Cocada é um doce tradicional em Angola e típico no Brasil e em muitos países da
America do Sul, doce feito a base de coco, com muitas variantes em geral levam gemas, leite e coco ralado.
Cocada designa doce feito de coco ralado e açúcar ou calda de açúcar, cozido até adquirir consistência firme, cortado de variadas formas. E está presente na expressão rei ou rainha da cocada preta, surgida depois da vinda da família real para o Brasil, em 1809.
O rei tinha o privilégio de comer as primeiras cocadas pretas, as mais saborosas, e só depois os nobres podiam servir-se, o brasileiro, muito debochado, passou a usar a frase para vingar a arrogância de quem queria sobrepor-se aos outros, como se rei fosse. Dessa forma, o Cocada Preta nasce como agregador da efervescência cultural brasileira, valorizando toda manifestação e forma de expressão artística, de quem é e quem faz o Brasil.
A cultura brasileira pode ser compreendida pela pluralidade de ideias, crenças e costumes, que foi propiciada pela interconexão étnica durante o processo colonizatório.
Algumas receitas utilizam rapadura, leite-de-coco e coco ralado queimado, branca, preta, abóbora, castanha, gergelim, Licuri e uma enorme combinação de frutas tropicais. a cocada é um dos doces tradicionais mais apreciados pelos brasileiros e pelos turistas que logo se encantam com sabor único da iguaria.
O coqueiro é uma das árvores mais completas que existem. Os primeiros cocos vieram de Cabo Verde, na África, originando os coqueirais que no fim do século 16 já cobriam a orla da Bahia. Dela se utiliza tudo, os frutos, fibra têxtil e químicos, entre outros itens.
Mas vamos nos restringir aqui ao coco que, por si só, já tem bastante utilidade: dele se extrai a água, a polpa (e seu leite), a casca (para a fabricação de fibra, em substituição ao nada ecológico, xaxim) e o óleo.
Nos Descobrimentos dos séculos XV e VI, o contacto dos europeus com as especiarias orientais era objetivo prioritário.
Os portugueses rumaram para sul, procurando passagem entre os Oceanos Atlântico e Índico, os espanhóis para oeste, ambos condicionados pela repartição Papal entre os dois, das terras descobertas ou conquistadas.
Os portugueses acompanharam a costa africana, atingiram Cabo Verde. Conhecedores do regime dos ventos alísios do hemisfério norte, rumaram a sudoeste, atingiram o Brasil, regressando à Angra de Santa Helena perto do Cabo da Boa Esperança.
As ligações entre a costa ocidental africana e América intensificaram-se com a escravatura destinada às atividades da grande cultura agrícola nas colônias americanas dos povos europeus: portugueses, espanhóis, franceses, holandeses e ingleses.
Da costa ocidental africana, introduziram-se na América plantas consumidas pelos escravos originalmente: milho-zaburro, palmeira-dendém, inhames; mais industriais: coqueiro, gengibre, bananeiras e cana-sacarina, estas não africanas, já aí chegadas. Contrariamente, da América para a costa ocidental africana, introduziram-se: mandioca, batata-doce, pimentos, tomateiros, milho-maíz, tabaco, inhames, ananases, várias frutas e, posteriormente, cafeeiro-arábica e cacaueiro, «árvores de sombra» para estas duas culturas, purgueira e carrapato. Sobre estas plantas fornecem-se algumas notas explicativas da forma como ocorreu este intercâmbio.
Leia também: Revista de Ciências Agrarias.
A Lusofonia teve grande importância na adaptação de novas culturas agrícolas na historia de países colonizados por Portugal.
António Coelho Guerreiro, um pernambucano, governou Timor-Leste de 1700 a 1704, outro pernambucano, António de Albuquerque Coelho, foi no século XVIII governador de Macau e, em 1721, passou a governar Timor e Solor. António Coelho Guerreiro foi nomeado para Timor pelo 57º vice-rei da Índia, António Luís Gonçalves da Câmara Coutinho (1638-1701), empossado neste cargo em 1697.
