sexta-feira, 3 de julho de 2015

Bacco e o Milagre da Viticultura no Vale do São Francisco

Quando se pensa em vinhos no Brasil, a primeira associação é ao Rio Grande do Sul -Estado que é o maior produtor do país. Mas há tempos a vinicultura deixou de ser monopólio gaúcho.
Uma das regiões que desponta nesse cenário é o sertão baiano/pernambucano, terra de contrastes que une a vegetação peculiar da caatinga às terras banhadas pelo rio São Francisco. É nelas que a aridez cede espaço para a
exuberância da produção agrícola.
As terras férteis da região produzem frutos como manga e goiaba, exportados para diversos países, mas também uvas -de castas “de mesa”, apropriadas para sucos ou consumo in natura, às viníferas. Malbec, cabernet sauvignon, merlot, chenin blanc e tannat são alguns dos nomes ouvidos pela região.
Do vale do São Francisco saem 7 milhões de litros por ano dos chamados vinhos finos –pouco mais de 15% da produção nacional–, com um diferencial em relação a outras regiões produtoras: aqui, se faz vinho quase que sem interrupção, em até três safras ao longo do ano.

O apoio da unidade para estudo de uvas e vinhos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) criou um polo de desenvolvimento de fruticultura irrigada na região.

Em Petrolina (PE), cidade-base para quem visita a região, o próprio Centro Tecnológico da Uva e do Vinho, laboratório da Embrapa Semiárido, pode ser visitado (tel. 87/3866-3600) –uma trilha de 300 metros mostra a diversidade da flora e da fauna da caatinga.

Mas vinho mesmo, e para conhecer os métodos de produção e degustar a bebida direto da fonte, está nas vinícolas.

São, hoje, ao menos seis delas, entre os municípios de Casa Nova, na Bahia, e Petrolina, Santa Maria da Boa Vista e Lagoa Grande, em Pernambuco. Três –a fazenda Ouro Verde (administrada pelo grupo Miolo), a Santa Maria (ligada ao grupo português Dão Sul) e a Adega Bianchetti– abrem as portas para os turistas.

Em Lagoa Grande, conhecida em todo o Brasil como a capital da uva e do vinho do Nordeste, existem cerca de dez
vinícolas, responsáveis pela geração de 10,5 mil empregos. 
A Festa da Uva e do Vinho oferece aos visitantes e moradores de Lagoa Grande diversas atrações. Além de degustar as uvas e vinhos da cidade, os participantes do evento podem conhecer algumas fazendas da região para passear entre as videiras e verificar todas as etapas de produção vinícola, desde o plantio da uva até o acondicionamento do vinho.

Situado entre a Bahia e Pernambuco, numa latitude até então impensável para o mundo do vinho (8º) o Vale do São Francisco caminha para ser um dos importantes produtores vitivinícolas do país e desperta a curiosidade mundial

Responsável por 99% da uva de mesa exportada pelo Brasil e pela produção de 5 milhões de litros de vinho por ano, o vale vem se destacando como modelo de desenvolvimento para o Nordeste.

A vinicultura pernambucana/baiana já detém 15% do mercado nacional e emprega diretamente 30 mil pessoas na única região do mundo que produz duas safras e meia por ano.
Vale do São Francisco torna-se um oásis e potencial destino turístico para a temporada. 
A região capaz de produzir cinco safras a cada dois anos com vinhos jovens, leves, aromáticos, frutados, de acidez acentuada e com o frescor que nosso clima tropical exige.
 “O solo é raso e a seca ininterrupta durante oito meses do ano. Mesmo assim, nossas vinícolas são as únicas no mundo onde se pode plantar e colher em qualquer época do ano. Graças às três mil horas de sol intenso e à cultura irrigada com as águas do São Francisco. Não tem para o Chile,
Portugal, nem para ninguém”, destaca o sommelier José Figueiredo, personalidade em Lagoa Grande, município do Vale que conta com quatro vinícolas: Bianchetti, Garziera, Santa Maria (Rio Sol) e Château Duccos.

E não vale virar o queixo para as garrafas que saem da região. Em 2012, o Testardi – tinto varietal elaborado apenas com uva syrah na Fazenda Ouro Verde (Grupo Miolo) – foi considerado o melhor do país. Outro tinto de destaque é o Paralelo 8, da Rio Sol (da Vitivinícola Santa Maria, a maior do estado), com uvas Aragonez, Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Syrah e Cabernet Sauvignon, com amadurecimento de oito meses em carvalho francês. Única vinícola do Nordeste a produzir vinhos orgânicos, a Bianchetti também aposta nos sucos. Outra vinícola que merece destaque é a Botticelli, pioneira no Nordeste no cultivo de uvas para exportação.

