Isso parece simples, mas requer uma vida de aprendizagem.
Não muitos anos atrás, a função de crítico de restaurantes
estava circunscrita aos grandes veículos de comunicação.
O especialista dava suas opiniões, a audiência acolhia. Hoje, com os meios digitais, com a auto-publicação, com as redes sociais, todos podem dar seus palpites, narrar suas experiências, divulgar suas escolhas.
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Observatório da Imprensa
Diante desse novo quadro, como fica o papel da crítica gastronômica? Foi com esta pergunta que a editora do Paladar, Patricia Ferraz, abriu o debate que marcou o encerramento do 8º Paladar Cozinha do Brasil, na noite de domingo. Para uma plateia curiosa e atenta, Luiz Américo Camargo (Paladar), Josimar Melo (Folha de S. Paulo), Arnaldo Lorençato (Veja SP), Ailin Aleixo (Gastrolândia), Ana Carolina Lembo e José Luiz Soares (Do Pão ao Caviar) e Rebeca de Moraes (SP Honesta) discorreram sobre o sentido de atuar como crítico num panorama em que praticamente todo mundo pode se comportar como crítico. Entre concordâncias e discordâncias, algumas impressões parecem ser consenso.Entre elas, o fato de que, com tanto conteúdo disponível, diante do apelo sedutor do Instagram e de outras ferramentas tão ao gosto do público foodie, caberá ao consumidor separar o que é informação confiável, o que é mera crônica mundana. Josimar Melo, por exemplo, vê com ceticismo o uso da internet (“um veículo sensacional, mas capaz de potencializar o pior do ser humano”) na construção de uma nova consciência crítica. Ele defende que a avaliação cabe sempre ao expert, que se preparou para analisar pratos e restaurantes.
Arnaldo Lorençato, por sua vez, acredita que as redes sociais favorecem a criação de uma cultura de opiniões extremadas, sempre em busca “do melhor” e “do pior”, embora considere importante saber os gostos e opiniões da audiência, em canais de expressão como os prêmios do júri popular da Veja. “Mas é importante duvidar dos extremos”.
Ailin Aleixo ressaltou outro aspecto das opiniões mais radicais: “Criou-se um mito de que quem fala mal das coisas é corajoso; quem fala bem, é vendido”. Já para Luiz Américo Camargo, a função contemporânea do crítico tem a ver, antes de tudo, com curadoria: em meio a um turbilhão de fontes, de textos e imagens publicadas nas mais variadas plataformas, cabe ao especialista apontar o que realmente vale a pena. O crítico, assim, assume a tarefa de zelar pelas papilas e pelo estômago do público apontando o que realmente vale a pena.
Outra constatação compartilhada pelo grupo foi sobre o método de trabalho: a boa crítica paga suas contas, é criteriosa, estudiosa, nunca se expressa com uma única visita e se preocupa com a checagem de informações e com a prestação de serviços ao leitor. Se, apesar disso, perfis no Instagram, blogs e afins tendem mesmo a ocupar os espaços do colunismo especializado, é algo ainda difícil de afirmar. Tal qual no jornalismo em geral e em outros âmbitos da comunicação, a cobertura de gastronomia parece ainda em busca de uma nova ordem. Caberá ao leitor determinar o que realmente será realidade.
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