terça-feira, 8 de setembro de 2015

Investimentos em tecnologia e equipamentos fortalecerão produção de caprinos

Símbolo da pecuária nordestina, o caprino é encontrado em grande parte das unidades de produção familiar em todo Semiárido. Segundo o IBGE (2011), o Brasil possui 9,39 milhões de cabeças e a Bahia responde por 29,21% desse efetivo
A linha de Queijos de Cabra é produzida na Fazenda Mandacaru, em Castro Alves na Bahia. São produtos artesanais e finos, feitos para paladares mais exigentes.

O sistema de criação na Bahia ainda é bastante rudimentar, com pouco incremento tecnológico, baixa qualidade genética dos rebanhos, baixos índices zootécnicos, dentre outros aspectos.
Contudo, apresenta-se como uma cadeia produtiva com elevada potencialidade em virtude das boas condições de aceitação da carne, leite e seus derivados pelo mercado.
Atualmente, na Bahia, a implantação de frigoríficos especializados para o abate de caprinos tem permitido expandir este consumo para novos nichos da população, assim como a produção de derivados de leite pelos laticínios que processam/industrializam o leite caprino.


No que tange a produção de leite de cabra, o Território do Sisal, localizado no Semiárido baiano, possui larga experiência em virtude de ter iniciado a produção nos anos 90.
O presente comunicado técnico pretende, em linhas gerais, relatar essa experiência do Território do
Cabra leiteira: • fonte de renda para o sertanejo
Leia também: Cerca de R$ 8,4 milhões estão sendo direcionados pela Codevasf para desenvolver a atividade no semiárido baiano

A CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA DE LEITE NO TERRITÓRIO DO SISAL

No início da década de 1990, no município de Valente, a Associação de Desenvolvimento Sustentável Solidária – APAEB, com o intuito de diversificar a renda dos agricultores familiares da região sisaleira, resolveu fomentar, através de um “fundo rotativo”, a compra dos primeiros caprinos leiteiros na região.
Em paralelo, com recursos oriundos de organizações
internacionais, a APAEB, em 1996, iniciou a construção de
um laticínio específico para processamento e industrialização do leite de cabra, consolidando a visão inovadora e empreendedora da organização.
Em 2001, o laticínio DACABRA passou a produzir iogurtes, queijos e doces sob a orientação de pesquisadores da Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a atual Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
A experiência em Valente fomentou a expansão da cadeia produtiva e, em 2009, a Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares do Território do Sisal – COOPSISAL implantou outro laticínio no Território, localizado no município de São Domingos, conhecido como Laticínio Ouro verde.
Hoje, a caprinocultura é um componente fundamental da agricultura familiar e da própria economia do Território do Sisal, com destaque para os municípios de Valente, São Domingos, Santaluz e Retirolândia. 
De acordo com o IBGE (2011), o efetivo caprino do conjunto dos municípios que compõem o Território é de 253.105 cabeças, o que corresponde 9,23% do rebanho do Estado da Bahia.

Os laticínios DACABRA e OURO

Os laticínios DACABRA e OURO VERDE, juntos, processam cerca de 36.000 litros de leite de cabra por mês, beneficiando 140 famílias da agricultura familiar, com a geração de renda
fruto da cadeia produtiva na ordem de R$ 43.200,00 mil/mês, ou seja, um incremento na renda familiar médio de aproximadamente R$ 300 reais.

SISTEMA DE CRIAÇÃO
Os animais são criados no sistema semiconfinado onde parte
do dia alimentam-se de forrageiras existentes na caatinga ou
pastagem formadas por forrageiras como buffel ou urochloa.
Ao retornar para as instalações, as cabras que estão em ordenha, recebem como suplemento alimentar farelo de milho e soja, como fonte de energia e proteína, respectivamente, e silagem ou feno de resíduo de sisal (abundante na região). 
O resíduo do sisal é um volumoso importante
na região, com ele os agricultores conseguem manter a produção de leite, mesmo nos longos períodos de estiagem.
Nas propriedades familiares as instalações foram adequadas para a produção de leite, obedecendo a critérios técnicos e sanitários.
O manejo sanitário, assim como o manejo reprodutivo e nutricional é orientado por técnicos de
organizações parceiras do laticínio que prestam assistência técnica para todos os cooperados de cada laticínio.

MERCADO
Entre os principais produtos produzidos estão o leite de cabra pasteurizado, iogurte, doce de leite e queijo. 
O principal mercado consumidor localiza-se nas regiões
metropolitanas de Feira de Santana e Salvador. Além desse mercado, os laticínios fornecem o leite pasteurizado, conhecido como “barriga mole”, para programas governamentais como o Programa de Aquisição de Alimento – PAA. PARCERIAS

Os dois laticínios, DACABRA e OURO VERDE, contam com o
apoio de organizações da sociedade civil como MOC, APAEB, Fundação APAEB, FATRES, UNICAFES e do poder público a exemplo da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura – SEAGRI, Secretaria
de Desenvolvimento Social e Combate a pobreza – SEDES, Embrapa Semiárido e da Companhia Nacional
de Abastecimento – CONAB, Serviço de Apoio a Pequena e Micro
Empresa – SEBRAE, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB e Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS.

