Verbete-P Passarinha
Passarinha Frita, cortes de Baço Bovino, escaldada e temperada, sendo posteriormente frito em azeite de dendê, servido com saladinha de tomates coentro e cebola, e muita pimenta, muito apreciada como tira gosto.
Hoje vamos falar sobre a "Passarinha"(Baço Bovino), herança da cultura menos abastada europeia, na Bahia, se encontra com o Azeite de Dendê formando uma deliciosa composição.
A cultura de preparo de vísceras nos remete a Península Ibérica, onde a fome e a escarces de alimentos grassou durante muitos anos e até seculos, mas forjou uma cultura rica baseada na escarces.
Muito do que o ser humano produziu em termos de culinária e gastronomia poderia ser visto por muitos ângulos, claro que preconceito com certos alimentos, que se relacionam com faixas menos privilegiadas da sociedade dificultam uma melhor assimilação, elas existem e figuram como símbolos de resistência, independente de faixas sociais, por puro desfrute de quem sabe e se propõe a degusta-los.
Gastronomia e Relações de Gênero.
Lugar de Mulher ainda é na cozinha?
Michel de Certeau apresenta no II tomo da obra “A invenção do Cotidiano”, morar, cozinhar, especificamente no Capítulo XI “O Prato do Dia” uma interessante abordagem sobre o cozinhar no cotidiano a partir de análise sobre o papel das mulheres na preparação da comida do lar.
O autor deixa claro que não acredita que a natureza feminina está fadada definitivamente a exercer os trabalhos domésticos, ao monopólio da cozinha e das tarefas de organização do lar no contexto estudado, no caso a França, e apresenta, ao contrário do que a obrigatoriedade de cozinhar pode representar, a satisfação de mulheres ao servir o outro.
Ainda que o ato de cozinhar possa trazer alegrias para as mulheres, é preciso salientar que na cultura francesa por exemplo, o cozinhar e o ter domínio sobre as regras de servir bem sempre foi bem visto ao contrário de outras culturas.
Porém ha que ressaltar que as práticas culinárias “se situam no mais elementar da vida cotidiana, no nível mais necessário e mais desprezado” e que as mulheres estão em um nível de invisibilidade cultural e não reconhecimento cultural em suas ocupações cotidianas.
Arriscamos dizer que os resgates feitos por estudiosos que analisam a memória e a tradição dos cadernos de receita, dos patrimônios alimentares dos imigrantes na construção de identidades, as permanências de ritos e tantos outros que visam a reconhecer essas histórias são uma forma da dar o reconhecimento que as práticas cotidianas ligadas ao alimento merecem.
“Comida é cultura quando consumida, porque o homem, embora podendo comer de tudo, ou talvez justamente por isso, na verdade não come qualquer coisa, mas escolhe a própria comida, com critérios ligados tanto às dimensões econômicas e nutricionais do gesto quanto aos valores simbólicos de que a própria comida se reveste. Por meio de tais percursos, a comida se apresenta como elemento decisivo da identidade humana e como um dos mais eficazes instrumentos para comunicá-la” (MONTANARI, 2004, p.16)
O que é o Baço?
O baço é um órgão do tipo glandular localizado na região superior esquerda da cavidade abdominal do Boi.
Este órgão tem contato com o pâncreas, o diafragma e o rim esquerdo.
Enganam-se os que pensam que as vísceras e miúdos fazem parte somente de culturas menos afortunadas, podemos citar o Pane con la milza, ou sanduíche de baço bovino siciliano, “u pani câ meusa”, é o fast food mais popular de Palermo.
Uma comida para quem não tem frescura e gosta de experimentar sabores fortes.
O sanduíche é feito com um pãozinho macio coberto de gergelim e é recheado com baço cozido, com ou sem queijo. Ao invés de colocar maionese ou ketchup, adiciona-se limão à gosto. Este sanduíche é tão amado pelos palermitanos que os locais mais famosos ficar superlotados e cada um é fiel ao próprio “meusaru”, ou seja, aquele que faz o “u pani câ meusa”.
Eva e o Pecado da Gula.
Imputados à Eva, possivelmente a grande responsável pelo pecado da Gula pelo menos a partir do século XV, pelo ato guloso que conduziu a humanidade à ruína, a culinária seus mitos e interditos, tendo o prazer como seu mais importante vinculo, recaem sobre as figuras femininas. homens e
mulheres levarão uma existência maculada e condenada para sempre a uma incessante busca da salvação.
A expulsão de Adão e Eva do paraíso, segundo a narrativa do Gênesis 3, foi provocada pela falta original, ao comerem o fruto proibido. Eva, apesar de conhecer a interdição, admira e deseja o fruto de atraente aspecto, antes mesmo de o valorizar pela sua capacidade de abrir a inteligência . Ingerir o fruto proibido não decorre da satisfação do impulso natural da fome (que não existiria no paraíso), mas da apreciação estética da beleza do fruto e do desejo do conhecimento proporcionado pelo fruto que, segundo a serpente, "tornaria quem o ingerisse semelhante a Deus".
O castigo dado aos faltosos também faz parte o condicionamento alimentar. A serpente está condenada a rastejar, alimentando-se de terra. Sobre Adão, cai a ameaça da fome, afastada pela disciplina do trabalho. A gravidade do que está em causa neste acontecimento maior não se limita a haver "menos um fruto no pomar de Deus", e o facto de se terem escrito múltiplas páginas de comentários sobre a interpretação deste passo inicial do Gênesis, todas atribuindo aos elementos envolvidos na narrativa um carácter simbólico é disso prova.
No entanto, é consensual que se trata de uma narrativa mítica sobre as origens, que pretende justificar o sofrimento, a mortalidade, o trabalho e a sucessão das gerações, ou seja, um mito que concentra, numa breve narrativa, o curso observável da vida dos homens.
Por seculos modelos tentam formatar a grande pecadora, como simbolo do desvirtuamento, eximindo os homens de suas culpas, é o que pudemos ver no texto da Wanessa Asfora, Doutora em História Medieval pela Universidade de São Paulo, "Comer como um passarinho, cozinhar como uma feiticeira: a herança edênica na construção da relação entre gênero e comida"
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