Foto: Scott Milliman |
Um fim de tarde azul e música, música...Reflexos dos cristais de Jobim, ou enigmáticas Clarices, minha convidada de hoje no Bate&Leva, é um querida, e trafega por estes universos.
"O lugar não importa: pode ser o Japão, a Holanda, a campina inglesa.
Mas é absolutamente preciso que seja domingo.
O azul do céu ecoa na esmeralda do rio
E o rio reflete docemente as margens de relva verde-laranja
Dir-se-ia que da mansão da esquerda voou o lençol virginal de miss
Para ser no céu sem mancha a única nuvem.
A calma é velha, de uma velhice sem pátina
As cores são simples, ingênuas
A estação é feliz: o guarda da ponte chegou a pintar..." A ponte de Van Gogh
Vinícius de Moraes
Foto: Scott Milliman |
Na cozinha, ela se diz uma amadora pronta há experimentação, cultiva plantas e sonha com uma casinha em Mucujê, onde possa dedicar mais tempo as frutas orgânicas, gosta de tudo e esta sempre aberta ao novo.
Bate&Leva
< Se pudesse se sentar à mesa com Rosana Almeida, o que lhe perguntaria?
- Ai, Loko! Juro que não sei! O que você me perguntaria?
< Acha que o mercado cresceu e as pessoas estão mais conscientes do que é uma "boa alimentação"?
Foto Leandro Nuñez |
< Na Bahia, precisamente no Recôncavo, temos um patrimônio que são os "Fumeiros", com uma técnica que vem sendo desenvolvida ali há séculos mas seguem proibidos pela Saúde Pública e a polícia do Estado. Acha que o Estado deve promover a inserção deste patrimônio ou simplesmente punir, levando à extinção deste bem gastronômico?
Foto: Rafael Moraes |
É preciso que haja um esforço no sentido de adequá-la às exigências sanitárias, o que poderá acontecer se houver um mínimo de boa vontade de ambas as partes e apoio por parte do governo em relação a qualificar os produtores. Sabe-se que existem vários tipos de queijo na Europa que são produzidos sem passar pelo processo de pasteurização, o que vai de encontro às exigências dos órgãos de Saúde Pública. Não sei se a coisa funciona lá clandestinamente, mas o fato é que pequenos produtores continuam a fornecê-los. Temos que ter bom senso e não deixar que riquezas culturais sejam perdidas.
< Os brasileiros não formam um grupo étnico homogêneo, o que nos torna um pais com uma rica diversidade de culturas; esta mistura é muito propícia à criação. No nosso caso, a culinária, como tirar proveito maior destas riquezas?
- Creio que isto vem acontecendo de algum tempo para cá, com a já citada valorização de ingredientes, sabores e saberes culinários tipicamente brasileiros. Espero que os chefs ora em formação sejam cada vez mais incentivados a enveredar por este caminho.
< Como fazer para conscientizar as pessoas da importância dos orgânicos?
Foto: Scott Milliman |
< Acha que ainda somos, gastronomicamente falando, colonizados? Ou - melhor -, já estamos seguros de que a nossa culinária é fruto da nossa história? Ou isso é uma tendência?
- Acredito que estamos a caminho de valorizar cada vez mais uma gastronomia genuinamente brasileira. Mas isso não significa desprezar a arte culinária que vem de fora, que em todos os países é extremamente rica e saborosa. Eu, por exemplo, adoro a culinária indiana, vietnamita, a autêntica cozinha chinesa (não a que temos em Salvador). Todas elas, inclusive, fazem uso de técnicas que só podem vir a enriquecer e facilitar o trabalho de quem cozinha. O mundo é um só, há lugar para todos, e uma cidade cosmopolita pode oferecer o que melhor existe no planeta para a alegria do paladar de seus residentes.
< As preferências alimentares são uma das principais bases das identidades culturais. Como vê este momento, quando muitos de nossos famosos chefs voltam-se a valorizar e prestigiar pratos e produtos locais?
- Pergunte a qualquer imigrante do que é que ele sente falta e ele vai certamente mencionar a comida como um dos elementos.
O alimento com que nascemos e crescemos faz parte da nossa memória mais querida e confortante. Você vê que, por mais que se tente impor produtos como Sucrilhos para o café da manhã, os nordestinos, por exemplo, continuamos preferindo o beiju, o mingau, o cuscuz e tudo isso que faz parte da nossa história pessoal. Portanto, uma gastronomia brasileira que dê o devido valor a essa história sempre será bem recebida por estômagos e corações.
< Como vê a participação das mulheres na gastronomia hoje, ou ela segue sendo um território masculino?
- Tem essa coisa, né, de que os melhores chefs são homens. Mas tem muita mulher lhes fazendo frente: Nossa Dadá, Carla Pernambuco, Neka Mena Barreto e muitas outras. Essa lenda ainda é fruto de um machismo que vem perdendo cada vez mais importância. Talento e cabeça aberta é boa coisa e independe de gênero.
Entrevista bacana sobre comidas de raiz, o último traço de cultura que abandonamos quando moramos fora. Qual o baiano que retornando a bahia, resite a chegar junto de um tabuleiro, ao sentir o cheiro do acarajé?!
ResponderExcluirAdorei !
ExcluirLindo!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir