Salvador foi um porto em que etnias de língua iorubá chegaram em grande
número. Uma das mais conhecidas e presentes tradições do candomblé, a
ketu ou nagô, é originária dessa cultura.
O uso do dendê, típico entre
esses povos, encontrou-se com o costume católico de comer peixe nesse
período.
“O peixe é um símbolo cristão que tem
muita força simbólica”, explica o doutor em antropologia, professor da
Ufba e religioso do candomblé Vilson Caetano. A força simbólica do peixe
para os cristãos vem das letras com que é escrito em grego: IXTIS. Elas
indicam Jesus Cristo, Deus, Filho, Salvador.
“A partir do hábito
católico de comer peixe na Sexta-feira da Paixão, o africano do litoral
acabou acrescentando um dos seus ingredientes próprios: o dendê”,
acrescenta Caetano.
Um dado interessante é que nesse hábito não há a
tentativa de misturar rituais religiosos. Mesmo porque há o
entendimento de que Oxalá não está presente não só devido ao azeite de
dendê, mas também por ser uma data que lembra a morte.
Separação -
“Para as religiões de matriz africana, há uma clara separação entre as
divindades que são energia, os orixás, inquices e voduns, e os eguns,
que são provenientes de pessoas que já passaram pela terra e que têm um
culto muito específico”, acrescenta Jaime Sodré.
Vilson Caetano
salienta que a morte é um dos temas mais significativos e importantes no
universo afrorreligioso. “O entendimento é de que a morte é a vida que
se prolonga de outra forma. Portanto, é inegável que o universo
simbólico católico foi ressignificado pela visão das religiões de matriz
africana’, diz o antropólogo.
Ele conta, inclusive, que sua
reflexão sobre esse toque africano na data foi fortalecida ao ouvir uma
ialorixá chamar a Sexta-feira Santa de “maior”. “Inclusive essa era uma
expressão muito em uso pelos mais velhos e que, hoje, já não é tão
constante. Mas isso significa, a meu ver, que existe a questão do
respeito pela fé do outro.
Há também uma canção do culto de caboclo que
diz: o dia maior da aldeia/ é o dia da Sexta-feira”, acrescenta o
antropólogo.
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