Empreendedores de Luis Eduardo Magalhães, oeste da Bahia, contam quais foram as superações antes da estabilidade.
"Eu devo muito a Deus por ter escolhido a Bahia para viver". A declaração emocionada é de Odacil Ranzi, empreendedor rural do município de Luís Eduardo Magalhães, oeste baiano. Aos 26 anos, deixou a cidade de Passo Fundo, no Rio Grande
do Sul, com o sonho de obter estabilidade financeira por meio das atividades no campo. O G1 conta a história de pessoas que, como ele, perceberam o potencial agrícola do oeste da Bahia e ajudaram a desenvolver a região. Representantes do setor estiveram presentes no Bahia Farm Show, entre os dias 2 e 6 de junho.
do Sul, com o sonho de obter estabilidade financeira por meio das atividades no campo. O G1 conta a história de pessoas que, como ele, perceberam o potencial agrícola do oeste da Bahia e ajudaram a desenvolver a região. Representantes do setor estiveram presentes no Bahia Farm Show, entre os dias 2 e 6 de junho.
"Eu trabalhava em uma empresa em Passo Fundo e houve um comentário que um grande executivo de uma companhia havia comprado terras baratas na cidade, com terras planas e um ótimo regime de chuvas. Aquilo bateu no meu cérebro, ficou na minha cabeça e ficou me instigando. Pedi 10 dias de licença da empresa. Vim, olhei, me apaixonei. Pedi demissão, voltei e comprei a fazenda. Na época, era muito barato. A gente comprava um hectare de terra por 15 dólares. A gente com pouco dinheiro comprava uma terra boa", destaca.
Nos primeiros quatro anos, Ranzi lembra as dificuldades de manutenção em uma região sem nenhuma infraestrutura. Banho, por exemplo, só aos domingos. "Morávamos debaixo de uma barraca de lona, eu e o meu sócio. Tínhamos que buscar água a 22 quilômetros de distância e tomávamos banho uma vez por semana no domingo. Era uma grande dificuldade, porque os rios são muito longes. Então, a gente demorou quatro, cinco anos para fazermos o poço artesiano. Foram cinco anos pegando água nessa distância", lembra.
Feliz com o terreno encontrado, com o período de chuvas e rios da região, Ranzi detalha que voltou para o estado do Rio Grande do Sul para buscar mulher e filha, ainda um bebê. "Nessa jornada, a gente tem muitas histórias de dificuldades, mas também de uma grande esperança", diz. A inspiração para voltar a atuar no campo estava nos pais, pequenos agricultores que passaram a viver na cidade diante das dificuldades impostas pela vida na roça.
O cenário mudou, mas o desejo de viver no entorno das lavouras prevaleceu.
O cenário mudou, mas o desejo de viver no entorno das lavouras prevaleceu.
O primeiro plantio de Ranzi na Bahia foi em 1981. Foram 180 hectares de arroz. Hoje, o empreendedor rural tem área de plantio estimada em 13, 5 mil hectares, agora de soja e milho. "Eu sempre tive uma fé que aqui era o meu chão. Que aqui eu ia fazer o meu futuro. Meus objetivos de vida, tanto familiar quanto patrimonial, eu consegui nesses 35 anos", se orgulha. Além de empreendedor, Odacil Ranzi também é vice-presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).
Julio César Busato afirma que oeste baiano é 'terra dos sonhos' (Foto: Henrique Mendes/G1 BA)
Julio César Busato afirma que oeste baiano é
"terra dos sonhos" (Foto: Henrique Mendes/G1 BA)
"Terra dos sonhos"
Quem também deixou o Rio Grande do Sul para viver na região oeste da Bahia foi Júlio César Busato. Atual presidente da Aiba, o empreendedor lembra que chegou ao município de São Desidério ainda jovem, mas com o sonho de ver crescer os negócios da família.
"Eu nasci numa cidade do Rio Grande do Sul chamada Casca, que o meu bisavô foi um dos fundadores. Ele era agricultor. O meu pai é agricultor. Eu desde pequeno trabalhava com agricultura. Fiz faculdade de agronomia em Passo Fundo e quando me formei nós plantávamos área de 86 hectares. Achei, com pai e quatro irmãos, que isso no futuro traria problemas para sobreviver com uma área pequena. Precisávamos crescer", lembra.
Aos 28 anos, ele recorda que encontrou a terra dos sonhos no oeste baiano, especialmente pelos rios ideais para a atividade de irrigação. "A ideia era ir ou para a Bahia ou para o Mato Grosso. Eu vim conhecer a Bahia, depois fui conhecer o Mato Grosso e optei pela Bahia. Em 1988, eu fiz o meu primeiro plantio no oeste da Bahia. O oeste da Bahia plantava, na época, 200 mil hectares de soja e alguma coisinha de feijão. Essa cidade aqui não existia. Era somente um posto de gasolina", lembra.
Por falta de infraestrutura, Busato chegava a ficar três meses sem sair da fazenda comprada, dada a distância da cidade de Barrreiras, conta. "Nós fomos plantar no município de São Desidério. Na época, não tinha estrada, não tinha energia elétrica, não tinha telefone, não tinha televisão, não tinha hospital, não tinha escola, não tinha nada. Eu tinha 28 anos, eu vim com minha esposa e meu filho, que tinha 10 meses. Nós moramos na fazenda nesse período e, para se chegar na cidade, demorava entre seis e oito horas. Ficávamos dois, três meses sem sair da fazenda. Íamos só para comprar mantimentos", revela.
O primeiro plantio de Busato na Bahia foi de 880 hectares de soja. Hoje, ele possui uma área de mais de 45 mil hectares. "As dificuldades foram muitas. O preço do pioneirismo é muito grande. Ainda assim, pensar em desisitir e voltar nunca", comenta.
João Carlos Jacobens apostou no acaso até fincar morada em LEM (Foto: Henrique Mendes/G1 BA)
João Carlos Jacobens apostou no acaso até fincar
morada em LEM (Foto: Henrique Mendes/G1 BA)
Aposta no acaso
Morador de Cordelândia, no sul do Paraná, João Carlos Jacobsen, atual presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), disse que veio parar na região oeste da Bahia um pouco que por acaso.
"Cheguei aqui em 1982, com 24 anos de idade. Vim mais com o objetivo de fazer um favor para um amigo, para arranjar uns documentos de uma terra que ele havia comprado. Aquilo que nós imaginávamos que seria 30 dias, 40 dias, levou mais de seis meses. Quando passaram esses seis meses, eu já estava tão ambientado, que resolvi que iria ficar por aqui", revela.
Jocobsen conta que chegou à cidade apenas com uma mochila. Sem dinheiro, teve que procurar trabalho. "Como eu não tinha como me manter aqui, eu arranjei emprego e fui vender adubo. Também continuei cuidando da terra [que havia providenciado escritura] que ele [amigo] tinha aqui e me cedeu a terra para eu plantar sem me cobrar nada. Aí começou. Depois, entre 1982 e 1983, eu comecei a plantar", lembra.
O empreendedor revela que contou com ajuda de amigos e, por meio de um programa de desenvolvimento do Cerrado, patrocinado por japoneses, conseguiu adquirir as suas próprias terras. "Fomos construindo uma história. A partir do momento em que vai ficando conhecido, as portas vão se abrindo", admite. A primeira lavoura dele foi de 40 hectares de arroz. Hoje, o empreendedor planta uma área de 45 mil hectares. "Eu não trouxe nada. Eu só vim com uma sacola. O meu patrimônio era a roupa. Aqui, sou feliz", conclui.
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