sexta-feira, 17 de abril de 2015

INCA recomenda redução progressiva do uso de agrotóxicos

Instituto defende que uso de agrotóxicos aumenta o risco de câncer e pode causar outros problemas de saúde.

Foto Claudia Kusch

O Instituto Nacional do Câncer (INCA), órgão do Ministério da Saúde, se posicionou pela 1ª vez pela diminuição do uso de agrotóxicos. Ele recomendou o estabelecimento de ações que visem à redução progressiva e sustentada do uso de agrotóxicos, como está previsto no Programa Nacional para Redução do uso de Agrotóxicos.             

Em substituição, o INCA apoia um modelo que otimize a integração entre a capacidade produtiva, uso e conservação da biodiversidade e dos demais recursos naturais essenciais à vida. Isto porque este modelo, de acordo com o INCA, além de incentivar a produção de alimentos livres de agrotóxicos tem como base o equilíbrio ecológico, a eficiência econômica e a justiça social, fortalecendo agricultores e protegendo o meio ambiente e a sociedade.

Agrotóxicos e a saúde
De acordo com o INCA, uso de agrotóxicos pode causar intoxicações agudas e crônicas. As agudas são aquelas que afetam principalmente pessoas expostas em seu ambiente de trabalho e são caraterizadas por: irritação da pele e olhos, coceira, cólicas, vômitos, diarreia, espasmos, dificuldades respiratórias, convulsões e morte. Já as intoxicações crônicas, segundo o INCA, podem afetar toda a população. Isto porque elas são decorrentes da presença de agrotóxicos nos alimentos e no ambiente, geralmente em doses baixas.

Os efeitos da exposição crônica aos agrotóxicos podem aparecer muito tempo depois, o que dificulta a relação com os agrotóxicos. Entre as consequências da exposição crônica a ingredientes ativos de agrotóxicos estão: infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer.

Agrotóxicos e o câncer
Em março de 2015 a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer publicou um estudo após a avaliação da carcinogenicidade de cinco ingredientes ativos de agrotóxicos por uma equipe de pesquisas de 11 países. Eles classificaram que o herbicida glifosato, os inseticidas malationa, diazinona, tetraclorvinfós e parationa como possíveis agentes carcinogênicos. Sendo que a malationa, a diazinona e glifosato são autorizados e amplamente usados no Brasil, de acordo com o INCA.

Os agrotóxicos nos alimentos

Os últimos resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos da Anvisa revelou amostras com resíduos de agrotóxicos em quantidades acima do limite máximo permitido e com a presença de substâncias químicas não autorizadas para o alimento pesquisado. Também foi observada a presença de agrotóxicos que estão em processo de banimento pela Anvisa ou nunca tiveram registro no Brasil.

O INCA destaca que a presença de resíduos agrotóxicos não ocorre apenas nos alimentos in natura, mas também em muitos produtos alimentícios processados pela indústria, como biscoitos, salgadinhos, pães, pizzas, cereais matinais, lasanhas e outros que tem como ingredientes o milho, o trigo ou a soja. Os agrotóxicos também podem estar presentes em carnes e leites de animais que se alimentam de ração com traços de agrotóxicos.

Por isso a preocupação com os agrotóxicos não deve significar a redução do consumo de frutas, legumes e verduras. Estes alimentos são essenciais para a alimentação saudável e de grande importância para a prevenção do câncer. Contudo, é importante ingerir esses alimentos sem agrotóxicos. Veja outros benefícios dos alimentos orgânicos quando comparados com aqueles que tem agrotóxicos:  

1. Animais e derivados convencionais:

os animais sem criação orgânica podem receber ração ou alimentos produzidos com o uso de agrotóxicos e adubos químicos, além de receberem algum tipo de hormônio para se desenvolverem mais rapidamente até a fase de abate.

2. Animais e derivados orgânicos: 

os animais e derivados ditos orgânicos são aqueles que, desde o nascimento, recebem rações livres de agrotóxicos e adubos químicos e não tomam qualquer tipo de antibióticos ou hormônios de crescimento. "Com exceção das vacinas, obrigatórias, os tratamentos veterinários dispensam ingredientes sintéticos. Só remédios fitoterápicos e homeopáticos são empregados", explica o nutrólogo Roberto Navarro. 

Nutrientes dos alimentos convencionais:

como sofrem ação de radiações ionizantes (utilizadas para esterilizar, pasteurizar, desinfetar e inibir a germinação dos alimentos), eles retêm mais água, perdendo a integridade nutricional.

