Em MANAUS todos os dias, nas ruas, é possível encontrar várias pessoas que "ganham a vida" com o trabalho informal. Esses trabalhadores vendem desde produtos de informática a alimentos. São homens e mulheres que trabalham honestamente para sustentar suas famílias.
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Tão antigo quanto o da baiana de acarajé, o ofício de vender mingau nas ruas da capital baiana não dá às mulheres que mantêm viva esta tradição o devido mérito: pouca gente sabe, mas essa profissão surgiu também no período da escravidão, com as chamadas escravas de ganho, mulheres que nas ruas montavam tabuleiros para vender os quitutes para suas senhoras, pequenas proprietárias falidas.
As chamadas "escravas de tabuleiro", quando alforriadas, garantiram não só o sustento de suas famílias, como também a liberdade de alguns membros. E tiveram papel fundamental para fortalecer os laços de sociabilidade da comunidade negra nos centros urbanos, conforme explica a professora de antropologia da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Cecília Soares. "Em cada ponto de vendagem, ocorria os pares sociais. Pontos onde a comunidade negra trocava suas histórias, repassavam a história da oralidade, trocavam informações", explica.
Sem saias rodadas, apenas com tocas de cabelo, é possível encontrar as vendedoras, no nascer do sol, em seus tabuleiros em hospitais e próximo de construções civis: no lugar do acarajé estão os mingaus de aveia, fubá, tapioca, bolos e salgados. "Hoje, assim como no passado, elas representam muito para trabalhadores que não conseguem fazer a primeira refeição. Está aí a tradicionalidade, o mito. Hoje elas estão em frente a construções civis ou hospitais, cuja concentração de pessoas necessitadas é grande. As iguarias de milho, tapioca, carimã são entendidas justamente como aquilo que dá força e sustança", reforça a mestre em história e doutora em antropologia.
Força
Tanto a baiana como a vendedora de mingau passam as receitas dos quitutes de mãe para filha. É o caso de Joana Souza de Jesus, 50 anos. Há mais de 23 anos que ela vende mingau, receita que aprendeu com a avó, filha de escravos, Belara dos Santos, falecida. "É com esse trabalho que sustentei meus dois filhos, um de 27 outro de 16", conta.
A necessidade surgiu depois da morte do marido. "Tinha que cuidar de meu menino, por isso precisava chegar em casa mais cedo para acompanhá-lo". Desde então, Joana acorda todos os dias 1h50 da madrugada para preparar os mingaus. Às 5h30 está no seu ponto, na Rua Artur Machado de Azevedo, no Costa Azul. A rotina cansativa lhe rendeu muitos amigos. "Fiz amigos e vi Salvador crescer pro céu durante todos estes anos", brinca a mulher, que mora em Arenoso com o filho de 16 anos.
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