sexta-feira, 31 de julho de 2015

MACKENZIE lança cursos de aprofundamento em história, sociologia e etnografia culinária; regionalismos culinários; biodiversidade comestível e técnicas tradicionais na cozinha brasileira.

"De onde tirar o conhecimento histórico-etnográfico das coisas de comer do Brasil? Como perseguir as pistas de uma história milenar de apropriação da flora para usos culinários?

Etimologia é o estudo da origem e evolução de uma palavra. Às vezes são coisas remotas, que deixaram marcas na língua, fragmentos das coisas que nomeia ou nomeou."
Carlos Alberto Dorea

No segundo semestre, o sociólogo Carlos Alberto Dória promoverá cinco cursos de extensão universitária na área dos estudos da alimentação em convênio com a Universidade Mackenzie, em São Paulo. As inscrições para sua Escola do Gosto já estão abertas, e os cursos acontecem a partir de agosto.

Com carga horária entre 12 e 30 horas/aula, vão permitir aos alunos o aprofundamento em história, sociologia e etnografia culinária; regionalismos culinários; biodiversidade comestível e técnicas tradicionais na cozinha brasileira. Entre os professores estão o próprio Dória, Paula Pinto e Silva, João Luiz Máximo da Silva, Sandro Marques e Cris Couto.

Confira os cursos e as datas:
Construção de uma perspectiva histórica sobre a formação da culinária brasileira (de 24/08 a 16/11) – O curso propõe uma revisão da formação da culinária brasileira que incorpore os resultados de pesquisas mais recentes, permitindo “desconstruir” o entendimento baseado nas obras mais antigas, como de Câmara Cascudo e Gilberto Freyre. 
Introdução à cartografia da culinária brasileira: história, espaços, produtos (de 29/08 a 28/11) – Um esforço sistemático para apresentar a culinária do país como um mosaico que não se explica através da divisão da culinária brasileira em estados e regiões (Norte, Sul, Sudeste, Centro Oeste e Nordeste), a fim de constituir um “mapa” que auxilie os pesquisadores na formulação das questões ligadas à formação e transformação da cozinha brasileira. 

A cultura e a formação do gosto (de 02 a 23/09) – Trata dos mecanismos relacionados à formação do gosto, partindo de conceitos clássicos e do equacionamento da percepção dos sabores no século XIX (cunhados por Brillat-Savarin), avança através da constituição de uma moderna teoria sobre o gosto multissensorial. 

Metodologia de pesquisa culinária: do campo à cozinha (de 25/09 a 23/10) – Tem como objetivo  habilitar o aluno a realizar pesquisas que redundem em melhor entendimento do cozinhar como um processo, considerando as relações históricas de produção, relações sociais que enlaçam produtores e consumidores e a atividade de pesquisa culinária propriamente dita dentro da cozinha. 

O que Darwin ensina para cozinheiros e pesquisadores da biodiversidade? (de 20/10 a 17/11)– O curso visa fornecer uma compreensão básica sobre a evolução e transformação do pensamento biológico de modo a habilitar o aluno a reconhecer nos seres vivos as utilidades alimentares para a espécie humana. Saiba mais clicando aqui.

Agronegócio e Agricultura Familiar expandem economia da cidade de Luís Eduardo Magalhães

População praticamente quadruplicou em 15 anos de emancipação, tudo graças ao potencial de produção de alimentos.
Leia mais:O jornalista Fernando Gabeira, grava programa para a Globo News mostrando aspectos de Luis Eduardo Magalhães.
Fernando Gabeira e Jader Oliveira


Um dos mais novos municípios baianos é também uma das maiores potências econômicas do estado. Com menos de 15 anos de emancipação, Luís Eduardo Magalhães (LEM), que fica no oeste da Bahia, se destaca no cenário nacional pelo desempenho no agronegócio. 

Programa de Fernando Gabeira para o Globo News
Do ano 2000, quando se emancipou de Barreiras - agora município vizinho -, até os dias atuais, a localidade mudou totalmente. Em nada lembra os tempos em que era o povoado de Mimoso do Oeste. De lá para cá, a população deu um salto de 18 mil habitantes para quase 80 mil. Curiosamente, parte considerável dos moradores vive em residências de altíssimo padrão, algumas com campo de golfe e pista de pouso para aeronaves.
LEM ocupa o quarto lugar no ranking estadual do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o quinto Produto Interno Bruto (PIB) per capita da Bahia (R$ 43,8 mil). Para se ter uma ideia do crescimento econômico, segundo dados do IBGE, o PIB do município era de R$ 996.983,00 em 2004 e atingiu o valor de R$ 2.773.656,00 em 2011, um crescimento de R$ 278% em apenas sete anos.
O crescimento meteórico da cidade se deve ao bom desempenho do agronegócio na região Oeste. LEM está inserida em um grupo de cerca de 20 municípios que compõem o maior polo agrícola da Bahia. É de lá que sai toda a soja produzida no estado, além de produtos como milho, algodão, feijão e café.
A soja tem sido o produto mais valorizado do momento, e equivale a 58% da área plantada da região, segundo a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). "Há alguns anos, era o café. Os agricultores variam temporariamente, de acordo com a rentabilidade", afirma o secretário de agricultura do município, Carlos Alberto Koch.
Mas nem só de Agronegócio vive o Luís Eduardo Magalhães (LEM), a agricultura familiar também tem muito a contribuir na construção desta economia.

