A
implantação de kits de irrigação pela Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf)
está incentivando e fortalecendo a agricultura familiar na região
Norte da Bahia.
Os kits, destinados a famílias em situação de
vulnerabilidade, possibilitam o plantio de frutas e hortaliças e
incrementam a geração de renda e a qualidade de vida da população
beneficiada.
Até
o momento, a 6ª Superintendência Regional da Codevasf, com sede em
Juazeiro (BA), atendeu 15 municípios dos 27 inseridos em sua área
de atuação – a maioria deles situados em áreas atingidas pela
extensa estiagem.
A
iniciativa é uma ação conjunta dos programas Água Para Todos (2ª
Água) e Desenvolvimento Regional, Territorial Sustentável e
Economia Solidária (Inclusão Produtiva), ambos vinculados ao Plano
Brasil Sem Miséria. Os recursos são provenientes da Secretaria de
Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional
(SDR/MI).
A
entrega dos kits de irrigação é feita após análise da vocação
agrícola e das necessidades e peculiaridades de cada família,
observando também a presença de condições necessárias para o
desenvolvimento da atividade de horticultura. Uma das exigências
para a implantação do equipamento de irrigação é a existência
de fonte hídrica que garanta a sustentabilidade da atividade.
As
famílias beneficiadas participam de capacitação, onde são
explicados todos os detalhes de manutenção, operação e
gerenciamento dos kits de irrigação – que atendem a uma área de
aproximadamente 500 m² e possibilitam a produção com baixo consumo
de água. O sistema é composto basicamente por um registro que
regula a tomada de água, filtro de tela plástica, tubos de
distribuição de polietileno, conectores, acessórios e tubos
gotejadores para distribuição nos canteiros por meio de gotejamento
localizado, que libera a água sem desperdício e na quantidade
necessária para a planta se desenvolver.
Segundo
a técnica da Codevasf em Juazeiro Itamila Santana da Paixão, desde
o ano passado foram contempladas pequenas localidades dos municípios
de Juazeiro, Casa Nova, Remanso, Curaçá, Sobradinho, Uauá, Abaré,
Ourolândia, Morro do Chapéu, Várzea Nova, Paulo Afonso, Mirangaba,
Jacobina, Pilão Arcado e Santa Brígida. A maioria das famílias
beneficiadas reside no campo e grande parte delas é ligada a
associações de moradores, que dividem com outras famílias os
benefícios dos kits de irrigação.
“Na
sede do município de Juazeiro foram distribuídos 21 kits familiares
de irrigação localizada”, revela Itamila Paixão. “Somente na
comunidade de Santa Helena, quatro famílias foram beneficiadas.
Também foram entregues kits para oito famílias da horta comunitária
do Bairro João Paulo II, cinco para horticultores integrantes da
Associação dos Produtores de Campo Verde, e quatro para a horta
comunitária mantida pela Universidade Federal do Vale do São
Francisco, que beneficia mais de 40 pessoas”, enumera a técnica da
Codevasf.
Ela
estima que mais de 186 famílias foram atendidas desde o ano passado,
sendo que a maioria delas pode dividir a área utilizada ou o
trabalho desenvolvido e os lucros obtidos com os vizinhos.
A
meta da Codevasf, na área de atuação da 6ª Superintendência
Regional, é implantar 200 kits familiares de irrigação nesta
primeira etapa. Os 14 kits restantes devem ser implantados ainda no
primeiro semestre deste ano. O investimento total na ação é de
aproximadamente R$ 150 mil.
Horta
comunitária
No
bairro João Paulo II, no município de Juazeiro, há uma área de
seis hectares cedida pela diocese no final da década de 1990 para
que os moradores da localidade criassem a Horta Comunitária Povo
Unido. O casal Francisca Aldeni Mangueira e João Soares dos Santos,
ambos de 45 anos, tem três filhos, de 14, 10 e 6 anos, e possui
desde 1998 uma área composta por sete canteiros onde plantam couve,
alface, rúcula, espinafre, cenoura, beterraba, tomate-cereja,
repolho, hortelã e salsa.
“Antes
a gente usava o regador para jogar água nas plantas e ainda tinha
que ter ajuda para isso, além de usar muita água. Com a chegada do
kit, tudo mudou”, afirma João dos Santos. “Agora nós irrigamos
duas vezes por dia. Além de não desperdiçar água, a irrigação
por gotejamento não encharca a planta, e só dá a água necessária
para ela crescer bem”, completa.
“Antes
a gente trabalhava mais e tinha um retorno menor. Agora sobra tempo
para fazer o raleio e a limpeza da horta, enquanto o sistema irriga
as plantas”, comemora Aldeni Mangueira.
A
viúva Maria de Fátima Cavalcante, de 52 anos, mãe de seis filhos,
também concorda com o casal. “Hoje o trabalho é menor e a
economia é maior, pois meus três filhos que ainda moram comigo me
ajudam na horta”, diz.
A
cearense Maria de Lourdes Oliveira, de 59 anos, há vinte anos mora
na região, mas só há cinco começou a cuidar dos canteiros da
filha, que trabalha em uma empresa. O marido, que é aposentado,
também atua na horta comunitária. Ela está satisfeita com o
resultado do empreendimento e, por ter nascido no campo, se
identificou com as atividades desenvolvidas no local.
Produção
ecológica
Todas
as hortaliças da Horta Comunitária Povo Unido são produzidas com a
utilização de adubo orgânico, composto por esterco animal e restos
de plantas invasoras retiradas da área em volta dos canteiros. O
material é misturado e revirado durante um período de 20 dias, até
ser adicionado à terra.
A
prática, considerada ecologicamente correta e adotada desde o início
da implantação da horta, foi reconhecida por meio do direito do uso
do selo de produto orgânico, concedido pelo Instituto Chão Vivo,
com sede em Santa Teresa, no Espírito Santo. O Chão Vivo é um
instituto que tem a missão de promover a agricultura de base
ecológica, com a adoção de sistemas de avaliação da
conformidade, visando a proteção do agroecossistema e a melhoria da
qualidade de vida dos produtores e consumidores.
De
posse do selo de produto orgânico, os horticultores do bairro João
Paulo II partiram em busca de um mercado para comercializar seus
produtos. Por meio de parceria realizada há três anos com a 3ª
Superintendência Regional da Codevasf, com sede em Petrolina (PE), e
o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)
foi montada uma feira de produtos ecológicos, que é realizada
mensalmente no município pernambucano. Além disso, segundo João
Santos, os produtos são vendidos diretamente na horta, e para rede
de supermercados, minimercados e feiras livres da região, o que
garante um bom lucro para os horticultores.
“Podemos
tirar por mês mais de um salário mínimo, abatendo as despesas que
nós temos aqui. E com a utilização dos kits de irrigação, o
trabalho ficou melhor, e nós economizamos mais”, celebra João
Santos.
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