quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

São Benedito, Patrono dos Cozinheiros

São Benedito segundo algumas versões de sua história, nasceu em cinco de outubro de 1524, no vilarejo de São Filadelfo, região da Sicília, sul da Itália. 
Era filho de Cristóvão Manasseri e Diana Larcan, casal de descendentes de escravos da Etiópia. 

Muito pobre, ainda criança foi trabalhar com o pai como pastor de ovelhas. Devoto de São Francisco, o menino pobre tinha o hábito de rezar enquanto olhava as ovelhas pastando. Outras versões dizem que ele era um escravo capturado no norte da África, o que era muito comum no sul da Itália nesta época. 
 Neste caso, ele seria de origem moura, e não etíope. 
De qualquer modo, todos contam que ele tinha o apelido de "mouro" pela cor de sua pele. 
Falar de datas precisas acerca de fenômenos culturais chega a ser descabido, todavia, Bastide apoiado nos escritos de um jesuíta contemporâneo, fala de forma vaga quanto à introdução do culto a Benedito na América portuguesa, afirma que “ Antonil, em 1711, já se refere às festas de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário, nas capelas dos engenhos”. 
No convento, seu primeiro ofício foi de cozinheiro. 
Em pouco tempo transformou o espaço da cozinha em santuário de oração. 
Anos depois tornou-se superior do convento e modelo de devoção na comunidade. Apesar de analfabeto, dava lições aos mais ilustres teólogos e era procurado por muitos para esclarecer textos das escrituras sagradas. 
No prefácio da obra Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre desnuda uma situação inusitada, mas que demonstra bem o preconceito para com o santo, os ladrões, naqueles tempos piedosos, raramente ousavam entrar nas capelas e roubar os santos. É verdade que um roubou o esplendor e outras jóias de São Benedito; mas sob o pretexto ponderável para a época, de que “negro não deveria ter luxo”(FREYRE, 1999, p.59).

O cerne do culto a São Benedito reside, exatamente, na cor, por um lado, a veneração que lhe é devotada vem sobretudo dos escravos e mulatos, por outro, o olhar dos brancos sobre o santo é eivado pelo preconceito racial.

Tanto Roger Bastide como Mello e Sousa fazem referência à escolha do sobrenome dos negros vindos do continente africano não ter acontecido de forma aleatória, os sobrenomes, no geral, era definido pela localização geográfica de que o negro proviesse, assim, alguns traziam como acompanhante do seu primeiro nome - e esse em vias de regra, deveria ser ocidental, de preferência cristão- o “Angola”, o “Benim”, enfim , algum adjetivo pátrio. 
Benedicta usava o “Affricana”, em detrimento de um nome mais específico. 
O status de santo não conseguira isentá-lo da subalternidade tida como inerente ao negro. 
No século XIX, um outro fator será decisivo quanto ao rumo que a devoção a esse santo tomará - a romanização do catolicismo-, mais adiante retornaremos a esse assunto.