Câmara Coutinho foi capitão-general de Pernambuco e, por morte de Matias da Cunha, tomou posse do cargo de capitão–general do Brasil. Atribui-se a este capitão-general a introdução de culturas novas no território brasileiro como a canela e a pimenta da Índia, embora o coqueiro, a mangueira, a carambola e a árvore do fruta-pão já tivessem sido levados do Oriente para o Brasil pelos portugueses no século XVI e XVII.
O povo brasileiro foi concebido a partir de uma intensa mistura, igualmente nascido tal qual a iguaria - a soma de açúcar, água e côco -, a partir da mescla dos três ingredientes étnicos: brancos, índios e negros. Durante os séculos acabamos multifacetados sob novas texturas e tons, novas vozes e sabores. A partir de então, "é bem provável que o brasileiro comece a surgir e a reconhecer-se a si próprio mais pela percepção de estranheza que provocava no lusitano, do que por sua identificação como membro das comunidades socioculturais novas, porventura também porque desejoso de remarcar sua diferença e superioridade frente aos indígenas."
Darcy Ribeiro O Povo Brasileiro. Ed Companhia das Letras, São Paulo, 1995.
O coco é a terceira fruta mais consumida no Brasil atrás somente da laranja e da banana. Estudiosos não são unânimes sobre a origem da planta: embora a maioria argumente que o coqueiro tem origem na região da Índia, alguns sustentam que o coqueiro nasceu nas Américas.
Por enquanto, prevalece a história de que os portugueses implantaram o cultivo do coqueiro no Brasil nos anos 1550, principalmente na região Nordeste, área que, até hoje, tem importante papel na produção nacional, que é a quarta maior do mundo.
Cocada também é o nome da personagem infantil inventada
para aterrorizar as crianças, também conhecida no Brasil por Cuca, mais o sufixo “ada”, comum na formação de palavras, menos a voga final de coco.
O produto é feito totalmente artesanal, tudo começa na seleção dos frutos, depois a polpa é retirada, a pele é raspada e o coco é ralado, para só então receber os demais ingredientes e ir ao fogo. Para uma receita ficar no ponto é necessário duas horas de cozimento.
Quando o doce está pronto ele é colocado em formas e ali permanece por 12 horas, para só depois ser cortado e embalado. O resultado é uma cocada de sabor ímpar. Extremamente macia, com muito coco, úmida e com açúcar na medida certa.
Bentinho e Capitu passam a infância comendo cocadas.
O homem passa por Bentinho e Capitu ao cantar: “Chora, menina, chora. Chora porque não tem vintém…” – e, então, pergunta para Capitu: “Sinhazinha, qué cocada hoje?”.
Ela ainda está abalada com a notícia que acabou de receber. Bentinho irá para o seminário em apenas dois meses. Não, ela não quer cocada hoje, mas Bentinho compra logo duas. Este pregão marcou muito a infância dos dois quando Capitu costumava repetir a canção durante as brincadeiras, às vezes se passando por vendedora, às vezes por compradora. E é por isso que, quase para se encerrar o livro, Bentinho se surpreende quando pede à Capitu para que ela tire no piano o pregão das cocadas para o filho Ezequiel.
Mas, a surpresa: Capitu não se lembrava do que ele estava falando. O livro “Dom Casmurro” foi publicado a primeira vez em 1899, portanto, onze anos depois da abolição da escravatura. Mas a história contada acontece entre 1857 e 1875, logo, tendo a escravidão como um dos panos de fundo. A questão é que levando em consideração o tempo em que o livro foi escrito e a descrição do cenário feito pelo escritor, a cocada era a tradicional, daquelas que as escravas batiam em pedra fria e depois serviam para as esposas dos senhores de engenho.
