terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Cozinha Lusófona-Micate Angolano

Micate é o nome de um bolinho africano, típico em Angola, Moçambique e demais países africanos, similar a um Bolinho de Chuva, também se parece com os “Sonhos” aqui do Brasil. 

Embora não haja uma única variedade de Micates, em sua acepção mais generalizada o micate se parece ao “sonho”, sendo um doce frito (ou cozido), “feito com massa de farinha de mandioca ou de arroz, coco ralado e leite de coco“. 
A palavra micate terá entrado no português por alguma das várias línguas africanas bantas, uma vez que variações de “micate” são encontradas nas línguas de vários países africanos: na língua lingala, falada no Congo, chamam-se mikate, nome que acabou entrando na língua francesa, ao lado do sinônimo “beignets congolais” (“sonhos congoleses”).

Em quicongo, os bolinhos são chamados “mikati” . Em suaíli (swahili), língua franca de grande parte da África oriental, mkate significa “pão”(com o plural mikate, “pães”). Dos grandes dicionários lusófonos atualizados, apenas o da Porto Editora registra “micate” (substantivo masculino) – estranhamente, porém, como “moçambicanismo” (embora seja amplamente usado também em Angola e nos demais países africanos de língua portuguesa), e indicando tratar-se de bolo cozido, não frito. 

Um Dia no Mercado do *Imbodeiro

Uma visita ao mercado em Luanda, nos permite, conhecer melhor a dieta de uma comunidade. complementando o observado nas residências. A base da alimentação da comunidade bakongo em Luanda continua a ser o funge, um pirão espesso feito da fina farinha de mandioca, a fuba. 
A fuba prepara-se com a mandioca amolecida na água e seca no sol. Depois ela é posta a moer. 

O funge é preparado com a fuba cozida na água fervente, mexida vigorosamente com uma colher de pau específica para desfazer os caroços do cozimento. Come-se com qualquer comida com bastante molho, seja peixe, frango, carne, miúdos ou mesmo uma verdura, como a couve ou a kizaca (folha de mandioca) picadas e cozidas no óleo de palma. 
O óleo de palma, conhecido entre nós como azeite de dendê, é também a gordura básica da cozinha kongo, apesar do uso crescente do óleo de soja, mais usado para as comidas introduzidas depois, como macarrão, arroz, cozidos e frituras em geral. É rotineiro o uso de folhas como a couve, a kizaca e a fûmbua, sempre cozidas. 
Outro produto muito apreciado, embora caro e servido em dias especiais, é a semente de abóbora, mbika com a qual se faz um bolinho cozido, que acompanha outros pratos com molho. Pouco se come vegetais crus na forma de salada. Paulatinamente, vai se acrescentando na dieta dos bakongo de Luanda, as comidas ditas ocidentais, como massas, batatas fritas, cozidos, enlatados, embora com muito menos freqüência do que a população luandense em geral. Uma característica destas praças de bairro é a venda a retalho, em unidades bem pequenas. 
As mulheres compram os ingredientes para fazerem o jantar a cada dia, pois não têm dinheiro suficiente para compras semanais e também não têm formas seguras de armazenamento, pois ainda que possuam geladeira, não há garantia de que haverá energia para mantê-las ligadas. Assim, é comum a venda de óleo em pequenos saquinhos amarrados na ponta, um ou dois tabletes de caldo de galinha, montinhos com quatro ou cinco dentes de alho e metade de uma pequena latinha de extrato de tomate fechada com um pedaço de plástico. O mercado é, sobretudo, um lugar de mulheres, tanto as que vendem, como as que compram, especialmente no caso de um mercado mais voltado para as necessidades domésticas. 
Os jovens se restringem à venda de equipamentos eletrônicos, fitas de música e vídeo, à guarda e conserto de carros e mais recentemente à troca de dinheiro (que antes era uma atividade quase que exclusivamente feminina). As crianças e adolescentes de ambos os sexos ajudam as mães. 
A presença de homens geralmente é minoritária na clientela, mas presente entre os indesejáveis agentes da administração, que cobram pela licença das vendedoras (sem oferecer qualquer serviço como limpeza e manutenção do largo), além de (poucos) policiais. Há mercados de vários tipos e tamanhos em Luanda. 
Temos os grandes mercados, onde o Roque Santeiro, considerado um dos maiores mercados ao ar livre de África, aparece como o mais emblemático. 
O “Roque” está localizado contíguo ao porto de Luanda, lugar estratégico, pois originalmente era abastecido pelo contrabando e roubos da carga chegada ao porto. Atualmente o Roque se alimenta também de parte das mercadorias desviadas do porto e de armazéns, fugindo do pagamento de impostos, lembrando que Angola, cuja economia é movida pela produção de petróleo, ainda importa a maior parte de seus bens de consumo, inclusive alimentos. Na área centro e sul de Angola faz-se o funge partir da farinha de milho branco (fuba de milho). 
Na parte norte, incluindo O Roque Santeiro, junto com grandes armazéns e entrepostos comerciais abastecem os mercados menores da cidade, embora também venda mercadorias a retalho. O Mercado dos Kwanzas, no bairro da Mabor, outro mercado importante, porém bem menor que o Roque, também é suprido pela carga chegada aos portos e dos entrepostos e alimenta os pequenos mercados. 
Dentro dos bairros encontramos os mercados ou praças locais, que atendem basicamente a população ali residente, como o mercado do Imbondeiro. Um mercado deste tipo é dividido por várias seções: carnes, horti-fruti, não perecíveis, produtos de higiene, de limpeza doméstica, roupas, farmacêuticos, bebidas, equipamentos e produtos eletrônicos além de material de som e vídeo. 
Há espaço também para as pequenas praças, bem menores que os mercados de bairro, que atendem as vizinhanças das ruas em torno e contam com produtos alimentícios e de higiene e limpeza doméstica básica. As mulheres contam ainda com produtos vendidos na porta da casa de algumas vizinhas, como a fuba e óleo de palma e produtos de consumo imediato como o micate (bolinho frito), biscoitos, pedaços de fruta, grelhados, kikwanga, etc. As vendedoras recorrem aos mercados maiores para a compra dos produtos que vendem nos mercados menores. Sendo muito baixa a capacidade de investimento, pouca oportunidade elas têm de obter descontos maiores para a compra. O prazo e o crédito praticamente inexistem. Assim, elas não conseguem formar um estoque que lhes garanta uma maior produtividade e baixos também se tornam seus lucros. Provavelmente quanto menor é o mercado ou praça, menor é o lucro destas mulheres, apesar delas estarem mais próximas de casa e com mais facilidade para dividir seus afazeres do lar com a atividade de comércio. 