Benedito, o Mouro, o Negro ou Benedito, o Africano, é geralmente chamado simplesmente de São Benedito, vivia feliz no convento de Santa Maria de Jesus, mas o voto de obediência o levou para longe dali. 
Foi transferido para o Convento de Sant´Ana de Giuliana, onde ficou três anos. Sempre levado pela obediência aos superiores, voltou para o Convento de Santa Maria de Jesus. Ali permaneceu até a Morte. 
Patrono dos Cozinheiros
O primeiro trabalho que Benedito recebeu do superior foi o oficio de cozinheiro, e sua cozinha se transformou num santuário de oração. 
Seguindo as prescrições da Ordem, os frades se reuniam, de tempo em tempo, para tomarem importantes decisões. 
A essas reuniões se dão, até hoje, o nome de Capítulo.
Estavam os frades reunidos em Capítulo, quando Benedito e seus auxiliares perceberam que ia faltar comida para tantos frades, e que o rigor do inverno não permitiram que saíssem do convento, esmolando. 
O que faz Benedito? Chamou seus auxiliares e, como nas bodas de caná, ordenou-lhes: 
- Encham de água as vasilhas. 
- Água? Precisamos de alimento e não de água... 
- Vamos - diz o santo - Encham as talhas com água e tampe-as com pedaço de tábua. 
Os frades obedeceram. 
Benedito se recolheu em oração. Reza a noite toda, na manhã seguinte, chama seus companheiros e, juntos vão destampar as talhas. 
- Milagre gritam os frades. Peixes graúdos nadavam nas vasilhas, abençoadas por Benedito. 
Outros milagres ali aconteceram: carnes milagrosamente preparadas; transporte suave de toras pesadíssimas. 
Até que um dia, os anjos descem para ajudar o Santo Cozinheiro. O convento de Santa Maria de Jesus era um recanto silencioso e muito apropriado para retiros e recolhimentos, era o lugar preferido de Dom Diogo D´Abedo, arcebispo de Palermo, para seus retiros espirituais. 
Como Dom Diogo sabia que os frades viviam em extrema pobreza, ele costumava levar os mantimentos para suas refeições, que Benedito preparava como todo carinho. 
 Numa dessas visitas foi feita durante as festas de Natal, durante a Missa do Galo, Benedito emocionado foi receber a sagrada comunhão. 
Voltando para o seu lugar, o lado do altar-mor, pôs-se a rezar, diante de um belíssimo quadro do Menino Jesus, Benedito cai em êxtase e permanece até quase meio-dia, hora do almoço festivo de natal. 
 Pouco antes do meio-dia o superior da casa foi até a cozinha para conferir se tudo estava conforme a importância do hóspede. 
Ficou assustado com o que viu. - Santo Deus! Quase meio dia e o fogo ainda está apagado! 
Por onde andará Benedito? Os irmãos foram chamados às pressas. 
Notificados, saíram cada um para um lado, à procura de Benedito. 
Na cela, onde o frade rezador dormia... Na despensa, ninguém... Na horta, nem viva alma. 
Depois de muita procura, alguém se lembrou da capela. Só podia esta lá. 
E estava. - Benedito, rezar tem hora! Esqueceste que temos visita para o almoço? Como ficaremos diante de Dom Diogo?... 
- Meus Deus, o almoço de Dom Diogo! Ai de mim se Deus não me ajudar... 
- Pensas que Deus é seu criado? 
- Não. Deus não é meu criado. 
Mas é meu Pai e sei que não vai me faltar. 
Tu preparas a mesa que faremos o resto... 
- Faremos? 
Tu e quem mais?... 
Benedito não teve tempo para responder. Saiu correndo em direção da cozinha. 
Os frades curiosos, vão espiar pela fechadura. 
O que vêem? Dois anjos e Benedito, dando os últimos retoques em apetitosas travessas. 
Naquele dia Dom Diogo pôde se fartar de manjares celestiais... 
Toda sua dedicação e inteligência, porém, não o livraram do preconceito, até por parte de religiosos, pelo fato ser negro. Uniu-se a outros religiosos negros e juntos criaram a Confraria dos Negros Escravos, entidade que durante décadas lutou contra o escravismo. 
Mastro de São Benedito em Cairu-Ba


Benedito morreu em 4 de abril de 1589, às 19h, em Palermo, na Itália. 
Em 1.763 foi beatificado pelo papa Clemente XIII, sendo canonizado em 25 de maio de 1807, durante a festa da Santíssima Trindade, pelo papa Pio VII. Durante o período dos levantes ocorridos em Salvador, nas primeiras décadas do século XIX, o Estado Português, aprovou inúmeros compromissos de irmandades negras, ao mesmo tempo em que reprimia duramente os negros revoltosos. 
De um lado temos a repressão aos revoltosos que se recusavam a aceitar a escravidão. 
Do outro, um estímulo ao crescimento das irmandades, que agremiavam negros que, no geral, buscavam adaptar-se as regras da sociedade cristã colonial. 
Isto não impediu, porém que os negros buscassem todas as formas possíveis de acesso à liberdade, o que implicou inclusive na reinterpretação das ideologias propostas pela elite escravista. Em 1799, a Rainha de Portugal, D. Maria I, em carta ao Governador da Capitania da Bahia, manda que este remeta ao Administrador Geral da Alfândega a carta em que trata sobre “a facilidade com que os irmãos de S. Benedito defendem perante o mesmo administrador, os pretos e mulatos fugidos de seus senhores para evitar os abusos praticados".
Segundo Frei Jaboatão o culto a São Benedito já estava bem difundido na colônia desde o século XVII. 
Ele nos informa que "Não há cidade, vila, paróquia ou lugar aonde esta gente não tenha igreja sua, consagrada à Senhora com o título do Rosário (...) e que nestas igrejas não dedique altar próprio ao seu São Benedito, com confraria e irmandade sua" (Jaboatão, 1859: 91). 
A irmandade de São Benedito do convento de São Francisco em Salvador teria sido, tal qual outras existentes nos demais conventos franciscanos da colônia, uma iniciativa dos domésticos e escravos dos mesmos, embora com a concorrência de irmãos e pretos de fora. 
Entre os franciscanos, ordem religiosa responsável pela disseminação do culto a S. Benedito na colônia, a escravidão foi uma prática usual. 
Consta no livro de receitas e despesas a venda de um escravo enviado como esmola para o convento de Salvador pelo rei d'Agomé, através de seus embaixadores que ali estiveram hospedados entre 29 de novembro de 1810 e 31 de janeiro de 1811. 
Em retribuição ao presente recebido, foi enviada ao rei uma imagem de S. Benedito, juntamente com uma de S. Francisco, fundador da ordem. 
Os objetivos de tais visitas era o tráfico de escravos desenvolvido entre este reino africano e a Bahia, sendo significativo que uma imagem do santo escravo tenha sido dada. 
 O convento possuía uma senzala desde o século XVIII e, em 1817, foi construída uma capela para devoção exclusiva dos escravos, sob a invocação de N. Sra. da Conceição, invocação significativa para os franciscanos. Este período coincide com a decadência no número de religiosos - iniciada em 1759, com a interdição no recebimento de noviços -, e a necessidade de introduzir mais escravos no convento para executar as tarefas de manutenção diária do seu espaço físico, antes feitas por irmãos leigos. 
 Em 1792, o convento de Salvador possuía 65 religiosos e 80 escravos (Almeida, 1994: 154). 