Infelizmente as receitas atuais pedem leite condensado, o que torna o sabor pasteurizado , mas no período em que história de Machado de Assis se desenrola o leite condensado começava a ganhar o mundo. No Brasil ainda não era produzido, sendo importado da Europa a um preço caríssimo, ou seja, era uma iguaria muito fina e, por isso, seria muito pouco provável que as escravas tivessem este ingrediente para cozinhar o doce. O jornal “A Marmota Pernambucana”, de Recife, escreveu assim em 1850: “A cocada é o doce do povo, o doce patriótico”. A receita: as negras faziam tudo cozido no mel de rapadura. A historiadora Rosa Belluzzo, que ganhou o prêmio Jabuti por seu livro “Machado de Assis: Relíquias Culinárias” conta algo bem interessante. Na época que Machado começou a escrever seus artigos nos jornais e livros, a cozinha francesa começava a ganhar o mundo. Machado abominava a ideia de chegar em um restaurante e ter que ler o cardápio em francês em plena praia carioca. Por isso, usava receitas típicas brasileiras como preferências de seus personagens. Então, podemos dizer que a cocada é uma espécie de protesto do escritor.
A Cocada é definida como doce cujos ingredientes básicos são açúcar, manteiga e coco ralado, um doce típico do Brasil, Câmara cascudo (2004) escreve: " Cocada: Doce de coco com rapadura, ponto grosso... O mais popular de todos os doces do Nordeste." Segundo o antropólogo Raul Lody, estudar a cocada, é um meio de olhar atenciosamente, para a cultura popular, pois é estimada de norte a sul do país e figura entre as principais iguarias na culinária do açúcar no Brasil.
Esta mistura tradicional entre a polpa do coco e o açúcar, ao mesmo tempo em que aguça os cinco sentidos ativa também a memória coletiva, se enquadra no rol dos bens históricos da doçaria nacional, vinculando-se aos momentos comemorativos da religiosidade.
É um doce popular encontrado à venda desde aos ambulantes até os tradicionais tabuleiros das baianas que oferecem a cocada branca e a cocada preta. Esta iguaria admite várias interpretações, partindo da mistura tradicional se acrescentam frutas, em geral, são exuberantes na cor, marcantes no sabor e convidativas pelo aroma, pela aparência e desejo que aguçam as papilas gustativas por um pedaço de trópico, direcionando-nos ao prazer pelo encontro entre o corpo e o sabor.
Cada dia mais a cocada ganha popularidade fora do país.
O fato é que nem mesmo todos os brasileiros sabem sua origem. Por volta de 1750, época em que o Brasil ainda estava sendo colonizado e recebia diversos imigrantes, as escravas negras passaram a cozinhar para os senhores de engenho. Elas levaram todo seu conhecimento culinário e adaptaram muitos pratos ao paladar dos amos. Particularmente em Salvador, onde surgiu à maioria dos pratos da culinária africana adaptada ao gosto brasileiro, as negras criavam muitos pratos com leite de coco (fruta em abundância na região norte do país), como ensopados, moquecas e escabeches, com as sobras do bagaço do coco elas faziam a cocada, misturando melaço de cana ou rapadura, produto muito encontrado na época.
Há relatos ainda que a cocada surgiu mais precisamente no Estado da Bahia e de lá se difundiu para o restante do país.
A questão é que o doce resistiu até os dias de hoje, sendo encontrado desde a versão mais simples e tradicional até receitas com leite condensado, leite de coco, abacaxi, maracujá, cravo e canela.
Em 1917 A Cidade, sob o titulo de “As vendedeiras de cocada no Cabeça”, relatou a vendagem dessa iguaria baiana numa rua do centro, a do Cabeça, ao 2 de Julho. Segundo o articulista: As vendagens de cocada nesta capital, têm fascinado muitas das nossas mulheres do povo. Nem todas resistem à laboriosa mania de vender cocadas. Pelas ruas, avenidas e nos mais longínquos pontos urbanos, ellas ahi estão, com os seus turbantes exóticos, amarfanhados na cabeça, a bandeja exposta na calçada, abarrotadas de ‘bonbons” feitos de rapadura e côco. No Cabeça, então, é que as ‘yayás’ organizaram a sua feira de guloseimas, a maior feira de cocadas que temos visto na Bahia. Disse-nos uma sorrindo, quando pornós interpellada, sobre a venda dos seus produtos ‘mélificos’: - Ah! Yoyô, eu não gosto de gente branca porque é má e só quer acabar com nosso ‘negociação’... Veja que isto constitue o nosso meio de vida. O que nós dá alguns vinténs. Vendemos muito, yoyô. E começou a contarolar uma trova de ‘samba’, que nos trazia à evocação o anoitecer ardente das terras africanas. (BPEB:1917)
Fazendo parte da gastronomia brasileira, não demoraria para a cocada estar inserida no imaginário popular através das artes. Na música e no teatro, ao mesmo tempo em que surgia a figura da baiana, logo a cocada teve um lugar especial em seu tabuleiro, ao lado de outras iguarias.
