sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O APITO DE CADA UM

Carta aberta a alunos, professores e revisores 
O aluno conclui a graduação e ingressa na pós-graduação com deficiências estruturais porque as etapas anteriores ao ensino superior não cumprem o papel a que se destinam. 

A consequência é flagrante nos trabalhos acadêmicos, que evidenciam quase sempre uma escrita insipiente, apesar dos temas interessantes. A universidade é um local de produção de conhecimento, mas não o lugar inicial da educação.
O texto (monografia, dissertação ou tese) que chega à revisão demandando reparos muito além da concordância, regência, pontuação e ortografia já constitui indício suficiente de que o aluno não conseguiu escrevê-lo porque não aprendeu a organizar e a registrar as ideias com coesão, coerência, concisão e consistência.
A confusão estilística, a dificuldade na formatação e no manuseio das normas preconizadas pela ABNT se não obrigam o professor-orientador a cumprir uma função que não é sua, empurram para o revisor a tarefa de reescrever o trabalho, numa coautoria compulsória de um tema que não lhe pertence.
Não à toa, esse desvio de função – acumulado e em espiral – tem alimentado a indústria paralela e oportunista da produção de textos acadêmicos, anunciada às claras e à farta para quem quiser dela se valer ou apenas constatar.
Esse é o meu testemunho na qualidade de revisora e de pesquisadora em bibliotecas universitárias. E o testemunho como professora de redação é que os alunos que me chegam com essas tais dificuldades, ao se tornarem leitores críticos da própria produção, ganham autonomia para utilizar os serviços de revisor apenas para revisão, e ter do professor-orientador a condução intelectual do trabalho acadêmico de forma plena.
É parar e repensar. Se aluno, professor, orientador e revisor deve cada um tocar o respectivo apito. Ou está bom do jeito que está. Quem concordar favor compartilhar!
Saudações cordiais,
Eveline de Abreu.
Sobre-Escrita, redação
[sobrescrita.redacao@gmail.com]

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