Os Alimentos conectam a todos nós.
A Fotografia de alimentos é a encruzilhada, onde a cultura, a comida, e as pessoas se reúnem é uma prova de perícia, controle e técnica. No trabalho de equipa que é compor o melhor “quadro” na apresentação das confecções culinárias para livros e revistas, entra em cena o food stylist. Uma atividade que exige, entre outros predicados, sentido estético e conhecimento sobre o comportamento dos alimentos.
Este espaço esta dedicado a falar de alguns destes
profissionais que dedicam tempo a compreender que para alem da foto existe muito mais que um simples alimento.
Gilberto Geronimo Oller, mais conhecido na área gastronômica e publicitária como Peninha, é um food stylist, profissional responsável por deixar irresistíveis os alimentos e bebidas que aparecem em propagandas, como no caso dos lanches do McDonald´s, e filmes.
Para isso, Peninha tem formação em gastronomia e já trabalha com publicitários desde a década de 1980. “O fotógrafo tem um trabalho mais técnico, eu mexo só com a comida. Recebo o layout da agência e faço o produto, como se fosse uma escultura viva”, explica o food stylist.
Segundo o profissional, o fotógrafo tem de 3 a 5 minutos para fazer o clique perfeito – é esse, em média, o tempo de vida das esculturas que ele monta.
Veja entrevista do Peninha, para a Revista Exame:
Henrique Ferrera |
Peninha: O meu trabalho vai além da fotografia publicitária. Você tem que saber e conhecer de comida. É como se fosse o corpo humano, precisa conhecer a anatomia dele para produzir a imagem perfeita.
Alguém de bom gosto, supostamente, saberia fazer uma coisa bonita. Mas é difícil saber a técnica, saber quais produtos usar para conseguir tal resultado. A gente tem uma didática e um método para construir os pratos. E você tem de saber como deixar a pessoa com água na boca.
EXAME.com: E demora para preparar o prato perfeito?
Peninha: Depende do prato, mas demora, sim. Já fiquei horas e horas para acertar um drink. Parece besteira, mas não é.
E para o fotógrafo tirar uma imagem, precisamos de diversos pratos iguais. Se uso um peru, por exemplo, todo ano eu faço uns três comerciais de peru... O peru é pintado, passa por um banho de sol (que é um forno aberto) e a gente dá uma cor neles.
Raul Cavalcanti Spinassé |
EXAME.com: É como a maquiagem das modelos em um peru?
Peninha: Sim! É a maquiagem das modelos no peru. E não só isso, assim como com modelos, a gente faz casting de peru. Comida é que nem gente nesse aspecto: tem tamanhos diferentes, tipos diferentes... O peru pode ter um peito grande ou uma perna mais longa.
Para fazer o casting, chegam uns 50 perus pra eu escolher. Seleciono uns oito para tratar. Usei um para mandar para o fotógrafo como modelo de luz – assim ele já ajusta luzes e câmera para tirar a foto mais rápido quando o peru “oficial” chegar. Teve uma vez que acabamos usando o peru modelo, mesmo. Aí eu só dei uma renovada nele, a gente coloca um Photoshop, esses recursos todos e ficou ótimo.
EXAME.com: Mas são tantos truques, você não acaba vendendo um produto que não existe?
Peninha: É verdade que não é o mesmo produto, mas acaba sendo o mesmo, sim. Explico: temos que seguir o padrão da receita do lugar. Os ingredientes, tudo o que vai na caixinha do sanduíche que você compra vai naquele que eu monto. Claro que eu tenho um cuidado maior com apresentação, mas essa história de “químico” é folclore. Eu faço tudo natural.
Henrique Peron |
EXAME.com: A maioria dos chefs acaba se especializando em uma área, mas o food stylist, pelo jeito, tem de saber de tudo, mesmo?
Peninha: Eu faço de tudo, mesmo. Tenho um conhecimento abrangente de gastronomia e culinária. Gosto mais de salgados, mas faço drinks, também. E estou me especializando em doces ultimamente, até engordei um pouco...
EXAME.com: Você tem muito contato com os publicitários, como um chef pode entrar nesse mercado?
Peninha: É realmente um mercado ainda muito fechado. Você tem de ter um portfólio garantido, ter boas produções. Tenho levado jovens para me ajudar, recém-formados em gastronomia. Levo porque é importante que eles aprendam, mas também porque preciso de ajuda, mesmo. Em fotografia levo um ou dois, mas quando é cinema dá para levar mais.
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