As Músicas:
Trago duas músicas que falam de baianas e cocadas.
A Baiana tem Cocada é uma toada interpretada pela cantora Gilda de Abreu. Da autoria de Ary Kerner Veiga de Castro,
traz o acompanhamento da orquestra Pan American, sob a direção de Simon Bountman. Disco Odeon 10.651-A, matriz 3713. Lançado em agosto de 1930.
Velha Baiana, é um importante registro do teatro de revista, interpretado pela cantora e atriz Aracy Côrtes e o compositor (e também cantor) Alberto Ribeiro.
É uma ótima oportunidade de conhecermos um pouco de como eram feitas as cenas no teatro musical dos anos 30.
Detalhe para o improviso de Aracy e a resposta de Alberto, quando ele esbarra em alguma coisa no estúdio de gravação, fazendo barulho. Trata-se de uma cena típica de Napoleão Tavares e do próprio Alberto Ribeiro. Acompanhamento da Orquestra Columbia. Disco Columbia 22.134-B, matriz 381287 Lançado em julho de 1932.
Câmara Coutinho foi capitão-general de Pernambuco e, por morte de Matias da Cunha, tomou posse do cargo de capitão–general do Brasil. Atribui-se a este capitão-general a introdução de culturas novas no território brasileiro como a canela e a pimenta da Índia, embora o coqueiro, a mangueira, a carambola e a árvore do fruta-pão já tivessem sido levados do Oriente para o Brasil pelos portugueses no século XVI e XVII.
Gabriel Soares de Souza, foi um agricultor e empresario Português, que viveu entre os anos 1565 e 1569, na Bahia, alem de um estudioso e historiador do Brasil, ele nós informa que “as palmeiras dão cocos, se dão na Bahia melhor que na Índia (…) foram os primeiros cocos à Bahia de Cabo Verde donde se enchem a terra e onde frutifica dos cinco para os seis anos”. (Souza, Soares de. Noticias do Brasil. São Paulo. s/d).
O povo brasileiro foi concebido a partir de uma intensa mistura, igualmente nascido tal qual a iguaria - a soma de açúcar, água e côco -, a partir da mescla dos três ingredientes étnicos: brancos, índios e negros. Durante os séculos acabamos multifacetados sob novas texturas e tons, novas vozes e sabores. A partir de então, "é bem provável que o brasileiro comece a surgir e a reconhecer-se a si próprio mais pela percepção de estranheza que provocava no lusitano, do que por sua identificação como membro das comunidades socioculturais novas, porventura também porque desejoso de remarcar sua diferença e superioridade frente aos indígenas."
Darcy Ribeiro O Povo Brasileiro. Ed Companhia das Letras, São Paulo, 1995.
O coco é a terceira fruta mais consumida no Brasil atrás somente da laranja e da banana. Estudiosos não são unânimes sobre a origem da planta: embora a maioria argumente que o coqueiro tem origem na região da Índia, alguns sustentam que o coqueiro nasceu nas Américas.
Por enquanto, prevalece a história de que os portugueses implantaram o cultivo do coqueiro no Brasil nos anos 1550, principalmente na região Nordeste, área que, até hoje, tem importante papel na produção nacional, que é a quarta maior do mundo.