Veja matéria feita com Jeder Oliveira para a Globo News pelo jornalista Fernando Gabeira. Jeder é selecionador e classificador de café, formado em Minas Gerais, e trabalha como responsável pela qualidade do café em todo seu processo, desde a colheita.

https://www.youtube.com/watch?v=bz5xpEWhLOw

quarta-feira, 29 de julho de 2015

CNA pede ao governo revisão de análise de risco de novas pragas do cacau de países africanos

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) solicitou, ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a imediata revisão das Análises de Risco de Pragas do cacau de países que exportam este

produto para o Brasil, entre os quais Costa do Marfim, Gana e Camarões, principais produtores mundiais da fruta. A preocupação da entidade é com o risco de disseminação de novas pragas na lavoura cacaueira, em um momento de recuperação da atividade.

Em ofício encaminhado ao órgão, o presidente da Comissão Nacional de Fruticultura da CNA, Tom Prado, explica que a medida tem o objetivo de garantir a segurança fitossanitária das lavouras de cacau no país. Ele relata que, em 2012, foi identificada a presença de insetos vivos em uma carga de quatro mil toneladas de amêndoas de cacau vinda da Costa do Marfim, maior produtor e exportador mundial, que entrou no Brasil pelo Porto de Ilhéus, na Bahia.

“Esse fato causou uma grande preocupação nos produtores”, lembra Tom Prado. Para o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Cacau e vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), Guilherme Moura, a cacauicultura passa por um momento de retomada significativa de crescimento. Assim, a possível entrada de uma nova praga “botaria por terra todo o trabalho do setor”. Entre as pragas mais conhecidas que atingem a produção cacaueira, estão a monília, o broto inchado e a vassoura de bruxa, sendo que esta última afetou grande parte da produção no final da década de 80.


“Essa recuperação é incontestável. O país hoje é autossuficiente na produção. Ainda que precisemos importar, isso deve ser feito na maneira mais segura possível”, ressalta. No ano passado, o país importou 35 mil toneladas de cacau pelo Regime Especial de Drawback, mecanismo que consiste na eliminação de tributos incidentes sobre insumos importados para industrialização de produtos visando à exportação. Segundo Moura, é incontestável a recuperação da atividade cacaueira, tanto na Bahia quanto no norte do país, principalmente no Pará e em Rondônia.


Além da retomada do crescimento da atividade, Guilherme Moura destaca o novo perfil do cacaicultor, com foco empresarial e preocupado em agregar valor ao produto, visando à melhoria de renda de toda a cadeia produtiva. Uma prova deste trabalho é que hoje o chocolate brasileiro tem reconhecimento internacional e o país hoje é o terceiro maior consumidor mundial do produto derivado da fruta.


Assessoria de Comunicação CNA

Um Clássico Baiano...? A Torta Búlgara, continua sendo uma das sobremesas mais requisitadas nos restaurantes da Soteropolis.

Torta Búlgara? 
Difícil imaginar, a cultura baiana e sua interação com a Búlgara, mas como diria o professor Guilherme Radel, muitas coisas na culinária não podem, nem devem ser explicadas.


Esta Sobremesa além de levar chocolate, ela tem uma textura semelhante a um bolo cremoso, tornando-a uma sobremesa especial e deliciosa. Pode vir acompanhada de sorvete, creme de leite, ou cobertura de chocolate derretido. 
Já para dietas com restrição à lactose e/ou glúten, ela pode ser facilmente adaptada, pois não inclui leite nem farinha de trigo! 
Então, aproveite essa receita e delicie-se!

Torta Búlgara

Ingredientes:
300g de chocolate em pó
300g de manteiga
300g de açúcar branco refinado
3 ovos inteiros
2 gemas 

Modo de Preparo:
Pré-aqueça o forno em temperatura média e unte uma forma com manteiga. Derreta a manteiga com o chocolate em pó numa panela em banho-maria. Quando estiver homogêneo, retire do fogo e junte os ovos e o açúcar, batendo bem. Leve de volta ao banho-maria e mexa até a massa engrossar. Transfira para a forma untada e leve ao forno também em banho-maria por 30 a 40 minutos.

Segunda edição do encontro da ZONA. (zona organizada de natureza autônoma).


A Borracharia abre as portas novamente para receber a segunda edição da ZONA.

Um encontro multidisciplinar que extrapola conceitos e classificações. Somos bazar de roupas, livros, objetos de decoração, comida, impressos, além de shows, lançamentos audiovisuais e uma proposta de discussão contemporânea com formadores de opinião da nossa época. Fiquem atentxs à página oficial e à do evento para acompanhar tudo que vai rolar.

Na ordem social de hoje, o mais elevado tipo de sociedade humana está nas salas de estar. Nas elegantes e refinadas reuniões das classes aristocráticas não há nenhuma das
impertinentes interferências da legislação. A individualidade de cada um é totalmente admitida. O intercurso, portanto, é perfeitamente livre. A conversação é contínua, brilhante e variada. Grupos são formados por atração. E são continuamente rompidos e reformados através da ação da mesma energia sutil e onipresente. A deferência mútua permeia todas as classes, e a mais perfeita harmonia jamais alcançada, nas complexas relações humanas, prevalece precisamente sob aquelas circunstâncias que os legisladores e homens de Estado temem como condições de inevitável anarquia e confusão. Se existem quaisquer leis de etiqueta, elas são meras sugestões de princípios, admitidos e julgados por cada pessoa, pela mente de cada indivíduo. / excerto extraído de 'Zona Autônoma Temporária' do autor Hakim Bey.
A gastronomia esta bem representada no Zona, com gente bacana com comidinhas, fiquem atentos as delicias do DIVEGANA, marca da agitadora veganista, ativista da cena Hip Hope e Grafiteira, alem de mandar bem nas comidinhas  Sista Katia, participa de mais esta edição com 
*kibe de berinjela
*quiche de vegetais
*tortilhas de cupuaçu com ganache
*tortilhas de paçoca com ganache

No Olhar Do Mar, a visão poetica do músico Mauricio Peixoto em ultimas apresentações no Teatro Gamboa Nova

O músico Maurício Peixoto incorporando ao seu trabalho de formação unicamente brasileira, as nuanças de seu conhecimento da música internacional, fazendo uma alquimia com doses exatas e precisas.
Além da viagem ritmo-melódica, esse músico é um compositor profundamente atento à simbiose entre as linhas melódicas e poéticas num casamento perfeito entre letra e música.

