A preguiça citada no nome da ladeira refere-se ao fato de que as mercadorias eram transportadas do porto para a cidade, fosse nas costas de escravos, fosse em carretas puxadas por bois - e empurradas por escravos.
A elite da época, a qual residia em casarões ao longo da via, costumava divertir-se com gritos de "sobe preguiça!" ao presenciar os escravos subindo penosamente a ladeira, sob o peso de sacos de mercadorias pesando até 60 kg ou empurrando carretas abarrotadas.
Todavia, corroborando a imagem folclórica, preconceituosa e elitista de que os baianos (em geral) e os soteropolitanos (em particular) são preguiçosos, a página oficial da Secretaria de Turismo da Cidade de Salvador, sustenta a ideia de que os escravos, reclamando do trabalho pesado, diziam que subir a ladeira "dava preguiça".
Ainda assim, subir os carretões empurrados por escravos e puxados a boi, não era uma tarefa fácil. Os escravos alegavam que este trabalho “dava preguiça”. A população e os feitores, ironicamente, batizaram a ladeira do “Tira preguiça”. Mas por causa da “preguiça”, que é comum a nossa língua e a mania de encurtamos as palavras (muitas vezes é desfeito um significado histórico por conta disso), ficou sendo, somente, a Ladeira da Preguiça.
A presença de africanos arrancados de suas terras nas praias da Bahia sempre foi um lugar comum nos relatos de viajantes.
Mas as origens destes homens e mulheres era e é motivo de controvérsia. Conceição da Praia é uma freguesia amplamente dominada pelos denominados minas, naquela quadra que foi denominada de ciclo da Costa da Mina.
O termo ciclo sugere equívocos que devem ser sanados – como a não continuidade das rotas anteriores do tráfico – mas não resta dúvida que os africanos ocidentais, especificamente os embarcados na longa costa leste, chamado o Gentio da Mina, marcaram profundamente a identidade do povo da Bahia nos últimos três séculos.
De frente para o mar, que os trouxe, (de uma viagem que para muitos não teve retorno) a Conceição da Praia para estes africanos era um mundo particular, com seus ancoradouros, trapiches, ruas de mercado, com novas oportunidades de ganho, dentro do estreito mundo da escravidão africana na Bahia.
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Diz-se que uma das razões da construção do primeiro Mercado Modelo teria sido para substituir as feiras livres que “assolavam” a Cidade Baixa.
Referiam-se principalmente à Feira do Sete, em frente ao Armazém 7 das Docas da Bahia e seu sistema de “senta-levanta”, ou seja, era montada de manhã e desarmada na parte da tarde, obrigando a Prefeitura todos os dias a proceder a limpeza da área.
Não se vê citação alguma de relação a uma feira que se estabelecia na Praia da Preguiça, ao lado do cais sul do porto. É o que se vê na foto adiante:
Antiga Feira da Preguiça:
A foto também nos aguça a curiosidade de relação a muitos outros aspectos como, por exemplo, o espaço que ocupava.
Hoje, passa pelo local a Avenida do Contorno:
Atual Avenida do Contorno mais ou menos no local onde funcionava a Feira da Preguiça
Curioso também é o entorno que hoje enriquece o local. É assombrosa a modificação. Antigamente, um conjunto de velhos prédios, possivelmente trapiches; hoje um condomínio de alto luxo.
“Possivelmente” porquê esses prédios estão antes do cais do norte, onde hoje funciona o Comando Naval e mais anteriormente, a Escola de Aprendizes de Marinheiro.
Apoie esta Ideia: Que ladeira é essa?
Nascido e criado na Ladeira da Preguiça, Marcelo Teles, idealizador e diretor do Centro Cultural Que Ladeira é Essa? fundou o projeto em 2013 com o objetivo desenvolver ações voltadas para revitalização do bairro e inclusão social de seus moradores.
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O centro cultural desenvolve ações voltadas para revitalização do bairro e inclusão social de seus moradores
Segundo Marcelo, o centro cultural é um grande coletivo. “Recebemos o apoio de vários grupos e movimentos sociais. Ficamos gratos com a disponibilidade da UNEB em apoiar a nossa causa, essa parceria é fundamental para ampliar as nossas ações”, frisou Marcelo.
O projeto atua na comunidade através da execução de grafismos e artesanatos, e oferece na sede da instituição oficinas gratuitas de fotografia, teatro, dança, percussão, artes marciais, capoeira, artes plásticas e literatura.
Atualmente Marcelo conta com a ajuda de moradores do bairro, que o auxiliam na organização do espaço, além do apoio do Museu de Street Art de Salvador (Musas), da Ong Junta Salvador e do Cine Club Plataforma.
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