Hoje, quase 25 anos depois, cacauicultores comemoram a recuperação em Ilheus, Sul da Bahia.
A doença, detectada na região em 1989, trouxe em sua esteira gravíssimas implicações econômicas, sociais e ambientais. Causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, que penetra nos frutos e provoca perdas significativas nas plantações, a doença arrasou um modo de vida e de cultura tradicionais no sul baiano – microrregião de Ilhéus e Itabuna, composta por 41 municípios, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para se ter ideia dos estragos, basta comparar a queda de produção enfrentada pelos produtores baianos em pouco mais de dez anos – as quase 400 mil toneladas colhidas em 1988 despencaram para pouco menos de 100 mil em 2000. Se antes bastava plantar os pés de cacau nas clareiras abertas na região úmida recoberta por mata atlântica e esperar a época certa para colher os frutos, hoje a produção depende de tratos culturais constantes, como adubação foliar e nutrição do solo em épocas certas, controle de pragas, poda de galhos em lugares estratégicos para que a árvore receba luz na medida certa e, principalmente, de clones resistentes à doença.
Com os devidos cuidados, a vassoura-de-bruxa pode ser mantida sob controle. Mas basta encontrar um ambiente favorável para ela causar sérios estragos. Isso porque o esporo do fungo pode permanecer por muito tempo dentro da planta sem contaminá-la. “Tem que fazer tudo muito benfeito, com muito zelo, muito trabalho e seguir as etapas na época certa, além de contar com mão de obra capacitada”, diz o produtor Edmond Ganem, que tem duas fazendas, uma em Ilhéus com 30 hectares e outra em Una com 242 hectares.
“A produção das duas fazendas ficará, neste ano, entre 2.300 e 3.000 arrobas. Ainda é pouco pela área cultivada, mas está em ascensão”, relata o produtor. Segundo o IBGE, a região concentra atualmente pequenas propriedades produtoras, de 20, 30 e 50 hectares. “As grandes propriedades produtoras, com 10 mil hectares, não existem mais. Se tiver, é uma ou duas”, diz Ganem, que tem na sua fazenda de Una, além do cacau, cultivos comerciais de seringueira, açaí, jequitibá-rosa, guanandi, teca, pau-brasil e diversas espécies nativas da mata atlântica.
Os números fornecidos pela Comissão Executiva dos Planos da Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mostram uma recuperação gradativa da produção no sul da Bahia.
“Temos observado um aumento gradual, com acréscimo na produção em cerca de 90%, nesses últimos 12 anos”, diz José Marques Pereira, coordenador de pesquisas no Centro de Pesquisas do Cacau, da Ceplac. Ele ressalta que, no início da década de 2000, a produção era de 96 mil toneladas, a mais baixa registrada após a entrada da vassoura-de-bruxa na região. Uma década depois, na safra 2010/2011, chegou a 153 mil, e na seguinte a 180 mil toneladas. A safra encerrada em abril deste ano, período 2013/2014, ficou abaixo do esperado, com 132 mil toneladas.
O movimento de recuperação da cacauicultura baiana também pode ser medido pela grande produção de mudas no Instituto Biofábrica de Cacau, em Itabuna. Diariamente são produzidas em seus viveiros de 15 mil a 20 mil mudas de cacau multiplicadas por estaquia, um meio de propagação vegetativa muito utilizado na produção de plantas ornamentais e frutíferas. O Instituto Biofábrica conta com 17 viveiros de produção, de onde saem também mudas de pau-brasil, ipê, jequitibá, jaca, teca e outras madeiras usadas em reflorestamento.
Nas plantações com tratos culturais, os frutos amarelos convivem com vermelhos e amarronzados, sinal da grande variedade de clones testados pelos produtores que apostaram no renascimento do cacau. Com o passar do tempo, os mais produtivos e resistentes foram e ainda hoje são selecionados para tomar lugar dos pés que não demonstraram aptidão para essa nova fase da cultura. Estimativas de produtores da região apontam que, atualmente, apenas cerca de 30% das fazendas continuam a produzir cacau.