"VEREQUÊTE" puxa a linha dos encantados identificado com São Benedito, Vodum nos cultos jejes-nagôs do Pará. 
É também um dos mais prestigiosos no tambor de mina, do Maranhão. Prende-se à linha de Quéviôcilé. Em África, Afrekéte, filho de Agbê e sua irmã Naéte. 
Referido por Nélio Reis no romance Subúrbio (1937: 148-9), mereceu também poema de Bruno de Menezes, incluído no livro Batuque (1966:39-41, ed. príncipe 1931). 
No alto Cairari, N. Figueiredo e A.V. e Silva (1972:27) identificam-no como "caboclo". Em Belém, o casal Leacock identificou-o como orixá (deity), indicando Averequete (vd.) como encantado (spirit) (1972: passim). Seu dia é a Sexta-feira. A festa anual lhe é dedicada no dia 23 de agosto. ETIM.: vd. Averequete. Augusto Gomes Rodrigues, dito, cantor e compositor de carimbós. O Carimbó de Verequête, assim denominado em homengem a Toya Verequête, figura conhecida nos terreiros mina-nagô nos subúrbios de Belém, tem a marca da autenticidade, a começar pela manutenção dos instrumentos típicos e o respeito às raízes negras do carimbó (...)". Vicente Salles (Vocabulário crioulo: contribuição do negro ao falar regional amazônico. Belém, IAP, 2003, p.249-250).


Os Pataxós na Bahia matem tradicionalmente os festejos em homenagem a São Benedito, em 20 de janeiro
Os Pataxós no dia 20 de janeiro, pedem esmolas em louvor à São Benedito, onde procedente do Prado, chegar às imediações de Barra Velha, acompanhada por um número razoável de pessoas. 

Os Pataxó vão ao seu encontro e, pouco depois, introduzem a esmola na aldeia, deslocando-se para a igreja, onde cantam. Os visitantes são recepcionados com boa quantidade de comida, em geral carne de porco e farinha de mandioca. 
No início da festa, na casa do festeiro, animada pelos tocadores e um toca-discos, bebe-se cauim, também denominado jaroba. 
Coxos com essa bebida são distribuídos aos participantes. 
Em geral usa-se caldo de cana e não açúcar: “a nossa cachaça é nós mesmo que faz. Cozinha mandioca, bota dentro de um cocho e deixa passar uns quatro dias. Depois tá tudo fervido. E daí em diante bota duas latas de caldo de cana dentro e tampa. Com quatro dias em diante tá tudo virado em cachaça, é mesmo que um vinagre, álcool puro”. 

Tchá cô bolo é o linguajar cuiabano legítimo 
São Benedito não é o padroeiro de Cuiabá - essa função há décadas foi atribuída ao Senhor Divino -, mas “carrega nos ombros” o peso do título de “protetor da cidade”. Não há registro documental, mas uma pesquisa recente feita pelo
devoto e coordenador das atividades paroquiais da igreja, Lucilo Libânio de Sousa, “Nonô”, mostra que em 1.721 São Benedito já era cultuado em Cuiabá. 
Inicialmente apenas pelos negros, através de uma imagem que pode ter vindo da Bahia décadas depois de chegar de Portugal. 
O bolinho de arroz virou o “quitute oficial” da tradicional Festa de São Benedito, nos quatro dias do evento, fieis costumavam sair da missa e passar no espaço dela para desfrutar o ‘tchá cô bolo’. 
Dona Eulália,uma instituição em Cuiabá, 82 anos é quase, há 56 anos, quando começou a fazer bolos de arroz e de queijo para complementar a renda da família, Eulália da Silva Soares não imaginava que seus quitutes a transformariam em um ícone da cuiabana e que se tornaria famosa nacionalmente por seu talento.
Trabalhando dia e noite para dar conta dos pedidos antes de abrir o portão de casa para os clientes. 
Na época as encomendas se multiplicaram e ela não dava mais conta da demanda. Crescidos, alguns dos oito filhos começaram a ajudar a mãe. Depois vieram os 21 netos e 18 bisnetos. A maioria hoje trabalha com a matriarca. 
Os quitutes do ‘tchá cô bolo’ começam a ser preparados um dia antes. 
Pela tarde ela seca e tempera o arroz, além de ralar a mandioca para depois misturar o angu com fubá. 
Às 3 horas da madrugada começa a preparar a massa e colocar os ingredientes como manteiga, fermento, canela, entre outros, ao mesmo tempo em que ferve a água dos chás, café e leite servidos gratuitamente. Por volta de 4 horas está tudo pronto. 