Na Fazenda Santa Maria, produtora dos vinhos Rio Sol, os visitantes podem circular pelas parreiras e comer uvas direto do pé.

O paraíso das videiras não está tão longe assim. Há voos diários até Petrolina, principal cidade do Vale do São Francisco. Há agências de turismo locais que organizam passeios às vinícolas (confira abaixo), com direito a degustações, e buscam os visitantes nos hotéis. Por R$ 150, por exemplo, o turista pode visitar os parrerais (e comer as uvas) da Fazenda Santa Maria, acompanhar o processo de elaboração dos vinhos Rio Sol, fazer um passeio de catamarã no São Francisco com degustação de espumantes e ainda almoçar na casa grande.


VINÍCOLAS

Bianchetti
Adega Bianchetti Tedesco – Estrada dos Vermelhos, s/n., Zona Rural, Lagoa Grande
Informações: (87) 3991-2019 e vinhosbianchetti@bol.com.br

Vinhos Bianchetti
Tintos: Cabernet Sauvignon; Petite Syrah; Tinto Leve Suave Bianchetti.
Brancos: Sauvignon Blanc; Moscato.
Espumantes Bianchetti: Branco Brut; Moscatel Asti; Rosé Demi-Sec.

Bianchetti foi a primeira produtora de vinhos orgânicos no Nordeste. Crédito: Diogo Carvalho/DP
Bianchetti foi a primeira produtora de vinhos orgânicos no Nordeste. Crédito: Diogo Carvalho/DP


Botticelli
Vinícola do Vale do São Francisco, na Fazenda Milano – Zona Rural, s/n, Santa Maria da Boa Vista
Informações: (87) 3860-1536 e (81) 3252-8912 e www.botticelli.com.br

Vinhos
Tintos: Cabernet Sauvignon (Varietal); Petite Syrah; Tannat; Ruby Cabernet (Coleção).
Brancos: Moscato Canelli; Chenin Blanc (Varietal).
Espumantes: Asti; Brut.


Rio Sol
Vitivinícola Santa Maria – Fazenda Planaltino, s/n, Lagoa Grande
Informações: (87) 3860-1587, (81) 3471-3778 e joaosantos@vinibrasil.com.br

Vinhos
Tintos: Adega do Vale; Rendeiras; Rio Sol; Rio Sol Reserva; Rio Sol Winemaker's Selection; Paralelo 8 (Super Premium).
Brancos e Rosés: Rio Sol; Adega do Vale.
Espumantes: Rio Sol – Brut (Branco e Rosé); Demi-Sec; Moscato
Adega do Vale: Brut; Moscato

Miolo é uma das maiores produtoras da região, com destaque para os espumantes.

Miolo
Vinícola Ouro Verde – BR 235, Km 40, Santana do Sobrado, Casa Nova
Informações: (74) 3536-1132 e flavio.durante@miolo.com.br

Vinhos
Tinto: Vinho Miolo Testardi, Shiraz (safra 2007); Cabernet Sauvignon (Reserva – safra 2006).
Branco: Drymuscat (safra 2006).
Espumante: Brut (safra 2007); Demi-Sec (safra 2007); Moscatel (safra 2007).
Conhaque: Osborne Brandy.

* O Vale do São Francisco ainda conta com as vinícolas Terroir Do São Francisco/Garziera (www.vinhogarziera.com.br) e Château Duccos, que não foram visitadas pela reportagem.


Dica preciosa do Vale:

Não deu para visitar todas as vinícolas que queria? Dê um pulinho na Sommelier do Vale, loja do pesquisador e documentarista José Figueiredo. Lá dá para encontrar praticamente todos os rótulos produzidos no Vale do São Francisco, alguns deles mais baratos que os encontrados nas próprias lojas das fazendas produtoras. Além dos vinhos, produtos de higiene e de beleza elaborados exclusivamente com as uvas da região, a linha cosmética Adega do Corpo.

A Sommelier do Vale fica na Rua Leste, 65, Centro de Lagoa Grande – município vizinho a Petrolina e que sedia quatro das seis vinícolas do Vale. A loja funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 14h. Nos domingos, eles só abrem com pré-agendamento. Informações: (87) 3869-9622.

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