Em cartaz no Teatro Gamboa Nova, nas quintas de julho, dias 09, 16, 23 e 30, sempre às 20h, com ingressos entre R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia). Mauricio Peixoto (Direção Musical, Voz e violão) interpreta músicas de sua autoria, e outras conhecidas com arranjos especiais. O show terá uma banda de formação básica com quatro músicos com os respectivos instrumentos: baixo, bateria, guitarras e piano/teclados.

“Neste show teremos parcerias minhas com letristas e músicos como Fernando De Oliveira, Gerônimo Duarte, Manuca Almeida, Luiz Caldas, Guiga Costa, Mauro Ribeiro, Marcos Valadares, Marcelo Lopes, Luiz Lasserre e outros” – explica Peixoto, que cria um trabalho musical-harmônico-poético com a simplicidade e suavidade suficientes para sensibilizar o público. Enfim, não é um erudito, é fundamentalmente um artista popular, conhecedor da música e da poesia.

Serviço:
Quando: 09,16,23 e 30/07/2015 (quintas)
Horário: 20h (bilheteria abre uma hora antes)
Onde: Teatro Gamboa Nova – Largo dos Aflitos, Centro.
Valor: R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia)
http://www.facebook.com/Mauricio-Peixoto
Classificação: Livre

Ficha Técnica
Direção Musical, voz e violão: Maurício Peixoto
Realização: Maurício Peixoto

Cozinha Contemporânea Afro-Baiana em Festa

Ao longo da historiografia da alimentação pelo mundo, a maneira de preparar os mesmos alimentos difere de um povo para outro, ou mesmo diferenciam-se em seus próprios ambientes, em função da variação tecnológica, econômica e social. 

Mais uma prova que a Bahia, não esta dormindo, no quesito Gastronomia, as Chefs Ana Célia Batista, do restaurante Zanzibar, e Angélica Moreira, do projeto Ajeum da Diáspora, e servidos no Espaço Jeje Nagô, que tem arquitetura inspirada nos restaurantes tradicionais das comunidades rurais beninenses. O menu completo com entrada, prato principal e sobremesa custa R$30, sendo que as bebidas são cobradas à parte.

A cozinha africana contemporânea firmou suas características e elaborou suas técnicas, depois do Brasil ter sido povoado, na segunda metade do século XVI. Foi o período em que as espécies brasileiras foram transladadas ao continente africano, tais como, a mandioca, a macaxeira-aipim, o milho, o caju, entre outros. 
Repensar a cozinha Africana na Bahia e seus novos elementos, é uma forma mais que legitima de nós mostrar a dimensão ampla de um dos nossos traços mais afetivos, um belo trabalho que merece todo nosso aplauso.

A mostra faz parte do projeto Ajeum do Benin, que promove oficinas da culinária de países africanos, como Benin, Angola, Nigéria e Moçambique.

Sobre o projeto
Lançado pela Fundação Gregório de Mattos, o projeto Ajeum do Benin promove oficinas gratuitas de gastronomia africana, com o objetivo de preservar e divulgar pratos originados no
continente, bem como oferecer formação e possibilidade de geração de renda à comunidade.

SERVIÇO
O QUÊ: Mostra Gourmet Ajeum do Benin – 4ª Edição
QUANDO: 30 de julho, a partir das 18h
ONDE: Espaço Jeje Nagô | Casa do Benin – Rua Padre Agostinho Gomes, nº17, Pelourinho
QUANTO: R$30 (valor único: entrada + prato principal + sobremesa). O pagamento só pode ser feito à vista

Apesar da Agricultura Familiar no Brasil representar 70% consumidos no país, ela não tem orçamento nem políticas públicas do governo estadual paulista.

Agronegócio tem 10 vezes mais verba que a agricultura familiar em SP.

No estado mais rico do Brasil, a verba da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo representa apenas 0,5% do orçamento estadual para 2015 – ou R$ 1,129 bilhão do total de R$ 204,8 bilhões – índice que tem se repetido há anos, marcando a falta de investimentos no setor pelo governo paulista do PSDB. 

Outra questão é que 70% desses recursos - R$ 807,4 milhões – são para o agronegócio, em projetos destinados à geração e transferência de conhecimento e tecnologias, à infraestrutura e logística, à modernização e gestão de qualidade.

Nos programas estaduais de agricultura voltados aos mais vulneráveis, a verba é 10 vezes menor (R$ 88,8 milhões em 2015) para fomento ao desenvolvimento regional, fortalecimento da competividade, abastecimento e segurança alimentar (confira o infográfico).

“O governo paulista fez opção clara pelo agronegócio e hoje esse modelo está em xeque porque há um descaso com o planejamento de longo prazo, especialmente no caso da água porque falta investimento na captação e armazenamento desse recurso”, alerta Marco Antônio Pimentel, presidente da Federação da Agricultura Familiar do Estado de São Paulo (FAF-CUT/SP).
Para estimular a produção e garantir a comercialização, em 2011 o governo estadual criou o Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social (PPAIS), que determina que no mínimo 30% dos alimentos comprados por órgãos estaduais sejam da agricultura familiar.

