quarta-feira, 8 de julho de 2015

Pondo a mão na massa, Dia 8 de julho - Dia do Padeiro

O Padeiro
Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento — mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno;
acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o quê do governo.
Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:

— Não é ninguém, é o padeiro!

Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?

"Então você não é ninguém?"

Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: "não é ninguém, não senhora, é o padeiro". Assim ficara sabendo que não era ninguém...

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.

Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; "não é ninguém, é o padeiro!"

E assobiava pelas escadas.

Rubem Braga
O poeta labora Ao romper da aurora Como o padeiro, na padaria O poeta elabora sua poesia. O padeiro amassa a massa Com as mãos O poeta tece o poema No coração O padeiro se esforça se agita O poeta se acalma, medita. Ao romper da aurora O padeiro sua O poeta chora O padeiro amassa a massa Com vigor O poeta disfarça Sua dor. Enquanto todos sonham Em seus aposentos O padeiro e o poeta Preparam o alimento: Do corpo físico, o pão E o poema, do coração. Enquanto todos sonham Na madrugada fria O padeiro aquece o pão O poeta, a poesia. E, ao romper da aurora Ao nascer de um novo dia O poeta e o padeiro Celebram na padaria Há alimento para todos: Há pão e há poesia. NONATO, Raimundo. Sonhar... Voar... Viajar. Rio Branco: Fundação Elias Mansour, 2013. p.116 Copy and WIN : http://ow.ly/KNICZ

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O poeta labora Ao romper da aurora Como o padeiro, na padaria O poeta elabora sua poesia. O padeiro amassa a massa Com as mãos O poeta tece o poema No coração O padeiro se esforça se agita O poeta se acalma, medita. Ao romper da aurora O padeiro sua O poeta chora O padeiro amassa a massa Com vigor O poeta disfarça Sua dor. Enquanto todos sonham Em seus aposentos O padeiro e o poeta Preparam o alimento: Do corpo físico, o pão E o poema, do coração. Enquanto todos sonham Na madrugada fria O padeiro aquece o pão O poeta, a poesia. E, ao romper da aurora Ao nascer de um novo dia O poeta e o padeiro Celebram na padaria Há alimento para todos: Há pão e há poesia. NONATO, Raimundo. Sonhar... Voar... Viajar. Rio Branco: Fundação Elias Mansour, 2013. p.116 Copy and WIN : http://ow.ly/KNICZ

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