segunda-feira, 27 de julho de 2015

Agricultura Familiar, Produtos Orgânicos e Ética na alimentação, temas que serão tratados no Festival LEM

Alimentos orgânicos, são um conceito difícil de se definir, já que é mais encarado como uma ideologia do que realmente um conjunto de técnicas e, apesar dos órgãos certificadores, não existe um consenso e nem mesmo uma padronização sobre o tema. De maneira bem geral, trata-se de alimentos que são cultivados [animais: criados], colhidos [animais: abatidos], processados, transformados, transportados e estocados sem a utilização de insumos quimicamente 
sintetizados (ou, pelo menos, com o mínimo necessário desses) e abolindo organismos geneticamente modificados.

Para a agricultura, isso se reflete no não-uso de defensivos agrícolas (= agrotóxicos, fertilizantes, adubos, pesticidas, fungicidas, etc), hormônios e anabolizantes originários da indústria química. Do ponto de vista da indústria de alimentos, estamos falando da ausência de ingredientes, aditivos e coadjuvantes artificiais (exemplo: corantes, conservantes, aromatizantes, etc). 

Na realidade estamos falando de princípios, valores e ética, questões que são levadas a serio pela Sandra Dourado, da Chácara Rebeca Moara Organic, que estará presente no Festival LEM, com sua produção isenta de pesticidas e 
defensivos agrícolas e um grande reforço a agricultura familiar. Seus produtos são vendidos diretamente da horta, nos ensinando a comer com respeito e consciência.
Alguns autores preferem os termos “agricultura biológica” ou “agricultura natural”, por conta da eventual substituição de parte dos defensivos por técnicas como rotação de culturas, adubação verde, compostagem e controle biológico de pragas. Isso leva à associação dos orgânicos com a sustentabilidade ambiental (e, às vezes, a social) – porém é interessante
lembrar que isso não é exatamente uma identidade: existem alimentos orgânicos que não são sustentáveis, e vice-versa. 
Do ponto de vista ambiental, é um fato que certos pesticidas (sintéticos ou não) podem se acumular no solo, água e ar, causando impactos significativos na natureza. Para apimentar um pouco a equação, gostaria de apontar que o principal adubo utilizado na agricultura orgânica é o esterco bovino que, apesar de “supernatural”, é um subproduto da indústria pecuária, uma das maiores geradoras de desmatamento e gases estufa. 

Mas existe um fator ainda mais importante do que tudo isso: a agricultura orgânica é, para a maioria dos alimentos, muito menos produtiva do que a convencional. Isso porque a falta de defensivos agrícolas faz com que haja muitas perdas no cultivo, colheita, transporte, processamento e estocagem dos alimentos, fazendo com que se tenha que gastar muito mais terra e recursos para produzir a mesma quantidade de alimento, além de gerar desperdícios e contaminação no varejo. E é por esse motivo que os alimentos orgânicos costumam ser mais caros. Isso vai de encontro à revolução verde – que rendeu o prêmio nobel a Norman Borlaug em 1970, considerado pai do movimento que pregava o aumento da produtividade agrícola através de técnicas como melhoramento genético de sementes, utilização de insumos industriais e mecanização. Essas práticas, hoje banalizadas na chamada “agricultura tradicional”, possibilitaram um aumento expressivo na produção de alimentos em países em desenvolvimentos, como o Brasil.

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