As compras são feitas diretamente pelo governo estadual, com limite de compra de até R$ 22 mil anuais por família, e os alimentos do PPAIS são utilizados no preparo de refeições em escolas estaduais, presídios e hospitais, entre outros.
Mas desde que o programa foi efetivado, em 2012, foram assinados somente 2,5 mil contratos com 800 agricultores familiares, gerando uma movimentação financeira de R$ 6 milhões – o que resulta em apenas R$ 2.400 por contrato ou R$ 7.500 por família, na média, em todo o período.
Na avaliação do presidente da FAF-CUT/SP, o PPAIS surgiu para o governo estadual mostrar que tinha um programa de aquisição de alimentos parecido com o do governo federal, mas a proposta já nasceu errada, com a lógica na produção individual das famílias e problemas de logística


“Hoje os principais clientes são as penitenciárias, mas poucos agricultores têm acesso ao PPAIS. Foi um programa feito de cima para baixo, sem ouvir os trabalhadores rurais e sem resolver os problemas de transporte. Há erros em todos esses programas, seja estadual ou federal, mas com o controle social é possível fazer a política ir sendo adequada, o que não ocorre em São Paulo”, afirma o dirigente.

Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana

Verbete-D Doce de Tamarindo na Gamela
No tabuleiro da Baiana tem 
Vatapá, Carurú, Mungunza tem Angu pra io io
Se eu pedir você me da
o seu coração,seu amor de ia ia
No coração da Baiana também tem
Sedução, cangerê, ilusão, candonblé 
Pra você(...)
Este pregão sintonizava a cultura baiana através de Dorival Caymmi com o resto do mundo, não só a gastronomia e a musica baiana, mas acima de tudo, inseria num processo muito mais ambicioso, milhares de pessoas e suas formas de alimentar-se.

Diferentemente da sociedade da informação, formalizada nos inventos de uma série de máquinas inteligentes criadas ao logo da Segunda Guerra Mundial, origina novas responsabilidades para todos os atores sociais nela inseridos, o tabuleiro(especie de mesa/bandeja) sempre manteve contato direto entre o fregues e a vendedora, no caso a baiana, figura que sintetizava a ponte de informações dos mais diferentes alimentos e a cultura.


Doce de tamarindo era servidos por negras baianas em seus tabuleiros, onde acondicionavam grandes quantidades deste doce em grandes gamelas de madeira, (Vasilha em forma de tigela muito grande talhada, em geral de madeira ou barro), abundantes naquela época, que são a mais perfeita definição do que podemos chamar de interatividade com o mundo.

[...] vai e se instala num canto da feira local, ou numa calçada, no ponto que lhe pertence de costume; ela senta num banquinho, põe ordem no tabuleiro e vende, aos apreciadores da comida africana, os acaçás, acarajés... Em alguns pontos da cidade, à noite, na luz vacilante dos lampiões, um grupo de baianas vende suas comidas ou pequenos objetos de perfumaria, recriando do outro lado do Atlântico a "feira noturna" dos vilarejos iorubás. (VERGER, 1987)

Dos seus tabuleiros elas compartilhavam informações, inseriam pessoas, alem de divulgar sua culinária, religiosidade e cultura. De tão simbólico, o Tabuleiro, hoje serve como referencia digital, foi o caso da inspiração do Professor Nelson Pretto, que no ano de 2004, se serviu de uma experiência piloto promovendo o acesso gratuito ao mundo da informação. Leia mais aqui  


Doce de Tamarindo na Gamela
Originário das savanas africanas, o Tamarindo, é também muito cultivado na Índia, que o denominou como tâmara-da-Índia, e tratou de espalhar sua semente por toda a Ásia e América Central. Adaptou-se muito bem nos solos tropicais brasileiros.
Sua árvore grande e frondosa dá frutos em forma de longas e graúdas vagens de casca marrom cor de canela, contendo sementes envolvidas por uma polpa grudenta e carnuda de sabor agridoce quando madura. 
O gosto azedo que lhe é peculiar advém de sua incrível composição de açúcares, juntamente com os ácidos tartárico, acético e cítrico. Sua utilização culinária se dá a partir dessa espetacular polpa, que também pode ser transformada em líquido, pasta ou pó.
Este doce hoje pouco frequenta os tabuleiros locais, mas foi marca de muitas baianas tipicas, ao lado de doces de coco, cocadas, quindins e punhetas de tapioca.

Para retirar a polpa do tamarindo, coloque as vagens descascadas em uma vasilha grande e cubra com água quente. Deixe amolecer por cerca de 1 hora. Depois, raspe a polpa, separando as sementes e as membranas fibrosas. Acrescente um pouco mais de água à pasta para obter a polpa. Ela se conserva em pote de vidro hermético na geladeira por várias semanas, podendo também ser congelada.
O gostinho dos tamarindos pode ser encontrado em receitas que dão volta ao mundo. Sua acidez é perfeita para o cozimento a frio, tão apreciado nos ceviches. Molhos feitos com o líquido retirado da polpa já são produzidos em escala industrial e bastante utilizados pela culinária asiática. Por aqui é possível encontrá-los em mercados gourmet. Carnes suínas e bovinas, frutos do mar variados e até no churrasco do fim de semana o uso do molho de Tamarindo pode inovar e incrementar a refeição.
Sucos e sorvetes refrescantes, doces e licores são os preparos mais comuns no país. Entretanto, sua incrível versatilidade como ingrediente culinário tem aportado por aqui com bastante frequencia, dando cara nova aos cardápios. 
Na Índia, é muito comum encontrá-lo nos caris, em sopas de lentilha e iogurte e em vários tipos de chutneys. Na África não pode faltar no preparo do sarapatel. No México e no Egito, os refrigerantes à base de tamarindo são vendidos em lanchonetes e bares populares. Na Malásia, Tailândia e Indonésia, os caldos de peixe ganham sabor especial com o toque da acidez dos tamarindos.

Doce de Tamarindo


Ingredientes para o doce de tamarindo

500 g de tamarindo
3 copos de água
5 xícaras de açúcar mascavo
Modo de preparo

Descascar os tamarindos e não tirar os caroços, deixando de molho em uma vasilha com 3 copos de água por 4 horas. Depois levar esta mistura ao fogo, em uma panela, acrescentando o açúcar, mexendo bem. Retirar do fogo, deixar esfriar e levar à geladeira.

O tamarindo é rico em fibras que, além de ajudar a diminuir o intestino, combatem a diabetes e diminuem o apetite, mas como o doce tem açúcar, não deve ser utilizado por diabéticos nem por quem quer emagrecer.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Frutas da época são aposta para economizar

As frutas típicas do outono-inverno apresentam bom preço, aproveita e compra o que esta em oferta na feira.
Goiaba, caqui, abacate, melão, tangerina, coco, limão, kiwi, maçã, pera e laranja são opções saudáveis para acrescentar à mesa e substituir os alimentos que não estão no período de safra. 


A maior oferta desse tipo de produto no mercado diminui o preço, o que pode ajudar no orçamento familiar.

A economista Ana Caravieri recomenda que os consumidores busquem analisar os preços em folhetos de promoção antes de efetuar qualquer compra. “Gastar a sola do sapato pesquisando preços é sempre a melhor opção.”

Ela cita que as frutas são sazonais, por isso, é normal que em determinados períodos o valor aumente. Esse efeito está sendo mais intenso graças à inflação. A diversidade de alimentos disponíveis no País é grande, então, vale a pena o consumidor trocá-los pelos mais baratos durante o decorrer das estações.

A dona de casa Helenice Esmerino, 49 anos, não fica sem maçã, laranja e banana em casa, mas tende a comprar as frutas da estação pela qualidade e baixo preço. Por outro lado, a dona de casa Cristiane Cachulo Matielo, 56 anos, não deixa de “olhar” todas as opções e locais de venda antes de adquirir qualquer produto.
O Chef Alicio Charoth, inicia na quinta seu curso de cozinha, e já foi colocando no cardápio, uma receita deliciosa com Tangerina, uma torta de queijo com geleia, que aproveita toda a polpa e a casca também.

O inverno faz que ela prefira verduras e legumes às frutas, porém, a iguaria não pode faltar em sua geladeira, uma vez que o marido e a filha são apaixonados pelo item. “Comprei tangerina para mim e para minha mãe, contudo, só o fiz porque o preço estava bom. Temos que olhar as barracas da feira para conseguir o que está mais em conta. Às vezes, a diferença é de até R$ 0,50.”

As safras da mexerica do rio e tangerina poncã coincidem com esta época do ano e no estande do feirante Nelson Fratiani, no Varejão Municipal Dona Edna Cazzotto Daniel, em Jaú, as duas últimas espécies podiam ser adquiridas por R$ 2,50 (poncã) e R$ 3 (mexerica do rio) o quilo. Fora de época, os produtos podem chegar a R$ 7.

Orientação

Diante do período de recessão pelo qual o País está passando e o aumento da inflação, maior taxa desde 2003 (8,89% nos últimos 12 meses, conforme IPCA), a economista afirma que o poder de compra dos brasileiros diminuiu. A dica para esse momento é colocar todos os gastos no papel e analisar em qual setor é possível reduzir os custos.

Sair de casa para fazer compras com uma lista prévia daquilo que é realmente necessário, além de substituir marcas mais caras por aquelas menos tradicionais e preferir cortes de carnes mais baratos são saídas para não entrar no vermelho. “O momento exige cautela. O principal cuidado é não comprar nada por impulso e rever os hábitos que podem comprometer o orçamento familiar”, salienta Ana.

Tangerina:
 A cidade esta cheia de tangerinas, Mexerica em São Paulo, tangerina no Rio de Janeiro e na Bahia, bergamota no Rio Grande do Sul. Se o nome varia de acordo com o estado, a fruta é uma só. Cor de laranja, não precisa de faca para descascar e é devorada aos gomos.
Durante todo o mês de setembro, elas estão mais baratas e cheias de sucos. O momento, então, para encher a geladeira ou a fruteira é esse.
Conheça os principais tipos encontrados no mercado
Tangerina Ponkan
A mais comum de todas. Fácil de tirar, a casca pode ser esverdeada, mas por dentro ela é bem laranjinha – quando está bem madura, seu exterior fica amarelado. Docinha, tem muita fibra e os gomos são bem fáceis de separar. Ótima para levar para o trabalho. São produzidas, em sua maioria, no interior de São Paulo (em Votuporanga, Pirangi e Conchal) e no de Minas Gerais (Madre de Deus de Minas e Campanha).
Mexerica Carioquinha
São aquelas de tamanho médio, com a casca mais alaranjada, lisa, fininha e aderente aos gomos. Com um pouco mais de acidez do que a tangerina Ponkan, costuma ter sabor mais neutro, mas também é muito gostosa. Produzida principalmente no interior de Minas Gerais, em Madre de Deus de Minas.
Murcott
Meio laranja, meio tangerina, é um híbrido (cruzamento) de Ponkan e laranja Pera. Dulcíssima, é a melhor para fazer sucos que não precisam ser adoçado e têm uma cor bem forte. Evite as que são completamente verdes e as com o bico dessa cor. Encha o carrinho com as alaranjadas ou meio amarelas, sempre com o topo achatado. Vêm do interior de São Paulo (de Limeira, Aguaí e Conchal).
Veja a tabela abaixo os produtos relacionados aos meses:
Julho
laranja pêra, melão,morango, tangerina murcot, ervilha, batata doce, gengibre, mandioca, mandioquinha, rabanete, acelga, agrião, alface, almeirão, brócolis, cebolinha, couve, couve-flor, chicória, espinafre, repolho, rúcula, salsa, salsão.
Agosto

abacaxi, caju, laranja pêra, melão, melancia, morango, nêspera, tangerina murcot, ervilha, beterraba, mandioca, mandioquinha, rabanete, acelga, agrião, alface, almeirão, brócolis, cebolinha, couve, couve-flor, chicória, espinafre, repolho, rúcula, salsa, salsão.

