A festa de N. S. da Conceição da Praia, em 8 de dezembro, anuncia que está chegando o verão, a estação das frutas tropicais.
Ainda hoje a rampa do Mercado Modelo, em frente à igreja da Conceição, na Cidade Baixa, fica toda bonita com essa riqueza de cores e sabores.
“[o papel das feiras] é romper o círculo demasiado estreito de trocas normais.
Sob sua forma elementar, as feiras ainda hoje existem. [...] em dias fixos, antes nossos olhos, reconstituem-se nos locais habituais de nossas cidades, com suas desordens, sua afluência, seus pregões, seus odores violentos e o frescor de seus gêneros.”
(BRAUDEL, 1998, p. 14)
Antigamente, entre os anos 1950 e 1970, além do samba de roda e das barracas de comidas e bebidas típicas, os vendedores de frutas eram traço culturalmente relevante das
festas de largo, como registram a literatura de Jorge Amado e as obras de artistas plásticos como Carybé e nas fotos de Pierre Verger.
A cidade se enchia de cores, cheiros e sabores, o povo dançava, cantava, bebia e comia, inclusive muita fruta in natura, que era farta e barata.
Os Saveiros com suas velas brancas, trazendo mercadorias do recôncavo, repletos de frutas, farinha, fumo e as mais variadas provisões para a cidade do Salvador.
A intensa movimentação desses saveiros e de
cargas de origens diversas estimulou a formação de pontos diretos de comercialização a retalho junto ao desembarque e distribuição dos víveres e objetos de uso.
Milton Santos (1959) e Katia Mattoso (1978) comentam sobre as funções comerciais da Cidade do Salvador e procuram mostrar que – sendo uma cidade voltada para o porto – a exportação e importação de produtos levou a uma organização específica deste espaço.
Espaço este aonde iriam se localizar a Feira de São Joaquim, que sempre esteve identificada à precedente, a Feira de Água de Meninos, e esta a sua originária, a Feira do Sete. Esta era móvel e os produtos comercializados vinham principalmente do Recôncavo, em saveiros trazidos pelo rio Paraguaçu à capital, dos mais variados lugares da região.
Podemos ver claramente a importância deste fluxo e refluxo, entre a cidade do Salvador e o Recôncavo, no trabalho onde ele analisa a feira-livre como objeto sociológico" a "A teia da Feira:um estudo sobre a feira-livre de São Joaquim", Salvador, Bahia, trabalho de dissertação de Márcio Nicory Costa.
Gilberto Gil no documentário Tempo Rei, em que fala das suas raízes e ligações existenciais com o sertão, diz que o sertão é assim como o umbu: é azedo; mas quando é doce, é muito doce.
Assim como é em Uauá, que dribla a seca na Bahia e todo ano colhe o umbu mais doce que já se viu.
Tempos depois, um dia perguntaram ao mestre Gil: se o sertão tem gosto de umbu, qual é, então, o sabor de Salvador. Ele não titubeou: cajá. No verão, pode-se saborear esse fruto amarelo, quando está maduro, com seu doce natural marcante. Ainda são muitos os quintais e as chácaras que mantêm de pé suas cajazeiras, que até emprestam o nome a um grande bairro da cidade.
Veja o documentário Tempo Rei
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