Cocada também é o nome da personagem infantil inventada
para aterrorizar as crianças, também conhecida no Brasil por Cuca, mais o sufixo “ada”, comum na formação de palavras, menos a voga final de coco.
O produto é feito totalmente artesanal, tudo começa na seleção dos frutos, depois a polpa é retirada, a pele é raspada e o coco é ralado, para só então receber os demais ingredientes e ir ao fogo. Para uma receita ficar no ponto é necessário duas horas de cozimento.
Quando o doce está pronto ele é colocado em formas e ali permanece por 12 horas, para só depois ser cortado e embalado. O resultado é uma cocada de sabor ímpar. Extremamente macia, com muito coco, úmida e com açúcar na medida certa.
Bentinho e Capitu passam a infância comendo cocadas.
O homem passa por Bentinho e Capitu ao cantar: “Chora, menina, chora. Chora porque não tem vintém…” – e, então, pergunta para Capitu: “Sinhazinha, qué cocada hoje?”.
Ela ainda está abalada com a notícia que acabou de receber. Bentinho irá para o seminário em apenas dois meses. Não, ela não quer cocada hoje, mas Bentinho compra logo duas. Este pregão marcou muito a infância dos dois quando Capitu costumava repetir a canção durante as brincadeiras, às vezes se passando por vendedora, às vezes por compradora. E é por isso que, quase para se encerrar o livro, Bentinho se surpreende quando pede à Capitu para que ela tire no piano o pregão das cocadas para o filho Ezequiel.
Mas, a surpresa: Capitu não se lembrava do que ele estava falando. O livro “Dom Casmurro” foi publicado a primeira vez em 1899, portanto, onze anos depois da abolição da escravatura. Mas a história contada acontece entre 1857 e 1875, logo, tendo a escravidão como um dos panos de fundo. A questão é que levando em consideração o tempo em que o livro foi escrito e a descrição do cenário feito pelo escritor, a cocada era a tradicional, daquelas que as escravas batiam em pedra fria e depois serviam para as esposas dos senhores de engenho.
Infelizmente as receitas atuais pedem leite condensado, o que torna o sabor pasteurizado , mas no período em que história de Machado de Assis se desenrola o leite condensado começava a ganhar o mundo. No Brasil ainda não era produzido, sendo importado da Europa a um preço caríssimo, ou seja, era uma iguaria muito fina e, por isso, seria muito pouco provável que as escravas tivessem este ingrediente para cozinhar o doce. O jornal “A Marmota Pernambucana”, de Recife, escreveu assim em 1850: “A cocada é o doce do povo, o doce patriótico”. A receita: as negras faziam tudo cozido no mel de rapadura. A historiadora Rosa Belluzzo, que ganhou o prêmio Jabuti por seu livro “Machado de Assis: Relíquias Culinárias” conta algo bem interessante. Na época que Machado começou a escrever seus artigos nos jornais e livros, a cozinha francesa começava a ganhar o mundo. Machado abominava a ideia de chegar em um restaurante e ter que ler o cardápio em francês em plena praia carioca. Por isso, usava receitas típicas brasileiras como preferências de seus personagens. Então, podemos dizer que a cocada é uma espécie de protesto do escritor.
A Cocada é definida como doce cujos ingredientes básicos são açúcar, manteiga e coco ralado, um doce típico do Brasil, Câmara cascudo (2004) escreve: " Cocada: Doce de coco com rapadura, ponto grosso... O mais popular de todos os doces do Nordeste." Segundo o antropólogo Raul Lody, estudar a cocada, é um meio de olhar atenciosamente, para a cultura popular, pois é estimada de norte a sul do país e figura entre as principais iguarias na culinária do açúcar no Brasil.
Esta mistura tradicional entre a polpa do coco e o açúcar, ao mesmo tempo em que aguça os cinco sentidos ativa também a memória coletiva, se enquadra no rol dos bens históricos da doçaria nacional, vinculando-se aos momentos comemorativos da religiosidade.
