quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana.

Verbete-A Acarajé-Bolinho de Oyá
“Uma massa branquinha de feijão, pilado no Oló, bem aerada com cebola e frito nas línguas de fogo do azeite de cheiro, servidas ainda quentes com uma boa dose de molho de pimenta, é talvez uma das mais gostosas experiências gastronômicas, um exemplo claro da resistência de um povo e sua dedicação ao oficio de alimentar o outro.”


O Acarajé é uma comida ritual do Orixá Iansã/Oyá, apesar de fazer parte do cotidiano de baianos e turistas que visitam nossa cidade.
Levi-Strauss em “O Triangulo Culinário”(1968) diz que o domínio da cozinha” Constitui uma forma de atividade humana verdadeiramente universal”, pois não existe sociedade que não tenha desenvolvido formas de preparar seus alimentos.

Segundo vários depoimentos da primeira metade do século XX, anos 30 e 40, as famílias ficavam esperando, ás sete horas da noite, a mulher do Acarajé passar, era uma espécie de cerimonia (...)
Por que sua voz era especialmente aguda e alta para anunciar de longe ‘Iê Acarajé, Iê Abará’; ai o povo se preparava pegava o dinheiro e iam as portas. Esse acarajé e esse Abará iam nas portas, como se come ainda na Costa D’África. (Ubiratan Castro de Araújo)

Caymmi -Preta do Acarajé

“Dez horas da noite
Na rua deserta
A preta mercando
Parece um lamento
Ê o abará
Na sua gamela
Tem molho e cheiroso
Pimenta da costa
Tem acarajé
Ô acarajé é cor
Ô la lá io
Vem benzer
Tá quentinho

Todo mundo gosta de acarajé
O trabalho que dá pra fazer que é
Todo mundo gosta de acarajé
Todo mundo gosta de abará
Ninguém quer saber o trabalho que dá
Todo mundo gosta de acarajé
O trabalho que dá pra fazer que é
Todo mundo gosta de acarajé
Todo mundo gosta de abará
Ninguém quer saber o trabalho que dá
Todo mundo gosta de abará
Todo mundo gosta de acarajé

Dez horas da noite
Na rua deserta
Quanto mais distante
Mais triste o lamento
Ê o abará...



Lenda do Acará
 O acará era um segredo entre Oxum e Xangô.
Só Oxum sabia os segredos de preparar o Acarajé, uma forma figurada do Agerê (o fogo que é feito nas obrigações de Xangô).
No dia do Agerê Xangô entra com Oxum e Iansã(Oyá) que trazem a panela do Agerê (sua comida), que era preparada por Oxum, e pede a Iansã que colocasse em sua cabeça e
Carybé
levasse para Xangô.
Iansã sempre cumpria este ritual e entregava a Xangô, saindo em seguida, e logo depois trazendo a panela como se já tivesse comido o que tinha dentro.
Um dia, Iansã estava cansada das incursões de Xangô, Iansã quis dividir os afetos de Xangô com Oxum, quando Oxum preparou o prato e pediu que ela levasse para Xangô, pediu mais uma vez que Iansã levasse a comida, ela colocou na cabeça e seguiu.
Oxum nunca tinha dito que ela não olhasse o que tinha dentro da panela, Oxum desconfiou que Iansã iria olhar o segredo para ver o que havia na panela, e ver o que comia Xangô.
Na metade do caminho Iansã, olhou para os lados e viu que não estava sendo observada, abriu a panela, e subia aquela língua de fogo.
Descobrindo o segredo, ela disse, agora sei o que ele come, ele come Acará, tampou rapidamente a panela, colocou na cabeça, e se apresentou a Xangô. Os deuses sempre sabem o que o outro fez ou vai fazer, Xangô, olhou bem nos olhos de Iansã e disse: Você viu o que eu como? Ela disse sim:- É Acará.
Ele perguntou:- E o que é Acará?
Ela disse: - É fogo, Xangô come fogo.
Ele falou: - Só minhas esposas podem saber meu segredo, só minhas esposas comem.
Na verdade não era bem assim, Oxum preparava, mas não comia, ai ele disse: - Você meta sua mão e vai comer comigo agora.
Ela olha o fogo e come o Acarajé, (Jé que quer dizer comer em Ioruba) Acarajé quer dizer comer acará. Sendo assim Iansã passou a comer acarajé e ser uma das mulheres de Xangô.
O Acarajé é comida sagrada e ritual do Candomblé, ofertada aos Orixás, principalmente a Xangô (Alafin, Rei de Oyó) e sua mulher a rainha Oya(Iansã), compartilham também Obá e os Erês nos cultos daquela região.

A Bahia hoje conta com uma plataformaOyá Digital que localiza e traça perfil de 5 mil baianas no Brasil.
O Acarajé hoje é tombado pelo patrimônio...
Foto: Na África, é chamado de àkàràje.
Àkàrà significa bola de fogo e jé possui o significado de comer, logo àkàràje é uma bola de fogo que se come, não podíamos esperar menos de Oyá, Orixá do dendê.


Montar o projeto foi um exercício de muita pesquisa e paciência, com cruzamento de informações e organização de dados por parte do Iphan. O resultado só foi possível graças aos cadastros da Abam, da Secretaria Municipal da Ordem Pública (Semop) e da Federação do Culto Afro-Brasileiro (Fenacab). 

Antes de virar plataforma digital, uma empresa especializada em tratamento e digitalização de acervos realizou a higienização, classificação, catalogação, acondicionamento e disponibilização do arquivo físico de documentos. “Cruzamos os dados de cadastros que estavam em arquivos físicos, em estado precário. Agora está tudo digitalizado”, explica Maria Paula Adinolfi, antropóloga do Iphan, que esteve à frente do projeto.

O nome Plataforma Oyá Digital é uma homenagem ao orixá patrono do ofício de baiana de acarajé - Oyá ou Iansã. No total, 5.261 já baianas entraram no cadastro. Além de permitir sua localização em um mapa, a plataforma dispõe de ferramentas de pesquisa para se obter dados de gênero, cor/raça, idade, religião, tipo de produto produzido, grau de escolaridade e até dias e horários que trabalham.

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