Apesar de ainda existirem muitas limitações, são notórios os avanços na qualificação dos agricultores, através dos processos de pesquisa, assistência técnica e capacitações, como também na gestão e finanças dos empreendimentos, frutos das parcerias firmadas, assim como a dedicação dos dirigentes de cada laticínio.

OPORTUNIDADES DA CADEIA PRODUTIVA DA  CAPRINOCULTURA
ƒCondições e dafo climáticas favoráveis a criação dos caprinos;
ƒHistórico de criação do caprino de corte por parte dos agricultores

ƒ Mercado em expansão, tanto do setor público quanto do
setor privado; Incremento adicional na renda familiar da unidade de produção;
ƒ Fonte de proteína para a família, principalmente as
crianças; Elevada capacidade de organização dos agricultores;
ƒ Produção em consórcio com a cultura do sisal; Aproveitamento do resíduo de sisal como fonte de alimento para os caprinos.


Cebatsa
O Centro de Capacitação em Bases Tecnológicas para o Semiárido (Cebatsa), em Itaguaçu da Bahia,foi totalmente reformado no ano passado. O investimento, de aproximadamente R$ 710 mil, permitiu a recuperação da estrutura física do centro, que agora está pronto para capacitar técnicos e produtores familiares e realizar pesquisas agropecuárias. 
O espaço tem condições de atender cerca de 500 alunos por ano e já capacitou cerca de três mil jovens e produtores rurais de mais de 25 municípios da região em manejo alimentar, sanitário e reprodutivo de ovinos e caprinos. 
O principal objetivo do Cebatsa é desenvolver tecnologias adaptadas à convivência com o semiárido e disseminar as tecnologias para as pequenas propriedades familiares na região, priorizando aquelas que trabalham com a atividade da caprinovinocultura.
Caprinos e ovinos
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a caprinocultura e a ovinocultura têm se destacado no agronegócio brasileiro. A criação de caprinos, com rebanho estimado em 14 milhões de animais distribuído em 436 mil estabelecimentos agropecuários, colocou o Brasil em 18º lugar do ranking mundial de exportações.
Grande parte do rebanho caprino encontra-se no Nordeste, com ênfase para Bahia, Pernambuco, Piauí e Ceará. A ovinocultura tem representatividade na região Nordeste e no estado do Rio Grande do Sul. Carne, pele e lã estão entre os principais produtos.
A produção de leite de cabra é de cerca de 21 milhões de litros e envolve, em grande parte, empresas de pequeno porte. Já a ovinocultura leiteira no país apresenta potencial para a produção de queijos finos, com alto valor no mercado. 

PRINCIPAIS DESAFIOS DA CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA
Apesar da posição destacada que ocupa a caprinocultura no Território, do empenho dos agricultores e parceiros, há a necessidade de se superar algumas dificuldades de natureza estrutural.
São elas:
Melhorar a produtividade do rebanho leiteiro; Adotar as medidas profiláticas necessárias para a redução da incidência de zoonoses; Introduzir planejamento da unidade familiar de produção, incorporando-se os princípios da economicidade e da preservação ambiental; Otimizar recursos naturais, aproveitando as potencialidades da caatinga; Incorporar tecnologias apropriadas para o sistema de produção; Melhorar geneticamente o rebanho; Adotar medidas de convivência com a seca para assegurar a manutenção da produção nos períodos de estiagens (captação e armazenamento de água, bancos de alimentos etc.); Ampliar a oferta de crédito (PRONAF); Adequar as Leis e Normativas estabelecidas para a produção de leite; Buscar certificações de qualidade
e de origem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cadeia produtiva da caprinocultura no Território do Sisal é um elemento crucial para a manutenção e melhoria das condições de vida das famílias, pela sua capacidade de gerar renda numa região de condições adversas para muitas atividades econômicas.

Há potenciais para aumento da produtividade e da produção, há mercado para os produtos e há um valioso aprendizado por parte dos agricultores e de suas organizações. É relevante, também, para o fortalecimento e consolidação de iniciativas de economia solidária no Território, mas requer o efetivo e decisivo apoio dos governos federal e estadual, seja para ampliar as práticas exitosas já verificadas, seja para suscitar o surgimento de novas o que muito poderá contribuir para a economia local no contexto da agricultura familiar do Território do Sisal.

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