terça-feira, 5 de maio de 2015

Produtores investem no licuri e obtêm mais ganhos

Processamento do Coco gera emprego e renda para agricultores.
Por Marjorie Moura

Preservação da vegetação nativa da caatinga, estímulo ao desenvolvimento de novas tecnologias e aumento de ganhos para pequenos agricultores são os resultados positivos obtidos por produtores rurais de várias comunidades da microrregião de Jacobina, que transformaram a realidade difícil do semiárido em oportunidades de trabalho.
Os carros-chefes do trabalho são os frutos do licurizeiro e do umbuzeiro, vegetação endêmica da caatinga brasileira, que, de ameaçadas de extinção, mudaram a realidade de centenas de famílias da região.
No próximo dia 12 de julho acontece mais uma edição da Festa do Licuri, na comunidade de São Miguel, em Caldeirão Grande.
Coopes
Um dos grupos de produtores de Capim Grosso integra a Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (Coopes), que completou  10 anos de existência no última dia 2 de maio. A entidade reúne 234 cooperandos (90% são mulheres).
A produtora Josenaide de Souza Alves, secretária-executiva e representante comercial da cooperativa, explica que o trabalho começou por iniciativa de religiosas católicas como estímulo às agricultoras. Mas o baixo preço obtido na venda do licuri in natura (R$ 0,40 o quilo) era o grande obstáculo em 2005.
Depois de fazer cursos de processamento de alimentos na região, Josenaide decidiu torrar e moer o licuri, deixando-o armazenado por um ano para verificar se estragava. Com isso não aconteceu, passou a comercializar o produto na feira, estimulando seus vizinhos.
Surgiram daí azeite, bala, licor, biscoitos, creme, granola, graças a equipamentos criados por pesquisadores do IFBahia, que agilizaram a quebra do coco e a transformação deste em pó.  O quilo do produto torrado e moído custa agora R$ 20.
Mas o grande salto veio através da Associação Slow Food, rede mundial que ajuda agricultores que trabalham com produtos sob risco de extinção. Daí surgiu o projeto Terra Madre, que levou o licuri para um festival na Itália.
Aurélio Carvalho, professor do IFBahia, explicou que o trabalho teve início em 2011, com o Edital do Proext-MEC, e continua com apoio do CNPq através do projeto Licuri, Sustentabilidade e Tecnologia nas Caatingas. Os resultados vieram nas áreas de: alimentos (professora Calila Santos) com o leite do licuri; ambiental e etnobotânica (professor Márcio Harrisson dos Santos Ferreira); e bioquímica (professor Pablo Rodrigo Piras, da Uefs).

Conhecendo o Licuri
 O licuri é um coquinho de 1,5 cm ainda desconhecido, mas por pouco tempo. Com um sabor de coco, um toque acentuado de castanha e naturalmente crocante, o licuri é conhecido também como ouricuri, aricuri ou popularmente chamado de coquinho-cabeçudo.
Do coquinho se faz leite e farinha, além de um azeite muito perfumado extraído de sua noz que tem várias utilidades, tanto como ingrediente quanto para finalizar saladas, pratos e doces. Essa iguaria fica boa doce ou salgado, verde ou madura.
Encontrado não somente no semiarido da Bahia, como também no norte de Minas Gerais, Alagoas e Pernambuco. Com o nome cientifico de Syagrus coronata, o coquinho nasce de uma palmeira de quase dez metros, em cada cacho pendem cerca de 1400 frutas. Conhecida como palmeira solitária, essa árvore sustenta ate oito cachos por vez.
Diferentemente de outras frutas, essa pode ser ingerida ao natural, mas nesse caso você deverá ter cuidado com os outros apreciadores do coquinho, o gado e a ariranha azul. Rica principalmente em cálcio, a polpa amarela rende geléias, sorvetes e doces deliciosos.  

Outra curiosidade sobre o coquinho: ele é o lugar favorito dos besouros para depositar seus ovos. As larvas crescem dentro do coco e se alimentam da noz, quando estão gordinhas são cozidas e vão parar no prato.
A cidade de Caldeirão Grande e Capim Grosso, grandes produtoras de coquinho sempre tiveram essa fruta em seu cardápio. A cidade de Capim Grosso mantém uma cooperativa desde 2005, a Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (Coopes) e gera emprego para muitos dos 30 mil habitantes da cidade.

Bolo de licuri com pimenta-de-macaco 
3/4 de xícara de licuri
1 xicara de leite
Meio tablete de manteiga sem sal (100 g)
1 e 1/3 de xícara de açúcar mascavo
3 ovos
2 xícaras de farinha de trigo
1 colher (sopa) rasa de fermento em pó
1 colher (chá) de pimenta-de-macaco moída


1 colher (café) de cravo-da-índia moído

Raspas de 2 limões (pode ser de tipos diferentes) 
Bata no liquidificador o licuri com o leite até triturar bem. Reserve. Na batedeira, bata a manteiga com o açúcar até formar um creme. À parte, bata ligeiramente os ovos e, com a batedeira ligada, vá despejando aos poucos sobre o creme de manteiga. 
Desligue a batedeira e vá juntando, aos poucos, a farinha peneirada com o fermento, a pimenta-de-macaco e o cravo da índia, alternando com o leite batido com licuri. Por fim, junte as raspas de limão e mexa bem. Despeje a massa numa forma média com buraco no meio, untada com manteiga e polvilhada com farinha. Leve ao forno médio e deixe assar por cerca de 40 minutos ou até que, enfiando um palito no centro, ele saia limpo e a superfície esteja dourada.

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