas e colocavam para assar com toucinho e, eventualmente, farinha.
O outro prato destacado nesta seção - arroz de garimpeiro - tem passado semelhante. Chamava-se arroz de poço, segundo ele, porque era servido num carumbé - gamela cônica na qual se conduz o cascalho que vai ser lavado nas catas de ouro ou diamante. "A gente juntava arroz vermelho, toucinho, pedacinhos de carne, fritava tudo e ainda aproveitava o óleo depositado no fundo, misturado com farinha", conta.
Durante o ciclo do diamante - do final do século 19 a meados do século 20 -, o município abrigava mais de mil mineradores. O comércio fervilhava. As pedras atraíam compradores do exterior, mascates, prestadores de serviços e gente de todo tipo, como Chiquinha do Pé-do-Morro, que vivia de bicos, mas notabilizou-se por morar numa grunha (concavidade espaçosa na rocha).
Maria dos Anjos, no preparo das iguarias: prazer em fazer, servir e comer
Grande número de garimpeiros, entre os quais o famoso Chico Sujo que, como o nome indica, não era flor que se cheirasse, vivia em lajedos ao redor de Mucugê. Hoje, não mais. A cidade se arrumou. Ficou bonita. Uma das jóias da Chapada atrai visitantes do mundo inteiro. Os diamantes escassearam e os garimpeiros aposentaram-se.
Para Vadinho, deve haver ainda uns cinco ou seis em atividade, no máximo. "Apesar das dificuldades, era bom garimpar. Quando alguém achava um diamante, logo se identificava", lembra, com brilho nos olhos. Pai de sete filhos, ele também aposentou-se, mas ainda bateia de vez em quando, em demonstração para estudantes e turistas em Mucugê, onde nasceu.
Ele não sabe quem criou as receitas, mas aprecia ambas, principalmente quando feitas por Maria dos Anjos, cozinheira da Pousada Mucugê. Nascida no povoado de Quebra-Cangalha, não muito longe da sede do município, ela é muito requisitada pelos turistas. Seus pratos são "modernos", de acordo com a classificação de Vadinho. Originais ou adaptados aos novos tempos, são deliciosos, segundo consenso geral.
Receita do Godó de Banana:
Ingredientes:
Rendimento: 6 pessoas
350 g de carne de sol, 250 g de charque e 200 g de bacon, cortados em cubos pequenos
1 cebola, 1 tomate, 1 pimentão (grandes) e 12 bananas verdes, picados
3 sal a gosto
Como fazer:
Corte as bananas, ponha os pedacinhos numa vasilha grande com água e um pouco de vinagre, para que fiquem ligeiramente roxos. Ponha para cozinhar. À parte, pique e frite a carne de sol, o charque e o bacon. Quando as bananas estiverem cozidas, junte as carnes, o tomate e a cebola e vá misturando tudo devagar, até formar uma espécie de sopa. Quando a banana estiver mole, estará pronto.
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