Os cadastros do Centro de Extensão Rural da Ceplac contabilizam 35 mil produtores do fruto. “Hoje o maior problema do cacau não é a vassoura-de-bruxa, mas sim a falta de infraestrutura, de estradas rurais e de mão de obra capacitada”, diz Ganem. “Além disso, muitos produtores não conseguiram se recuperar do endividamento gerado pela crise e ficaram sem recursos para investir em novas tecnologias e na recuperação do solo esgotado pela exploração intensiva.”
O fungo age de dentro para fora, ou seja, quando a doença se manifesta na parte externa, o fruto já está podre. Ganem ainda tentou por algumas safras, mas acabou vencido pelas sucessivas perdas. “Saí da região, fiz um mestrado em gestão de negócios e procurei outra atividade porque não via mais futuro naquilo”, diz Ganem.
Assim como na maioria das plantações da Bahia – é feito no sistema cabruca. “Esse é um processo empírico que 250 anos atrás já era adotado pelos antepassados”, diz Ganem. “Eles limpavam a mata fechada, plantavam cacau e iam tirando a madeira, mas a de lei ficava preservada”, diz. Como os preços oscilavam muito na bolsa, nos momentos de crise as madeiras nobres eram vendidas.
Quando o preço do cacau retornava a um bom patamar, os fazendeiros voltavam à atividade. “Era um processo empírico que funcionava bem na região, mas foi degradado com a entrada da vassoura, porque houve uma retirada total de madeira em muitas fazendas que foram transformadas em pasto.” Posteriormente, a aprovação de um decreto federal proibiu a retirada de árvores nativas da mata atlântica. Uma nova mudança no manejo está prevista com um decreto estadual, assinado no dia 2 de junho de 2014, que regulamenta a gestão das florestas da Bahia e irá definir metas de conservação de vegetação nativa e permitir ao produtor a extração de produtos madeireiros mediante compensação.
“Não temos a cura da vassoura-de-bruxa, mas sim uma mitigação do problema baseada no manejo e na utilização de clones com maior resistência à doença”, diz o professor Gonçalo Amarante Pereira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que comprovou, por meio de pesquisas científicas, o que Edvaldo fazia empiricamente.
Ele ressalta, no entanto, que a resistência dos clones tem sido quebrada com muita frequência em pouco tempo. Ou seja, o fungo caminha mais rapidamente do que as plantas resistentes. A recuperação da produção brasileira, na sua avaliação, é baseada no conhecimento. Não existe, no entanto, solução definitiva para a praga, porque “o fungo sempre consegue ir mais rápido do que a planta”, diz o pesquisador nascido em Salvador, dono de duas fazendas produtoras de cacau na região.
Apostando na Recuperação
Diego Badaró, orquestra um dos maiores e mais sustentáveis plantios do tal "fruto de ouro" no país. Mais do que produzir chocolate gourmet orgânico, de qualidade já há alguns anos reconhecida pelos prêmios que a marca recebeu no Brasil e no exterior, Badaró usa a produção dos cerca de 100 mil cacaueiros de suas propriedades na região de Itacaré, no sul da Bahia, para preservar a floresta.
Dentre os apreciadores, um bom chocolate tem no mínimo 60%, 70% de cacau (os comuns, das grandes empresas nacionais que consumimos no supermercado variam entre 20% e 25%), e isso importa muito. A maneira orgânica que a empresa trabalha é totalmente natural, sem a ajuda de nenhum aditivo químico.
"A produção orgânica enxerga de uma outra maneira, visa à saúde da planta e não ao combate à doença. Não adianta você combater a praga, tem que fortalecer e equilibrar o sistema para que quando outra doença vier a planta tenha condições de se defender sozinha", explica. "Nós temos hoje duas cooperativas com o intuito de fazer essa defesa e a revitalização da mata, uma delas só com produtos orgânicos."
São fazendas que visam à produção do cacau aliada ao reflorestamento, criando florestas produtivas e sustentáveis, recuperando a mata através do plantio de verduras, legumes, frutos, como o próprio cacau, e árvores nativas, como o jacarandá.
Naturalmente, o cacau já é um grande aliado da preservação e do reflorestamento. Para se ter uma boa fruta é necessário se ter uma floresta preservada, já que uma boa colheita necessita de árvores maduras, com décadas e décadas de produção. Pra se ter uma idéia, o estado da Bahia possui árvores de até 300 anos, as primeiras plantadas na região, que ainda hoje seguem dando bons frutos.
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