Queijadas de Tangerina

Ingredientes:
Ovos 4
Açúcar 200 g
Queijo ricota 300 g
Leite 200 ml
Leite de coco 200 ml
Raspa e sumo de tangerinas 3
Maisena 1 + 1/2 colher de sopa
Manteiga para untar q.b.
Açúcar para polvilhar A gosto

Preparação:
Coloque todos os ingredientes no copo liquidificador e bata até obter um preparado bem homogêneo.

Unte um tabuleiro de muffins ou forminhas individuais com manteiga e polvilhe-as abundantemente com açúcar. Coloque dentro o preparado e leve ao forno quente (180 ºC), em banho-maria, durante 25 minutos, ou até que estejam douradinhas.


Desenforme quando estiverem mornas e depois de frias polvilhe-as com açúcar em pó.

Prorrogação do prazo para implementação da lei barra avanços na gestão do setor

Coordenadora do Instituto Pólis teme que coleta seletiva e fim dos aterros possam sair da pauta das prefeituras com medida aprovada pelo Senado
Aterro sanitário: matéria orgânica perdida poderia gerar energia
elétrica de biogás e reduzir contaminação do solo

A decisão do Senado de prorrogar o prazo entre 2018 e 2021 para as prefeituras se adaptarem à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) poderá provocar "uma acomodação dos municípios", critica a coordenadora de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis, Elisabeth Grimberg, para quem as gestões municipais poderão postergar o enfrentamento desse desafio.

Em entrevista à repórter Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, a especialista diz que já há ferramentas para a implementação da lei. “Há disposição de tecnologias para tratar a matéria orgânica, que é 60% da composição do resíduo domiciliar, sob a forma de biodigestão ou compostagem. É uma tecnologia já implementada pelo setor privado no Brasil, com referências de que funciona.”

“A parte dos resíduos secos é de 30% do total gerado diariamente pelas nossas residências. Também se sabe que há um caminho, que é a coleta e depois a destinação para a indústria da reciclagem. Então, seria o caso de ampliar e contar com a responsabilização do setor privado, que pela lei tem de assumir o custeio desse sistema”, analisa.

Para Elisabeth, a prorrogação da lei de resíduos sólidos é uma perda, porque quando há pressão para o cumprimento dessa política, o setor empresarial se sente pressionado para buscar alternativas. Ela explica que com recursos da União é possível fazer ações consorciadas. Na opinião dela, com o atraso na implementação das modalidades de coletas, a sociedade fica prejudicada, e também há uma perda na fração orgânica, pois a recuperação dos materiais poderia gerar energia e matéria prima.

“É uma perda absurda, pois é discutida, atualmente, a economia circular. O uso da tecnologia da biodigestão traz um benefício adicional, tem um subproduto além do composto que é a geração de energia elétrica ou de biogás”, afirma.

Até agora, as prefeituras não se adequaram à lei por diversas situações, principalmente em cidades no Norte e Nordeste. “Uma estratégia poderia ser a construção de polos que sediariam esses módulos de capacitação para trazer os municípios do entorno. Houve falta de iniciativa do poder público para contribuir, e do Ministério Público para pressionar os municípios a buscarem instrumentos para mudar o padrão de gestão.”

A coordenadora se preocupa com o atraso dos médios e grandes municípios na extinção de lixões. Ela recomenda que as prefeituras, na gestão dos contratos atuais, convoquem as empresas a ajudar na execução de biodigestão e compostagem. “Não faz sentido a política avançada que aprovamos em 2010 e se trabalhar na perspectiva de resolver o problema colocando aterros sanitários, sendo que os aterros são somente para os rejeitos, como está claro na política nacional de resíduos.”

Segundo a especialista, a crise hídrica representa uma oportunidade para acelerar o processo de implementação da lei, já que o lixões são de alto impacto no ambiente e crime ambiental desde 1998. Para a especialista, é urgente a interferência do Ministério Público para a construção de termos de ajustamento de conduta que auxiliem no fechamento dos lixões.

Elizabeth diz que há muitos lixões com alto nível de contaminação dos lençóis freáticos e bacias hidrográficas. "Porque o chorume junto com os solventes escorre pelo solo e penetra nos lençóis freáticos, e isso é grave se levarmos em conta a escassez de água e a necessidade de abastecimento humano. Os aterros têm esse problema, mesmo com a vedação adequada, pois existem vazamentos, provocando contaminação”, conclui.

Memoria Afetiva e Culinária.

Por Viviane Bevilacqua
“A tua comida é boa, mas a da minha mãe era ainda melhor”. Quem nunca ouviu esta frase? Por mais que nos esforcemos para fazer um bom prato, bem temperado e com uma apresentação maravilhosa, sempre alguém vai dizer que a comida da mãe dela era melhor, que ninguém cozinhava
como ela. 
Mesmo que a referida progenitora não fosse nenhuma chef de cozinha nem fizesse pratos gourmetizados, tão em moda hoje em dia.  Mas sabem porque isso acontece? Os especialistas têm uma boa explicação.

É porque a comida está intimamente ligada à nossa memória afetiva. Nos faz reviver momentos bons da infância, na cozinha da casa da mãe. Conseguimos até sentir o cheiro da comida dela. É como voltar no tempo e reviver bons momentos que ficaram no passado.  
“O alimento tem a capacidade de conectar as pessoas às suas lembranças mais especiais e unir familiares e amigos” diz o resultado de uma pesquisa realizada em 11 países, com mais de 7 mil pessoas, sobre o poder que os sabores possuem em suas vidas. A conclusão é a de que a relação das pessoas com a comida vai muito além do seu aspecto nutricional.

