VITORINA, FILHA DE OMOLU E DE TEMPO, A NEGRA VITU,
frita o mais gostoso acarajé da Bahia e o vende na esquina do Cabeça:
acarajé e abará, cocadas diversas, moda e pé de moleque, por vezes tem
doce de tamarindo, uma coisa!
Variam os doces no tabuleiro, não varia
jamais o sorriso terno de Vitu a despachar crianças, a
conversar com os fregueses, comadre de quanto artista e escritor
existia na cidade, pois durante muito tempo fez ponto na porta do
Anjo Azul, boate sofisticada e super (ou sub) intelectual.
Não se intelectualizou Vitorina, mas certamente seu acarajé é uma obra de arte. As
baianas fornecem uma nota de alegre pitoresco às ruas e
praças e nos dias de festa ritual vestem trajes magníficos, com
as cores de seus orixás, os colares, as pulseiras, os torsos
e os balangandãs. Algumas dessas baianas gozam de larga
popularidade e seus quitutes possuem fama.
Em frente ao edifício da Alfândega, na Cidade Baixa, Odília oferece uma cocada que é maravilha das maravilhas. Outras mantêm se no mesmo ponto durante decênios, a vender à tarde ou à noite nada existe de mais saboroso do que mingau de puba (de tapioca ou de milho) pela madrugada, quentinho, na hora dos últimos boêmios, quando a cidade dorme.
Damásia da Conceição sentou se por mais de quarenta anos em frente à Escola de Belas Artes. Gerações de mestres e alunos, de pintores e desenhistas foram seus fregueses, comprando lhe acarajés e laranjas de umbigo. Quitéria de Brito ornou com sua jovial presença a Baixa dos Sapateiros durante trinta anos.
Carybé "Mulata Grande", 1980, óleo sobre tela |
Em frente ao edifício da Alfândega, na Cidade Baixa, Odília oferece uma cocada que é maravilha das maravilhas. Outras mantêm se no mesmo ponto durante decênios, a vender à tarde ou à noite nada existe de mais saboroso do que mingau de puba (de tapioca ou de milho) pela madrugada, quentinho, na hora dos últimos boêmios, quando a cidade dorme.
Damásia da Conceição sentou se por mais de quarenta anos em frente à Escola de Belas Artes. Gerações de mestres e alunos, de pintores e desenhistas foram seus fregueses, comprando lhe acarajés e laranjas de umbigo. Quitéria de Brito ornou com sua jovial presença a Baixa dos Sapateiros durante trinta anos.
Amigos e conhecidos param e demoram numa prosa descuidada: comentam as festas de terreiro, assuntos de en cantados e encantamentos, feitiços, amores e a vida cara.
Numa cidade pobre de restaurantes populares, na qual a população raramente almoça ou janta fora de casa (...) as baianas enfeitam as ruas e servem ao povo. Se não fossem elas, com seu pequeno e oloroso comércio, onde saborear um abará, um acarajé, a perfumada moqueca de aratu?
Jorge Amado, Bahia de Todos os Santos, 1945
Jorge Amado é um escritor que aborda a diversidade geopolítica baiana. É também particularmente voltado para a Cidade da Bahia, sua cidade amada.
Todo um contexto histórico-cultural da urbe está envolvido, desde os ranços deixados por seu traçado citadino até a presença do mar, com seus encantos e mistérios.
Mostra ainda um multiculturalismo originário sem deixar de tocar nas diferenças étnicas, com o destaque para a cultura negra, o que faz aparecer o caráter ímpar da terra.
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