sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana

Verbete-F Fato de Moqueca


Segundo registros de muitos pesquisadores a atividade da venda de miúdos,  nas ruas da Bahia, era um oficio eminentemente feminino, chamados de  Fateiras ou Marchantestalvez herança das relações escravistas, com o passado africano que marcava essa atividade com signos de desprestigio social, também com hábitos da cultura ibérica.
Também chamada de Moqueca de Crespinho, moída em maquina de passar carne, onde se acrescenta camarão seco, cheiro verde, pimentas e leite de coco. 

Segundo o trabalho da historiadora Maria Aparecida Prazeres Sanches
“SOBRE O CHÃO DE SALVADOR”. Mercado de trabalho, hierarquias raciais e relações de gênero (1900-1940), nos da uma pequena mostra das relações hierárquicas e sociais na cidade da Bahia.
O pequeno comércio ambulante na Bahia, carecia de parcos recursos e pouca ou nenhuma escolarização, constituía-se em uma atividade mais “democrática”, absorvendo um grande número de homens e mulheres, quase todos não brancos que viviam de vender suas mercadorias pelas ruas da cidade. 

Ha registros deste comercio feito por mulheres em Portugal dos fragmentos da matança de porcos, que tem por nome miúdos tripas e na Espanha, Casquerias ou Galinejas , onde eram mercados por homens nas ruas das cidades.


Em 1917 A Cidade, sob o titulo de “As vendedeiras de cocada no Cabeça”, relatou a vendagem dessa iguaria baiana numa rua do centro, a do Cabeça, ao 2 de Julho. Segundo o articulista: As vendagens de cocada nesta capital, têm fascinado muitas das nossas mulheres do povo. Nem todas resistem à laboriosa mania de vender cocadas. Pelas ruas, avenidas e nos mais longínquos pontos urbanos, ellas ahi estão, com os seus turbantes exóticos, amarfanhados na cabeça, a bandeja exposta na calçada, abarrotadas de ‘bonbons” feitos de rapadura e côco. 

No Cabeça, então, é que as ‘yayás’ organizaram a sua feira de guloseimas, a maior feira de cocadas que temos visto na Bahia. Disse-nos uma sorrindo, quando pornós interpellada, sobre a venda dos seus produtos ‘mélificos’: - Ah! Yoyô, eu não gosto de gente branca porque é má e só quer acabar com nosso ‘negociação’... Veja que isto constitue o nosso meio de vida. O que nós dá alguns vinténs. Vendemos muito, yoyô. E começou a contarolar uma trova de ‘samba’, que nos trazia à evocação o anoitecer ardente das terras africanas. (BPEB:1917) 

Também em  Ruth Landes (2006:54), no seu primeiro contato com a população negra de Salvador, descreve as mulheres que trabalhavam numa Feira na Cidade Baixa como “pretas de saias e torsos coloridos e blusas brancas (...). Eram, em geral, mulheres velhas, na aparência robusta, confiantes em si mesmas, profundamente interessadas no trabalho do momento. Geriam açougues, quitandas, balcões de doces e frutas e as barracas onde vendiam especiarias, sabão contas e outras especialidades vindas da costa ocidental da África”.


A ligação desse pequeno comércio com o passado africano marcava essa atividade com signos de desprestigio social, e aqueles a ele dedicados eram constantemente acusados de enfear a cidade. Sob o titulo de “Os Aspectos feios da Urbs - Vestigios de Colonia”, o A Cidade renovava suas duras críticas à presença desse comércio nas ruas de Salvador: ... É um dos abusos que devem desaparecer. As Feiras do Largo 2 de Julho, na Ribeira de Itapagipe, na Conceição da Praia, na Baixa dos Sapateiros, na Fonte Nova,etc. Em certas ruas, como na do Maciel, por exemplo, ‘africanas’ vendem, em ‘gamellas’ immundas, immundas ‘bugigangas’...(BPEB, 1918) Porém, em que pese a importância das mulheres negras no tradicional comércio de alimentos nas ruas da cidade, os dados consultados a partir dos processos de defloramento que serve de base a esse estudado, vemos um percentual significativamente maior de homens e não de mulheres nas atividades comerciais como um todo.

