quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Conheça sambistas e cozinheiros que preparam as feijoadas do pré-Carnaval

O Carnaval se aproxima e a tradição se fortalece: as feijoadas das escolas de samba – que acontecem mensalmente nas quadras – viram 'point' de ritmistas, baianas e, principalmente, turistas. 

As mais tradicionais feijoadas do Rio para conhecer as "donas do feijão", os bastidores e os segredos do prato que já tem a cara do Carnaval. Todas as escolas têm um ponto em comum: o preparo começa na quarta-feira anterior, dia de limpar e escaldar as carnes do porco, seja nas cozinhas das quadras ou na Cidade do Samba. 
"Trabalhamos a semana inteira para essa feijoada. Mas fazemos tudo com muito amor e com muito prazer", afirmou a orgulhosa Tia Surica, da Portela, responsável por dar continuidade à famosa Feijoada da Tia Vicentina, na quadra de Madureira. As quantidades de feijão variam entre 80 kg e 120 kg, isso sem contar com carne seca, pé de porco, peito, paio e linguiças, carnes que têm, na maioria das vezes, as mesmas quantidades. Para acompanhar o prato, muitos quilos de arroz, farofa, torresmo, sacos de laranja -- e de 300 a 1000 molhos de couve. 
Tia Surica prepara a feijoada da Portela

"O principal segredo é o comprometimento com a escola, o amor pelo que fazemos. Mas, se pudermos destacar algum ingrediente é a 'cebola juliana', que ajuda a não deixar a feijoada seca", analisou Raul César, responsável pela feijoada da Mangueira, que reúne cerca de 1000 pessoas na quadra. Nos quatro anos em que está à frente da feijoada da verde e rosa, Raul conquistou o bicampeonato do Prêmio Rio Gastronomia de melhor feijoada, ao lado de Bruno, seu companheiro no comando da equipe de cerca de 10 pessoas. "Terminamos a semana e, principalmente o dia, exaustos. Mas ver as pessoas elogiando a nossa comida é muito gratificante. 
Os turistas vão até a cozinha para agradecer. Já teve turista que levou uma panela para o hotel", brinca ele, que supervisiona tudo de perto com o parceiro. "O olho do dono é que engorda o jardim. Por isso, acompanhamos tudo de pertinho, para ter a certeza de que vai dar certo", contou Bruno. No Salgueiro, o trabalho de equipe também é o ponto forte. "Aqui trabalhamos em conjunto o tempo todo e nos divertimos durante este trabalho. Temos a mulher-arroz, a mulher-couve, a mulher-farofa e a faz-tudo, que sou eu", brincou Angélica, responsável pela cozinha e integrante da ala dos compositores da escola. Ela também contou que há integrantes de todas as alas na equipe da cozinha, composta por cerca de 15 pessoas. No fundo da quadra, outra turma se divide para descascar e cortar os 80 kg de laranja. Todo mundo trabalhando em prol do evento, que também reúne cerca de 1000 pessoas na quadra do Andaraí. "Tudo é preparado durante toda a semana. No dia, só damos o arremate final e esquentamos o feijão. O que sobra é doado para a comunidade do Salgueiro", contou Angélica. Tia Surica prepara a feijoada da Portela O time da Portela também conta com cerca de 15 pessoas, que se revezam entre as panelas e servir os convidados. Iranette Ferreira Barcellos, a Tia Surica, que dá o nome à Feijoada, conta como tudo começou. "Começou com o feijão da Tia Vicentina. Depois, ela ficou doente e não vinha mais à quadra. Depois que ela faleceu, assumimos os trabalhos para que nem ela nem seu feijão caíssem no esquecimento. Além disso, para preservar a memória dela, temos a ala do feijão da Vicentina", afirmou a Portelense de 72 anos, que tem a irmã, Tia Irani, como fiel escudeira na missão de coordenar as cozinheiras. Mas deixar a tradição cair no esquecimento está fora de cogitação, a julgar pela quadra lotada no último sábado. O evento é um dos mais esperados do Carnaval. "Para mim é uma satisfação ver essa quadra cheia. Sempre me perguntam qual é o segredo do meu feijão. Não tem segredo. É só fazer com amor e carinho que dá certo. Ah, e uma cervejinha e uma caipirinha para completar, porque ninguém é de ferro!".

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