Os bolos de arroz e de queijo, chipas e demais atrativos já podem ser levados aos fogões de lenha. 
Às 5h30 dona Eulália abre o portão para os primeiros clientes. Logo o ambiente está lotado. 
Quem chega pela primeira vez se surpreende com a entrada estreita de acesso ao quintal das duas casas geminadas, de estilo simplório, situadas na rua professor João Félix, nº 470, no bairro Lixeira. “Tem gente que chega, geralmente com um amigo, e pergunta: “Mas, é aqui”! Depois que come sai tirando fotos e vem perguntar se eu sou a famosa dona Eulália”, brinca. Indagada sobre o segredo do bolo de arroz, ela para por segundos, pensa, abre um sorriso e responde: “Faço tudo com amor!”. Por gerações Dona Eulália recebe Cuiabá e todo o Brasil em sua casa com seus lanches amorosos.
 ‘Tchá cô bolo’ Bolo de Arroz Cuiabano
Ingredientes:| 
-1 kg de arroz socado e limpo
600g de mandioca ralada
+ ou -- ½ litro de água quente
2 colheres (sopa) de fermento
1 colher (sobremesa) de sal
1 pitada de canela ou erva doce
100g de coco ralado
2 xícaras (chá) de açúcar
½ xícara (chá) de manteiga derretida
Leite a gosto 

Modo de Preparo:
Soque o arroz até virar um farelo. Passe o farelo em uma peneira. Reserve. Rale a mandioca no ralador grosso. Numa panela, coloque a mandioca ralada e a água quente, até formar um angu grosso. Coloque o farelo de arroz. Acrescente a manteiga, o açúcar, o sal, o coco ralado e a canela. Mexa bem e depois acrescente o leite. Deixe descansar por 3 horas, no mínimo. Coloque o fermento só na hora de assar. Coloque o fermento só na hora de assar. {não esqueça do amor} Leve ao forno até dourar. 
DICAS:
Ao colocar a massa nas forminhas, deixe um espaço de 0,5 cm na borda, para não trasbordar.
Unte as forminhas com óleo
Se massa estiver muito grossa, coloque mais leite. 

Dona Eulália Rua João Felix nº 470 - Bairro Lixeira Cuiabá/MT Fone: (65) 3624-5653 

Receita do Bolo São Benedito de Dona Marieta de Sousa Amaral na Cidade de Pirenópolis
Ela é poetiza, contadora de causos e cozinheira de mãos cheias de Pirenópolis. 
A simplicidade é a característica mais importante desta receita:
Toda cidade tem uma alma, principalmente as menores, aquelas que ainda guardam em seu íntimo as doces
recordações do campo, não seria diferente em Pirenópolis, ainda há na prosa de seus moradores lembranças das antigas fazendas, onde os causos varavam noites ao borralho dum fogão a lenha. Mas também percebemos nas entrelinhas um certo orgulho do passado culturalmente ativo de seus ancestrais. 
Toda família pirenopolina tem um traço genealógico ligado à música, à literatura, ao teatro etc. A história de Pirenópolis está repleta de pessoas simples e de cotidiano tranquilo, mas que deixou na gaveta uma partitura inédita ou um livro manuscrito. 

Bolo de São Benedito
Ingredientes:
1kg de farinha de trigo 
1kg de açúcar 
2 a 4 ovos 

1 colher de sopa de bicarbonato de sódio 
1 prato de queijo curado ralado 
Leite 
Modo de Preparo:
Misture todos os ingredientes, por fim coloque o leite até dar o ponto. 
Unte a forma e coloque no forno pré aquecido. 

Fontes: 
http://www.conisb.com.br/saobenedito.php 
O Culto a Santos Católicos e a Escravidão Africana naBahia Colonial 

São Benedito: Santo ou negro? – A troca de um santo negro por uma santa brancana cidade de EncruzilhadaFabíola Pereira de Araújo

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