Os motivos que levam a essa defesa estão na necessidade de enfrentar os desafios da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). Desde 1998, o Fórum articula pessoas, organizações, redes, movimentos sociais e instituições de pesquisa na luta pelo Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável.
De acordo com a integrante da Coordenação do FBSSAN, 
Vanessa Schottz, a questão a respeito dos “alimentos que estamos ou não 
comendo” levou os membros do Fórum a perceber o quanto a defesa da 
comida como um patrimônio é um caminho para aproximar a dimensão 
cultural da Segurança Alimentar e Nutricional. Isto porque a forma como o
 sistema alimentar está estruturado, coloca em alto risco esse 
patrimônio. Entre as razões enumeradas por ela estão a perda da 
agrobiodiversidade, da memória alimentar e da diversidade do alimento.
Com o intuito de mobilizar a sociedade em prol da preservação da biodiversidade e cultura alimentar, o FBSSAN lança a campanha Comida é Patrimônio. 
Os objetivos são estimular a população a repensar a relação com os 
alimentos e lutar por um sistema alimentar mais justo, equitativo, 
saudável, sustentável e solidário. Assim, o Fórum busca valorizar a 
identidade alimentar, presente nas ricas regionalidades culinárias do 
país, bem como nas dimensões sociais, culturais, econômicas e políticas.
 “As lutas cotidianas que travamos pela soberania e segurança alimentar e
 nutricional estão diretamente relacionadas com o que comemos e com o 
que as gerações futuras irão comer”, explica Vanessa.
Nos próximos meses, o Fórum irá compartilhar em sua 
página no Facebook uma série de 20 cartazetes chamados de 
“pensamento-pimenta” com frases de impacto sobre o que representa comer 
hoje. O conteúdo foi selecionado a partir de pensamentos de mulheres e 
homens de diversas áreas de conhecimento, entre as quais, antropologia, 
sociologia, nutrição, gastronomia, agricultura, artes e manifestações de
 organizações sociais sobre a cultura alimentar. Além dos cartazetes 
digitais, serão apresentadas matérias e entrevistas a fim de 
proporcionar amplo debate sobre os temas propostos. O público poderá 
participar respondendo às perguntas: “que alimentos (não) estamos 
comendo?” e “Quais alimentos devemos preservar?”. Podem ser enviadas em 
forma de textos, fotos e vídeos para o e-mail secretariafbssan@gmail.com
 ou por mensagem para o Facebook. As respostas mais criativas serão 
integradas à campanha. Além das redes sociais do FBSSAN, a mobilização 
ocorrerá nos sites das instituições parceiras.
Comida é mais que nutriente
Em todo o Brasil, existem famílias agricultoras que 
estão envolvidas com a conservação da nossa biodiversidade e a 
valorização dos alimentos regionais. A urgência em defender o patrimônio
 alimentar brasileiro encontra apoio nas organizações e movimentos 
sociais que lutam para preservação desses bens, além das políticas 
públicas de salvaguarda adotadas desde a década de 90.
“Precisamos conhecer e valorizar essas experiências”, sinaliza Vanessa. A Associação Slow Food,
 por exemplo, possui um catálogo internacional chamado Arca do Gosto, 
que documenta e divulga alimentos que estão em risco de extinção. No 
país, já foram catalogados 28 alimentos tradicionais que devem ser 
preservados. Entre eles, estão o arroz vermelho do Vale do Piancó, na 
Paraíba; a cagaita (fruta do Bioma Cerrado) do Caxambu, em Pirenópolis 
(GO); a bijajica (bolo cozido no vapor com massa de mandioca, amendoim e
 açúcar) do litoral de Santa Catarina; e o néctar das abelhas nativas 
dos índios Sateré-Mawé, no Amazonas. Com a preservação, valorização e 
divulgação, é possível assegurar modos de viver, culturas, tradições, 
economias locais, saberes, e a biodiversidade nacional.