É um doce popular encontrado à venda desde aos ambulantes até os tradicionais tabuleiros das baianas que oferecem a cocada branca e a cocada preta. Esta iguaria admite várias interpretações, partindo da mistura tradicional se acrescentam frutas, em geral, são exuberantes na cor, marcantes no sabor e convidativas pelo aroma, pela aparência e desejo que aguçam as papilas gustativas por um pedaço de trópico, direcionando-nos ao prazer pelo encontro entre o corpo e o sabor.
Cada dia mais a cocada ganha popularidade fora do país.
O fato é que nem mesmo todos os brasileiros sabem sua origem. Por volta de 1750, época em que o Brasil ainda estava sendo colonizado e recebia diversos imigrantes, as escravas negras passaram a cozinhar para os senhores de engenho. Elas levaram todo seu conhecimento culinário e adaptaram muitos pratos ao paladar dos amos. Particularmente em Salvador, onde surgiu à maioria dos pratos da culinária africana adaptada ao gosto brasileiro, as negras criavam muitos pratos com leite de coco (fruta em abundância na região norte do país), como ensopados, moquecas e escabeches, com as sobras do bagaço do coco elas faziam a cocada, misturando melaço de cana ou rapadura, produto muito encontrado na época.
Há relatos ainda que a cocada surgiu mais precisamente no Estado da Bahia e de lá se difundiu para o restante do país.
A questão é que o doce resistiu até os dias de hoje, sendo encontrado desde a versão mais simples e tradicional até receitas com leite condensado, leite de coco, abacaxi, maracujá, cravo e canela.
Em 1917 A Cidade, sob o titulo de “As vendedeiras de cocada no Cabeça”, relatou a vendagem dessa iguaria baiana numa rua do centro, a do Cabeça, ao 2 de Julho. Segundo o articulista: As vendagens de cocada nesta capital, têm fascinado muitas das nossas mulheres do povo. Nem todas resistem à laboriosa mania de vender cocadas. Pelas ruas, avenidas e nos mais longínquos pontos urbanos, ellas ahi estão, com os seus turbantes exóticos, amarfanhados na cabeça, a bandeja exposta na calçada, abarrotadas de ‘bonbons” feitos de rapadura e côco. No Cabeça, então, é que as ‘yayás’ organizaram a sua feira de guloseimas, a maior feira de cocadas que temos visto na Bahia. Disse-nos uma sorrindo, quando pornós interpellada, sobre a venda dos seus produtos ‘mélificos’: - Ah! Yoyô, eu não gosto de gente branca porque é má e só quer acabar com nosso ‘negociação’... Veja que isto constitue o nosso meio de vida. O que nós dá alguns vinténs. Vendemos muito, yoyô. E começou a contarolar uma trova de ‘samba’, que nos trazia à evocação o anoitecer ardente das terras africanas. (BPEB:1917)
Fazendo parte da gastronomia brasileira, não demoraria para a cocada estar inserida no imaginário popular através das artes. Na música e no teatro, ao mesmo tempo em que surgia a figura da baiana, logo a cocada teve um lugar especial em seu tabuleiro, ao lado de outras iguarias.
As Músicas:
Trago duas músicas que falam de baianas e cocadas.
A Baiana tem Cocada é uma toada interpretada pela cantora Gilda de Abreu. Da autoria de Ary Kerner Veiga de Castro,
traz o acompanhamento da orquestra Pan American, sob a direção de Simon Bountman. Disco Odeon 10.651-A, matriz 3713. Lançado em agosto de 1930.
Velha Baiana, é um importante registro do teatro de revista, interpretado pela cantora e atriz Aracy Côrtes e o compositor (e também cantor) Alberto Ribeiro.
É uma ótima oportunidade de conhecermos um pouco de como eram feitas as cenas no teatro musical dos anos 30.
Detalhe para o improviso de Aracy e a resposta de Alberto, quando ele esbarra em alguma coisa no estúdio de gravação, fazendo barulho. Trata-se de uma cena típica de Napoleão Tavares e do próprio Alberto Ribeiro. Acompanhamento da Orquestra Columbia. Disco Columbia 22.134-B, matriz 381287 Lançado em julho de 1932.
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