Para o historiador Ferreira Filho (2003:42), que analisou os documentos de arrecadação municipal, demonstrou que a forma desses dados serem registrados não permite uma avaliação quantitativa da relação entre os sexos, computando dos 604 vendedores ambulantes que pagaram tributos, apenas 35 mulheres, inferida pela sua atividade de fateiras. 
Relatos sobre mulheres com seus tabuleiros frequentes nos jornais baianos e em textos de memorialistas. No comércio de rua ou ambulante, mulheres de cor, sentadas ao chão com seus tabuleiros vendiam doces, cocadas, pasteis, puxa, beijus, uma imagem comum no cotidiano da feira. A ligação desse pequeno comércio, a elementos africanos, onde trabalhadores de ganho exerciam essas atividades ocupando as vias públicas, exibindo as tarefas de homens e mulheres de cor.
 Nesse fragmento notamos que Apolinária diferentemente de outras tantas doceiras tinha um “canto” (lugar), para comercializar sua puxa, que a destacava naquele espaço. 
Lá como lembrou Boaventura, “gritava à preta, fanhosamente para dar mais ite à mercadoria”, “Eh! Puxa!... eh! Puxadinha!...” ( BOAVENTURA, 2006, p.79.) 
Ao gritar, fanhosamente, na porta do armazém chamando atenção para a puxa, ela se destacava entre as várias vendedoras de quitutes. Fato que aparentemente não incomodava o dono do armazém, Juca Suzart, comerciante de ascendência franco-judia, que chegou a cidade na década de 1910. 
É provável, Apolinária já houvesse se estabelecido no local antes mesmo de Suzart. Ainda sobre a puxa, de Apolinária, escreveu Boaventura, dividia o tabuleiro em vinténs. 
Puxa gostosa!... Pareciam vinténs de carne de uma mulatinha dengosa, que a gente encontrava, catando lenha, lá no Alto do Cruzeiro, pelo mato do Sobradinho. De certo, o velho companheiro e primo [...] há de lembrar-se desta similitude.... (BOAVENTURA, 2006, p. 78- 79). 
Nesse fragmento possibilita dizer que há uma associação entre o produto a figura da mulher, estimulando a erotização. Assim o desejo sexual, era iniciado e alimentado pelos jovens abonados, que de certa forma, expressava um comportamento coletivo, o qual exibia e via a mulher, preta, parda ou mutala, como sexualmente acessível aos homens de posses.

Como também, permite vislumbrar o cotidiano de meninas e mulheres de cor, pois tinham que catar lenha, para realizar uma diversidade de atividades, a exemplo, da fabricação do sabão pelas lavadeiras, da limpeza das vísceras pelas fateiras, da preparação dos alimentos pelas doceiras, além da lenha em todas as residências. 

Moqueca de Fato e direito:
Ingredientes

1kg de Fato tratado e passado na maquina 
400gr de camarão seco
leite de coco de 01 coco

1/2 xícara de azeite de dende

Para temperar o fato
1 1/2 cebola machucados
2 dentes de alho amassados
pimenta cominho
coentro a gosto

Modo de Preparo:
Trate o fato e deixe- o por 05 minutos na água com limão ou vinagre.

Logo após tempere ele com a cebola, o alho, o coentro e a pimenta cominho.

Coloque o azeite de dendê numa panela de pressão deixe-o esquentar e em seguida refogue o fato.

Depois coloque o camarão q foi triturado e o seco mais o leite de coco e sempre vá prestando atenção se a moqueca ficar com pouco caldo e o fato estiver ainda duro pode por um pouco d agúa.

Estará pronto quando o fato estiver cozido. 
Sirva com arroz branco e molho de pimenta

Fontes:
Ferreira Filho, Alberto Heráclito. Quem pariu e bateu que balance! Mundos Femininos, maternidade e pobreza em Salvador, 1890-1940

Soares, Cecilia Moreira. "Ganhadeiras: mulheres e resistência negra em Salvador no século XIX. In:Afro-Asia-Centro de estudos Afro-Orientais, Salvador



Prazeres Sanches, Maria Aparecida. No agreste das mulheres
a alforria no quotidiano da escravidão feminina (Feira de Santana, 1850-1888)

“SOBRE O CHÃO DE SALVADOR”. Mercado de trabalho, hierarquias raciais e relações degênero (1900-1940).  


EXPERIÊNCIAS DE MULHERES EM FEIRA DE SANTANA (1890 - 1920)Rejanne do Carmo Ramos

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