*O embondeiro, também conhecido como baobá, é uma grande árvore de tronco bem espesso, embora de pouca sombra. É uma árvore típica da savana africana e é associado à ancestralidade, constituindo-se um dos símbolos da África. 
Essa é uma característica importante da comunidade bakongo, um hábito trazido do meio rural. 
Os bakongo fazem normalmente três refeições diárias. O café da manhã em Luanda consiste geralmente de chá e pão, sendo que muitas vezes se aproveita frio a sobra do jantar. O almoço não é refeição importante. Come-se qualquer coisa, uma fruta, jinguba ou um almoço ligeiro, muitas vezes de forma individual à medida que cada pessoa chega em casa e sente fome. Exceção é feita às crianças às quais se oferece comida de forma mais programada. O jantar é preparado ao cair do dia, de modo farto e apreciado em família. Leia o ótimo trabalho "Os Bakongo de Angola: religião, política e parentesco num bairro de Luanda" de Luena Nascimento Nunes Pereira

Micate Angolano
Ingredientes 
2 ovos 
¾ de xícara (chá) de açúcar 
2 colheres (sopa) de manteiga 

½ colher (chá) de sal 1 colher (sopa) de fermento em pó 
1 xícara (chá) de leite 2 xícaras (chá) de farinha de trigo 
Óleo de canola para fritar 
Açúcar e canela em pó para polvilhar 
Modo de preparo 
Numa tigela, junte os ovos, a manteiga, o açúcar e o sal e misture muito bem. Acrescente alternadamente à mistura o leite e a farinha de trigo. Mexa sempre com uma colher. Junte o fermento e misture bem. Numa panela média, coloque bastante óleo. Leve ao fogo alto para aquecer. Quando o óleo estiver quente, abaixe o fogo. Com 2 colheres (sobremesa), modele os bolinhos. Encha uma das colheres com a massa. Passe de uma colher para a outra, até que a massa fique com um formato arredondado. Com cuidado, coloque pequenas porções de bolinhos no óleo quente. Deixe fritar até que os bolinhos fiquem dourados. Com uma escumadeira, retire os bolinhos. Coloque sobre um prato forrado com papel-toalha. Num prato fundo, coloque açúcar e canela em pó e misture bem. Passe os bolinhos por essa mistura até envolvê-los completamente. Sirva a seguir. Rendimento: 20 porções Bom apetite!

3 comentários:

  1. Fico feliz por saber que esteve cá em Angola, e não perdeu tempo a frisar os aspectos negativos mas sim reparar na capacidade humana que muitos Africanos têm a pensar das dificuldades. Você teve foco na cultura, tradições e essência!

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  2. puxa impossivel achar a receita que é mencionada no dicionario

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