O modo de comer atual é marcado pela padronização do 
gosto, com grande oferta de alimentos artificiais (feitos à base de 
químicos, corantes e acidulantes), envenenados por agrotóxicos e 
transgênicos, prontos para o consumo. Hoje, os hábitos são construídos 
nas agências de publicidade e marketing das indústrias alimentícias. A 
assessora da OnG FASE e presidente do Conselho Nacional de Segurança 
Alimentar (Consea), Maria Emília Pacheco, reforça que os alimentos 
artesanais são prejudicados por legislações sanitárias que usam 
parâmetros para uma produção industrial.
A comida vai além do nutriente e aspectos sanitários que
 conferem segurança para o consumidor. É fundamental reconhecer a 
necessidade de adotar uma concepção de qualidade baseada no respeito às 
práticas alimentares regionais. As atuais normas sanitárias padronizam a
 produção, descaracterizando os conhecimentos tradicionais, símbolos da 
cultura e história de um povo.“Precisamos rever essas normas, que são 
verdadeiros instrumentos autoritários”, afirma Maria Emília. O Fórum se 
une a outros parceiros para reivindicar a revisão dessas normas, 
conforme a “Carta Aberta à Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
(Anvisa), em favor da produção artesana, familiar e comunitária e da 
alimentação saudável”, que pode ser lida no Sigulink http://goo.gl/xcJC6Q
Com a campanha, espera-se ampliar os olhares e o diálogo
 em torno do alimento e suas representações. Assim, é possível garantir 
maior autonomia às famílias, no cuidado da saúde e na redução da 
dependência da indústria alimentícia e farmacêutica. “Lutar por normas 
sanitárias mais inclusivas e adequadas à produção de base familiar e 
artesanal, contra o uso de sementes transgênicas e contra a concentração
 do mercado é defender um de nossos maiores patrimônios. 
Precisamos nos 
mobilizar”, alerta Vanessa.
Nesse sentido, a carta política do FBSSAN aponta que a 
agroecologia tem se firmado como o melhor meio de produção de alimentos 
saudáveis. Esse modelo agrícola respeita e promove a diversidade social,
 biológica e cultural. Com isso, “traz benefícios para toda sociedade e 
para o planeta, garantindo o acesso a esses alimentos por gerações 
futuras”, informa o documento. Maria Emília acrescenta que a agricultura
 familiar agroecológica é um caminho de resistência porque traz o 
princípio da diversificação alimentar para romper com a monotonia das 
dietas. “Precisamos apoiar essas experiências que não usam agrotóxicos, 
que realizam o manejo sustentável dos bens da natureza e que resgatam as
 sementes crioulas (nativas). É urgente valorizar as diferentes 
tradições culinárias e ter em conta o valor cultural da comida, pois 
corremos o risco de perder a memória alimentar do país. Assegurar o 
direito humano à alimentação também implica nisso, em garantir o direito
 ao gosto”, afirma.
Em defesa do patrimônio alimentar
É fundamental enfrentar as contradições do sistema 
alimentar moderno para preservar o que se come, quando se come, com quem
 se come. O Fórum, por meio de sua carta política, questiona a estrutura
 desse sistema por apresentar um modelo agrícola baseado na monocultura 
de grande escala, com elevado uso de agrotóxicos. Existe ainda a questão
 do controle exercido por um reduzido número de corporações desde a 
produção até o varejo. No campo da saúde, nota-se padrões de consumo 
prejudiciais estimulados por uma publicidade de alimentos dirigida ao 
público infanto-juvenil, como se verifica a partir dos altos índices de 
doenças crônicas, incluindo o aumento do sobrepeso e da obesidade em 
crianças e adultos. Tais fatores associados constituem uma crise 
alimentar global que ameaça a soberania e segurança alimentar dos povos,
 colocando em risco a agrobiodiversidade.
A campanha Comida é Patrimônio pretende estimular
 a reflexão entre comer e preservar e, por isso mesmo, contribuir para 
valorizar a sabedoria popular e as culturas alimentares regionais 
tecidas pelas gerações. Este é um convite para disseminar e mobilizar, 
por meio das redes sociais, a importância da comida como bem material e 
imaterial; afeto, identidade e memória; diálogo de saberes e sabores; e 
os modos de viver, produzir, e comer.
Compartilhem as paginas: El Cocinero Loko:
Sotoko: Serviço de Buffet e Catering de Cozinha Afro-Baiana.

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