Nutrientes dos orgânicos: 

"Os orgânicos são superiores em relação aos alimentos convencionais tanto do ponto vista nutricional quanto toxicológico, já que não foram tratados com agrotóxicos sintéticos", afirma a nutricionista Roseli Rossi, da Clínica Equilíbrio Nutricional. Existem pesquisas em andamento para avaliar se os orgânicos têm mesmo uma riqueza nutricional maior. Já foi comprovado que o cultivo especial preserva um teor maior de nitratos, vitamina C e compostos fenólicos, úteis no sistema imune do organismo. 

Aparência dos alimentos convencionais:

no geral, eles são maiores e mais bonitos, aparentando serem mais saborosos. "O uso de agrotóxicos protege o alimento de agressões externas, preservando melhor a cor, o brilho, a textura e o crescimento", explica a nutricionista Roseli Rossi.

Aparência dos orgânicos: 

Isentos da barreira dos agrotóxicos, os alimentos orgânicos tendem a ser menores, com uma aparência mais mirrada. Isso também vale para as carnes e alimentos de origem animal, já que eles também não terão os hormônios de crescimento injetados. 


Tradicionais e hidropônicos: 

É comum pensar que os alimentos hidropônicos, por serem cultivados de forma diferente (dentro de tubos plásticos por onde a água circula continuamente, em vez da terra) também são mais naturais. Nada disso: esses vegetais recebem fertilizantes químicos para absorver os nutrientes dissolvidos na água e assim se desenvolverem. "E isso foge completamente ao conceito de cultivo orgânico", afirma a nutricionista.


Orgânicos: são totalmente livres de agrotóxicos, antibióticos, hormônios, anabolizantes e outras práticas que podem prejudicar o sistema imunológico em longo prazo. 



Preço dos alimentos convencionais:

por serem produzidos em grande escala e não dispenderem de grandes cuidados para o seu cultivo, os alimentos convencionais tendem a ser mais baratos.

Preço dos orgânicos: por serem produzidos em pequena escala e por terem um custo de produção mais caro, o preço do orgânico aumenta. 

Presença de agrotóxicos nos alimentos convencionais:

estudos recentes desenvolvidos pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) fizeram uma lista com os alimentos que mais acumulam agrotóxicos: pimentão, uva, pepino, morango e couve estão no topo do ranking e devem ser bem higienizados antes do consumo. Inseticidas e outros agentes tóxicos causam sérios danos ao sistema endócrino, interferindo na produção, liberação, transporte e metabolismo dos hormônios. Roberto Navarro explica que a exposição a esses agentes químicos também superestimula o sistema imunológico, levando a um processo crônico de inflamação - o que pode servir de gatilho a doenças como câncer, diabetes e obesidade, além de problemas na tireoide e no aparelho reprodutivo do homem e da mulher.

Presença de agrotóxicos nos orgânicos: apesar de mais caros e com uma aparência não tão boa, os orgânicos estão livres dessas substâncias e não trarão riscos à sua saúde.


Higiene dos alimentos convencionais:

não é possível descontaminar completamente um alimento que sofreu a ação de agrotóxicos. Mas, no caso das frutas, legumes e verduras, o ideal é retirar as cascas e folhas externas, contribuindo para a redução de resíduos presentes apenas na superfície.

A utilização de hipoclorito de sódio e de água sanitária (uma colher de sopa dissolvida em um litro de água é suficiente para higienizar até dez alimentos) é o melhor método de descontaminação. Roseli Rossi dá a dica: "Lave os alimentos em água corrente, higienize-o em solução de hipoclorito ou água sanitária, enxague novamente, seque o excesso de água com um pano limpo e deixe escorrer." O ideal é consumir alimentos da época que, normalmente, recebem uma carga menor de agrotóxicos.

Higiene dos orgânicos também é necessária: "Orgânico não significa higienizado, esses alimentos devem ser higienizados assim como os convencionais", conta Roseli. O selo orgânico garante que o alimento não recebeu agrotóxicos, mas pode ter sido borrifado com pesticidas naturais ou ter recebido insetos durante o armazenamento. Para higienizar o orgânico, basta lava-lo em água corrente. 


Alimentos convencionais e a dieta:

a exposição a agrotóxicos interfere na atividade de alguns neurotransmissores cerebrais. "Em decorrência disso temos distúrbios de comportamento e também resistência à perda de peso", explica a nutricionista Roseli Rossi. Sendo assim, o consumo de agrotóxicos pode, indiretamente, dificultar a perda de peso.

Orgânicos e a dieta: a alimentação orgânica não emagrece, como algumas pessoas chegam a pensar. Mas a origem mais saudável dos alimentos contribui para que sua alimentação tenha mais qualidade e favoreça o organismo, de modo geral. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário