quarta-feira, 24 de junho de 2015

Mangaba pode ser munição no cobate a dengue e da febre chikungunya

Testes no Laboratório de Espectrometria de Massa da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), em Brasília (DF), tenta provar que é possível incorporar nanopartículas de prata na superfície de recipientes
poliméricos (plásticos) e, mais recentemente, demonstramos em vidro também. E isso confere a tais recipientes características semelhantes àquelas observadas para as nanopartículas livres em suspensão”, esclarece o doutor em nanobiotecnologia Luciano Paulino da Silva, coordenador do laboratório. 

“Uma das possibilidades que temos vislumbrado é o emprego de tais superfícies poliméricas funcionalizadas com nanopartículas de prata em pratos de vasos de plantas, os quais por muitas vezes constituem foco de proliferação de larvas de insetos. Essa constitui uma abordagem única e inovadora no combate de larvas de insetos em áreas urbanas”, prossegue o especialista. 
Outras possibilidades incluem conjugar tais sistemas em armadilhas para insetos, para um combate direto; desenvolver pulverizadores para aplicação direta em locais contendo as larvas ou, ainda, diferentes combinações das opções anteriores.
“Mas não em caixas de água destinadas para consumo humano, de plantas ou animais”, observa o pesquisador, ponderando que ainda seriam necessários muitos testes de toxicidade e de campo antes de partir para esta alternativa. Luciano Paulino orienta o mestrado da bioquímica Luciane Dias da Silva, que trabalha na caracterização e na imobilização das nanopartículas de prata obtidas por síntese verde com extratos de mangaba e estuda sua atividade biológica no combate às larvas dos mosquitos Aedes e também de outros seres potencialmente prejudiciais à saúde ou à agricultura como fitonematoides, leveduras, fungos filamentosos e bactérias. Os resultados são promissores, mas também pedem mais testes para ser validados e outros ensaios de atividade biológica para ser expandidos.

“Na realidade, o que o extrato da mangabeira faz é possibilitar a reação em um ambiente redutor, o qual propicia a formação de nanopartículas de prata metálica em meio aquoso, a partir de seus íons metálicos”, detalha o coordenador do estudo. “A aplicação somente do extrato das partes da planta foi conduzida como controle, mas não foi eficaz nos ensaios de toxicidade in vitro”. Ou seja, as nanopartículas têm uma eficácia que o extrato da planta não apresentou.
Luciane deve concluir seu mestrado no próximo mês de dezembro, com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF). A pesquisa prosseguirá e continuará contando com o envolvimento direto dos atuais parceiros, os pesquisadores Vera Lúcia Perussi Polez, Thales Lima Rocha, Eduardo Fernandes Barbosa e Rose Monnerat; o doutorando Marcelo Ramada e a doutoranda Cínthia Caetano Bonatto. E a participação da empresa TecSinapse, responsável pelo desenvolvimento de ferramentas de Tecnologia da Informação e de um simulador para condições de síntese dos nanossistemas.
Segundo Luciano Paulino, a pesquisa ainda incluirá testes com diversos tipos de materiais, incluindo cerâmicos e metálicos. As superfícies desses materiais podem nos parecer lisas, mas apresentam “uma rugosidade imperceptível aos olhos, por estar na nano e na microescala. Essa mesma rugosidade serve como ancoramento e superfície de adsorção para as nanopartículas produzidas”, diz. Adsorção com d, vale lembrar, não é um erro de digitação, mas é a adesão de átomos, íons ou nanopartículas a uma superfície, devido a um processo de interação química ou física.
A utilização dessa tecnologia (rotas de síntese verde de nanopartículas metálicas) tem como principal vantagem o fato de “tornar possível a redução de íons até partículas em um ambiente aquoso e na ausência de bases fortes e de solventes orgânicos potencialmente nocivos ao meio ambiente”, observa Luciano Paulino da Silva.
A principal desvantagem, por enquanto é a dificuldade de reproduzir em escala industrial o que foi feito em laboratório. Mas a equipe do Cenargen está atenta ao desafio, em busca de “rotas mais reprodutíveis e menos empíricas, além de escalonáveis”.
Os mosquitos que aguardem! Aí vem mangaba em doses letais, apesar de invisíveis!

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