Plantas Alimentícias Não-Convencionais, as Pancs, podem fornecer nutrientes importantes para o organismo.
Várias plantas que são consideradas saladas, atualmente, também eram plantas que cresciam como os atuais inços, tendo sido selecionadas e utilizadas como sustento desde a origem da humanidade. Calcula-se
que se perde, por ano, entre 1 a 2 toneladas, podendo alcançar 7
toneladas por hectare, de plantas alimentícias não convencionais.
Muitas são hortaliças com elevadas propriedades nutricionais
para a espécie humana (dente-de-leão, serralha, beldroega, erva-gorda,
almeirão-do-campo, etc.), sendo jogadas fora ou secando com os
herbicidas tóxicos.
Estima-se que existam ainda cerca de 50 mil plantas alimentícias no mundo, sendo pelo menos 10 mil no Brasil. Porém, a falta de divulgação de sua existência
corresponde a uma forma de reduzir a oferta de alternativas de alimento
à população, por meio de poucas espécies “mais produtivas”, deixando
algumas delas na mão do controle das corporações das sementes, inclusive
as transgênicas, que tomam conta do mercado.*
Cebola, cenoura e alho vieram da Ásia Central. Beterraba, repolho e
aipo, do Centro-Mediterrâneo, nas proximidades da Turquia e Grécia. O
pêssego, a laranja e a maça, da China.
Quase todas as espécies de plantas que consumimos hoje em dia nos
chegaram através do deslocamento das populações humanas pelo planeta,
principalmente em busca de terras e comércio.
Mas existem Plantas Alimentícias Não-Convencionais (Pancs), que
nascem espontaneamente em terrenos baldios, calçadas e beira de
estradas.
Chamadas popularmente de inços, mato ou daninhas, são espécies
nativas que, segundo a mestre em Nutrição Irany Arteche, podem
substituir com vantagem nutricional produtos que teriam que ser
comprados no supermercado ou fora safra. ”As folhas da taioba podem
substituir a couve. A urtiga e a bertalha, o espinafre”.
Conforme Irany, são plantas espertas, de crescimento mais lento, que
se viram para encarar o frio, calor, estresse hídrico (falta ou excesso
de água) e parasitas. Por essas características, a disponibilidade de
nutrientes é mais frequente.
“Até alguns nutrientes, na linha dos antioxidantes e fitoquímicos que
muitas vezes não fornecemos para nosso corpo há tanto tempo, numa
dessas plantas podemos acabar ingerindo para sanar uma célula doente,
por exemplo”, exemplifica a nutricionista, ela mesma consumidora de
urtiga, bertalha, e outras Pancs.
Taboa substitui palmito
Em Florianópolis, o estudante de Agronomia da Universidade Federal de
Santa Catarina (Ufsc) Jefferson Pietroski da Mota começou a estudar por
conta própria as Pancs. “Eu apenas divulgo. A UFSC em si ainda não tem
nenhum projeto específico de resgate e utilização, mas alguns
professores já utilizam”.
Uma das espécies divulgadas por Mota é a taboa (Typha domingensis),
planta aquática que nasce em brejos e corpos d´água. A parte aérea pode
ser queimada para obtenção de sal vegetal. O miolo, ou rizoma, é
semelhante ao palmito e pode ser consumido cru ou cozido. O pólen é
utilizado para fazer pães, biscoitos, colorir o arroz ou misturado ao
mel.
O mestre em Botânica e doutor em Fitotecnia Valdely Ferreira Kinupp
destaca que, refogado, o rizoma é tão gostoso quanto palmito. Já o pólen
não é tóxico como outros pólens e tem alto teor de proteínas, lipídios,
açúcares e vitamina C estável.
“Sofremos com imperialismo gastronômico”, diz biólogo
Sobre a dieta que a grande maioria das pessoas adota na atualidade, o
biólogo considera que além do imperialismo cultural, sofremos com o
imperialismo gastronômico alimentar. “Os alimentos que consumimos, mesmo
a banana, em sua maioria são espécies exóticas, isto é, vieram de
outros continentes, outras culturas”.
Para a nutricionista Irany diversos fatores contribuem para que as
pessoas prefiram as plantas exóticas (todas as que não têm origem no
Brasil e América do Sul) e não as nativas. “Um deles é o acesso, o que
está disponível no mercado”.
Em seu trabalho, Irany observa que quando existe mercado ele é
polarizado: ou de famílias que sempre consumiram ou mais elitizado, como
por exemplo do premiado chef internacional Alex Atala, que usa frutos
do bioma Cerrado, plantas do norte. “Ou é um consumo tradicional ou mais
elitizado, porque os chefs estão sempre buscando o novo, o ineditismo.”
É importante conhecer e cultivar as PANCs
Outro fator considerado bastante importante para Irany é a pessoa
conhecer para não confundir espécies comestíveis com não comestíveis.
“Usar de terrenos baldios e que encontra, só se a pessoa realmente tem
conhecimento”. Na opinião de Irany, o melhor é ter mudas disponíveis da
variedade correta para as pessoa cultivar em casa. “Eu tenho urtiga,
bertalha, eu plantei”.
O estudante de Agronomia Mota cita o trabalho com os frutos do palmiteiro-juçara (Euterpe edulis),
como o início do uso de Pancs na Ufsc. “Esta espécie ocorre aí em
Criciúma e está em extinção, porém seus frutos podem ser utilizados como
o açaí do norte (são duas espécies Euterpe oleracea e Euterpe precatoria). Já fizemos algumas despolpas do fruto e os alunos provaram”.
Amei seu site e gostaria de saber se você pode me mandar um pouquinho de sementes de peixinhos de horta? Abigail
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