Entre os brasileiros pesquisados, 88%  afirmaram que a mãe era a responsável por cozinhar para eles na infância, criando “as melhores receitas do mundo”, independentemente do tempo que se tenha passado.  O levantamento mostrou também que a comida sempre teve e continua tendo o importante papel de conectar familiares e amigos. Mais de 80% da população pesquisada concorda que os alimentos fizeram e continuam fazendo parte, de alguma forma,  dos momentos mais importantes da sua vida.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Elogio ao boteco, por Leonardo Boff

Em razão do meu “ciganismo intelectual” falando em muitos lugares e ambientes sobre um sem-número de temas que vão da espiritualidade à responsabilidade socioambiental, e até sobre a possibilidade do fim de nossa espécie, os organizadores, por deferência, costumam me convidar para um bom restaurante da cidade. Lógico, guardo a boa tradição
franciscana e celebro os pratos com comentários laudatórios. Mas me sobra sempre pequeno amargor na boca, impedindo que o comer seja uma celebração. 
Lembro que a maioria das pessoas amigas não podem desfrutar destas comidas e especialmente os milhões e milhões de famintos do mundo. Parece-me que lhes estou roubando a comida da boca. Como celebrar a generosidade dos amigos e da Mãe Terra se, nas palavras de Gandhi, “a fome é um insulto e a forma de violência mais assassina que existe”?

É neste contexto que me vêm à mente como consolo os botecos. Gosto de frequentá-los, pois aí posso comer sem má consciência. Eles se encontram em todo mundo, também nas comunidades pobres nas quais, por anos, trabalhei. Aí se vive uma real democracia: o boteco, ou o pé-sujo (o boteco de pessoas com menos poder aquisitivo), acolhe todo mundo. Pode-se encontrar lá tomando seu chope um professor universitário ao lado de um peão da construção civil, um ator de teatro na mesa com um malandro, até com um bêbado tomando seu traguinho. É só chegar, ir sentando e logo gritar: “Me traga um chope estupidamente gelado”.
O boteco é mais que seu visual, com azulejos de cores fortes, com o santo protetor na parede, geralmente um Santo Antônio com o Menino Jesus, o símbolo do time de estimação e as propagandas coloridas de bebidas. O boteco é um estado de espírito, o lugar de encontro com os amigos e os vizinhos, da conversa fiada, da discussão sobre o último jogo de futebol, dos comentários da novela preferida, da crítica aos políticos e dos palavrões bem merecidos contra os corruptos. Todos logo se enturmam num espírito comunitário em estado nascente. Aqui ninguém é rico ou pobre. É simplesmente gente que se expressa como gente, usando a gíria popular. Há muito humor, piadas e bravatas. Às vezes, como em Minas, se improvisa até uma cantoria que alguém acompanha ao violão.

Ninguém repara nas condições gerais do balcão ou das mesinhas. O importante é que o copo esteja bem lavado e sem gordura, senão estraga o colarinho cremoso do chope que deve ter uns três dedos. Ninguém se incomoda com o chão e o estado do banheiro. Os nomes dos botecos são os mais diversos, dependendo da região do país. Pode ser a Adega da Velha, o Bar do Sacha, o boteco do Seo Gomes, o Bar do Giba, o Botequim do Joia, o Pavão Azul, a Confraria do Bode Cheiroso, a Casa Cheia e outros. Belo Horizonte é a cidade que mais botecos possui, realizando até, cada ano, um concurso da melhor comida de boteco.

Os pratos também são variados, geralmente, elaborados a partir de receitas caseiras e regionais: a carne de sol do Nordeste, a carne de porco e o tutu de Minas. Os nomes são ingeniosos: “mexidoido chapado”, “porconóbis de sabugosa”, “costela de Adão” (costelinha de porco com mandioca), “torresminho de barriga”. Há um prato que aprecio sobremaneira, oferecido no Mercado Central de Belo Horizonte e que foi premiado num dos concursos: “bife de fígado acebolado com jiló”. Se depender de mim, este prato deverá constar no menu do banquete do Reino dos Céus que o Pai celeste vai oferecer aos bem-aventurados.

Se bem repararmos, o boteco desempenha uma função cidadã: dá aos frequentadores, especialmente aos mais assíduos, o sentimento de pertença à cidade ou ao bairro. Não havendo outros lugares de entretenimento e de lazer, permite que as pessoas se encontrem, esqueçam seu status social e vivam uma igualdade, geralmente, negada no cotidiano.

Para mim, o boteco é uma metáfora da comensalidade sonhada por Jesus, lugar onde todos podem sentar à mesa e celebrar o convívio fraterno e fazer do comer uma comunhão. Para mim, também, é o lugar onde posso comer sem má consciência. Dedico este texto ao cartunista e amigo Jaguar, que aprecia botecos.

José Lins do Rego Por Carlos Drummont de Andrade

"Quando chegamos a casa o café estava pronto. Na grande sala de jantar estendia-se uma mesa comprida, com muita gente sentada para a refeição. 
O meu avô ficava do lado direito e a minha tia Maria na cabeceira. Tudo o que era para se comer estava à vista: cuscuz, milho cozido, angu, macaxeira, requeijão. Não era, porém, somente a gente da família que ali se via. Outros homens, de aspecto humilde, ficavam na outra extremidade, comendo calados. 

Depois seriam eles os meus bons amigos. Eram os oficiais carpinas e pedreiros, que também se serviam como o senhor de engenho, nessa boa e humana camaradagem do repasto."
José Lins do Rego em Menino de engenho

JOSÉ LINS do Rego 
Por CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE ... Era um romancista fabuloso, no sentido de que o humilde material nordestino de que ele se servia ganhava contornos de fábula, uma fábula apaixonante como a dos contos populares que a tradição familial brasileira costumava transmitir (será que ainda transmite?) às crianças. Sua narrativa tem quase o estilo oral dessas 'estórias', sem invenções literárias que interessem por si, e a sensação de alegria de 'ouvir' domina o leitor — mas uma angústia nova, diferente dos sustos ingênuos que os casos folclóricos ministravam, fica pregada a quem leu.
 Os romances mais autênticos de José Lins, os de sua infância dramatizada, dos quais Fogo morto é como um epílogo magistral, continuam doendo depois de lidos, porque a narrativa foi além da simples diversão aparente. 

O romancista colocou largamente sua presença entre os acontecimentos, seja de forma direta, seja através de impressões e modos particulares de ver e sentir; ofereceu-se em confidencia, tocou-nos. Só isso? Não. Seu caso pessoal se insere numa paisagem, numa cultura, numa fase econômica e política, que passam a viver em representação dramática a nossos olhos, despercebidos até então do caráter trágico do panorama, ou ainda não habituados a encontrar toda essa tragicidade em termos (tão simples) de ficção. Coube a José Lins nascer e passar a infância num período de crise, isto é, de romance em potencial, em que uma forma de viver se despedia de toda uma região. O sentimento agudo do ficcionista captou os conflitos gerados por esse desmoronamento silencioso (a transformação não era revolucionária, mas por desgaste, e poderia mesmo passar despercebida), e construiu com eles alguns livros cuja sorte independe de revisões estéticas, porque são o encontro afortunado de uma situação, de uma experiência e de um dom de narrador. Se José Lins se debruçasse mais sobre si mesmo do que sobre as coisas, se fosse mais sutil ou requintado, como desejariam alguns, esse ajustamento espontâneo não seria talvez possível, e nossa literatura teria perdido um de seus monumentos.


PDF de Menino de Engenho

Criatividade, Poesia e Sonho no olhar da fotografa Giulia Bernardelli.

É de Itália que chega a ideia: Giulia Bernardelli deixa a gravidade atuar sobre xicaras de café e depois transforma o líquido entornado em caravelas, rostos ou animais. “Decidi substituir o pincel pelo que a natureza tem para oferecer,
sejam folhas ou frutas”, explica a artista de 27 anos com um bacharelato em Belas Artes.

“Quando bebo café, reflito sobre as nunces que eu poderia criar quando lanço a bebida na mesa. No café da manhã, posso imaginar as pegadas deixada por um gatinho que passou em um potinho de geleia“.Giulia Bernardelli

Os momentos em que ela própria degusta o café é também a altura ideal para decidir a imagem que criará a seguir. 

Mas esta forma de arte não é a principal ocupação da italiana, que trabalha com crianças num museu. Toda a obra de Giulia Bernardelli é espontânea. E pode conhecê-la melhor no Instagram da artista.



DiCdOlOkO- Le Cochon de Gaza

Uma emocionante e divertida parodia sobre o conflito bélico de longa duração e difícil resolução entre israel e palestiniana é o pano de fundo para a narrativa de 'Le Cochon de Gaza', o primeiro filme realizado por Sylvain Estibal. 

Tendo como cenário a Palestina nas vésperas do chamado “plano de retirada unilateral de Israel”, 'Le Cochon de Gaza' acompanha a peculiar história de Jaafar (Sasson Gabai), um pescador palestino que inadvertidamente vê-se com um visitante inesperado no seu barco, um porco preto oriundo do Vietname que promete trazer-lhe muitas dores de cabeça.

O filme
Quando Jaffar, um pescador palestiniano, regressa da faina na sequência de uma tempestade o inesperado acontece… às redes do seu barco vai parar um porco, caído de um grande cargueiro. Jaffar tem que se livrar deste animal impuro e, de preferência, ganhar algo com isso, mas na cidade de Gaza cercada pelas tropas israelitas e governada por militantes islamitas, tal não parece nada fácil! Um Charlot a tentar livrar-se de um porco, numa aventura rocambolesca…
O realizador
Sylvain Estibal é correspondente da agência France Presse no Uruguai. E é desde Montevidéu que tem escrito nos últimos 15 anos vários livros de viagens, sobretudo sobre os desertos. Um deles, Le dernier vol de Lancaster, está na origem do filme Le Dernier vol, de Karim Dridi, apresentado na 12ª edição da Festa do Cinema Francês. Le Cochon de Gaza é a sua estreia na realização de longas-metragens e surpreende pelo enredo e pela prestação dos atores.

Nota de intenções do realizador
“É antes de mais um grito de raiva cômica. A vontade de mudar as coisas, de dar uma lufada de ar fresco, fazer os dois lados rirem-se, tanto o israelita como o palestiniano, mostrando o absurdo da situação abordando-a sob um ângulo humano e burlesco, sem agressividade mas sem poupar quem quer que seja. (…) O que no filme une as duas comunidades é a comum rejeição do porco.”

Sobre o filme
“O filme de Sylvain Estibal é uma fábula poética e burlesca que evita o empenhamento político enquanto denuncia uma situação absurda. É como uma mensagem de paz, uma garrafa atirada ao mar. Sasson Gabay é profundamente comovente e o seu porco – impecável a prestação do animal! – torna-se a ligação ideal entre as duas comunidades.”
Anthony Palou, Le Figaroscope

“Adivinharam: Le cochon de Gaza é um OVNI burlesco. Terão tanto prazer a descobrir esta farsa política como a contá-la e a partilhá-la com os vossos amigos. Neste porco tudo se aproveita.”

Guillaume Lorrain, Le Point

“Uma primeira longa-metragem não apenas original mas também muito pertinente, que encontra o equilíbrio certo entre a farsa e a fábula.”

Veja o vídeo no Sigulink: https://vimeo.com/46097385